quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Breves noções sobre Mediunidade


Alguém saberá dizer-me o que escondo na minha mão?

O desconhecimento não significa que algo não existe. Mas existem pessoas que serão capazes de saber a reposta, porque conseguem ver o que muitos outros não conseguem.

Como todos sabemos, o ser humano possui 5 sentidos, que lhe conferem a aptidão para interpretar o mundo á sua volta, através da Audição, do Tacto, do Paladar, do Olfacto e da Visão. E a este conjunto de sentidos, chama-se o sistema sensorial. Mas acontece que, paralelamente, existem mais coisas no mundo cuja leitura e percepção, são ultrapassadas por estes sentidos, como por exemplo as percepções que advém da nossa intuição ou 6º sentido como muitas vezes é designado. Este tipo de percepções, são designadas como extra sensoriais, isto é, ultrapassam os nossos 5 sentidos físicos e entram noutros universos ou dimensões.
A ciência diz-nos recorrentemente que o ser humano só utiliza 10% do seu cérebro e que no nosso corpo (sendo uma das grandes obras de Deus) ainda tanto falta por descobrir, sobretudo no que diz respeito ao seu funcionamento mental e psicológico. E é a este nível, que hoje vou debruçar-me sobre um tema extraordinário e extremamente complexo que é a mediunidade.

O tema da palestra de hoje é: Breves noções sobre Mediunidade.

Resumidamente, a mediunidade é uma faculdade que permite a comunicação entre espíritos encarnados e desencarnados, e tem sido desde os mais longínquos tempos, alvo de extrema curiosidade e estudo. Posso dizer-vos que sobre este tema, ainda hoje o desconhecimento é enorme. E isso tem levado a muitas más interpretações, mitos e medos completamente desmedidos e fantasiosos.

O mundo visto pelos nossos olhos, é a 3 dimensões (ex: Altura, Largura e Comprimento) e são essas dimensões que dão as formas básicas a todos os objectos. Ainda podemos juntar uma 4ª dimensão, que é o Tempo. Mas acontece que a ciência já provou a existência de pelo menos 11 dimensões (através da Teoria das Supercordas), mas antes disso já Kardec nos falava da existência de inúmeras dimensões. Posso dizer-vos que o universo que nós conhecemos é uma pequeníssima fracção do universo global. Tenho plena consciência de que o que vos estou a dizer é algo de difícil entendimento, pois para maioria das pessoas o que se chama de universo, acaba somente por ser o seu pequeno mundo. Muitas vezes só aquele que elas podem e conseguem ver.
Este pequeno apontamento de ciência serve-me para vos mostrar que apesar de não virmos algumas coisas, não quer dizer que elas não existam e que não podemos interagir com elas.

Jesus um dia disse: “Existem muitas moradas na casa do meu Pai”, o que do ponto de vista espiritual vem demonstrar o que a ciência tem vindo a descobrir a passos muito lentos. Porque sabemos que é impossível dissociar o espírito do corpo, e se o cientista descobre muitas coisas é porque o seu espírito reúne já muito saber e inteligência. E nós sabemos que o espírito é o princípio individual da inteligência universal.

Aqui, não estudamos a ciência dos números, nem da física, nem tão pouco as dimensões espaciais. O nosso estudo está baseado nas duas simples dimensões da vida (ou planos): a física e espiritual. O plano espiritual, está longe do alcance da nossa visão (pelo menos para a grande maioria dos encarnados), mas nem por isso temos dúvidas que ele existe e temos plena consciência da sua existência. E entre estes dois planos é possível estabelecer canais de comunicação, sendo aqui que começa a grande odisseia da mediunidade.

Mas afinal o que é a mediunidade?

Desde os tempos mais remotos se ouviu falar de pessoas que comunicavam com espíritos. No antigo Egipto, chamavam-lhes Magos. Os Celtas chamavam-lhes Druidas. Na Grécia antiga e no império Romano, denominavam-nos como sibilas, Pitonisas e pitons. Na idade média, eram os bruxos. Hoje, são chamados de médiuns. Os fenómenos mediúnicos, no passado remoto, eram tidos como maravilhosos, sobrenaturais, sob a feição fantasiosa dos milagres que lhe eram atribuídos em razão do desconhecimento das leis que os regem. Aqueles que podiam manter intercâmbio com o mundo invisível eram considerados privilegiados ou excepcionais.
Lembro-vos que Kardec quando iniciou a Codificação, assistiu a várias sessões de “mesas girantes”, que à época eram os divertimentos privados que alguns médiuns se predispunham a fazer e que muito pouco para lá disto se enveredava nos caminhos do estudo e exercício da mediunidade séria.

Mas devo dizer-vos que a mediunidade é algo inerente a todos nós, não é algo exclusivo a esta ou aquela pessoa. Todos nós somos médiuns e o que nos distingue é a maior ou menor organização sensorial de cada um, possibilitando uma maior ou menor predisposição para os contactos com a esfera espiritual.

Nos escritos sagrados, encontramos muitas referências a aspectos relativos à mediunidade, dou-vos como exemplo uma passagem do evangelho de S. Mateus onde se lê esta narrativa:

Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Portanto, sejam prudentes como as serpentes e simples como as pombas. Tenham cuidado com os homens, porque eles vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas. Vocês vão ser levados diante de governadores e reis, por minha causa, a fim de serem testemunhas para eles e para as nações. Quando vos entregarem, não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, vos será sugerido o que vocês devem dizer. Com efeito, não serão vocês que irão falar, mas sim o Espírito do Pai é quem falará através de vós”. 

Esta passagem, mantém-se tão actual como fora dita quando Jesus andou entre nós. Hoje bem sabemos, que quem possua uma mediunidade mais ostensiva ou notória, é muitas vezes visto pelos outros como sendo alguém de estranho, bizarro, doente ou completamente “avariado das ideias”. Mesmo ainda hoje com a informação e conhecimento que existe sobre o assunto, muitas pessoas teimam em olhar para o lado e denegrir quem tem como missão ajudar-se a si e aos outros.

Partilho agora uma mensagem de Joana de Angelis, psicografada por Divaldo Franco:

"Mediunidade espírita, porém, é a que faculta o intercâmbio consciente, responsável, entre o mundo físico e o espiritual, facultando a sublimação das provas pela superação da dor e pela renúncia às paixões, ao mesmo tempo abrindo à criatura os horizontes luminosos para a libertação total, mediante o serviço aos companheiros do caminho humano, gerando amor com os instrumentos da caridade redentora de que ninguém pode prescindir".

A mediunidade ostensiva não é um dom, mas sim uma difícil prova no caminho do progresso e evolução de quem a possui. O preço a pagar pela mediunidade é por vezes muito grande, pois muitas pessoas optam por ignorá-la e nem sequer se darem ao trabalho de entender a excelente ferramenta que Deus lhes concedeu para tanto ajudarem os outros como a si mesmos. Por isso carregam consigo grandes sofrimentos físicos e mentais, bem como grandes desilusões, pois não estão a fazer o uso devido à sua faculdade, para seu próprio bem e bem do próximo.
Através da mediunidade, mais simples ou mais complexa, se assim posso dizer, o ser humano dispõe de um meio extraordinário de evolução e aperfeiçoamento, pois se utilizada em Bem, com Amor, com espírito de sacrifício e abnegação, permite que grandes ensinamentos venham até nós e mais do que isso um grande contributo de evolução moral e intelectual, tanto para o médium, como para todos nós.
Ser possuidor de uma mediunidade ostensiva, deve de ser visto como uma benesse divina, pois é uma ferramenta que Deus colocou à disposição do médium que lhe permite limpar as dívidas do passado, de reencarnações anteriores e por isso deve de ser utilizada para reequilibrar-se no seu processo de evolução moral e espiritual.

Tenhamos consciência que o conhecimento que existe neste planeta está muito aquém do pleno conhecimento que existe no universo. Através da mediunidade, é possível obter mais conhecimento, mais informação que nos está vedada á nossa condição física e planetária, pois este planeta ainda é muito limitado. Mas também ser possuidor de mediunidade, não é por si só sinónimo de poder ter acesso aos espíritos superiores. É fundamental a condição moral do médium no desenvolvimento da sua mediunidade para poder ser transmissor de informações superiores e não ao nível da materialidade.

Allan Kardec, através do Livro dos Médiuns, descreve assim os médiuns:

“Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. (...) Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns.”

É necessário termos atenção e cuidado com o que achamos que pode ou não ser uma faculdade mediúnica mais desenvolvida. Das muitas formas que existe de mediunidade, as mais simples são as sensitivas e a intuição. Dou como exemplo: Sentirmos presenças não visíveis ou quando as ideias surgem na nossa cabeça assim do nada. Ou por exemplo que temos de ir por aquele caminho sem saber bem porquê, mas a isso quase nos sentimos obrigados. Estes são singelos exemplos das influências dos espíritos sobre o nosso quotidiano. Muitos mais existem, obviamente.
A aquisição de conhecimento é fundamental para se distinguir minimamente o que é a imaginação de uma acção espiritual. É fundamental instruirmo-nos. É fundamental sermos esclarecidos.

Uma forma simples de mediunidade é por exemplo uma interacção por via da oração. Dou-vos como exemplo: Oramos a pedir ajuda por alguma situação e somos ajudados. Esta é a forma mais básica de mediunidade, pois falamos com a dimensão espiritual por via do pensamento e o outro lado ouve-nos e interage connosco ajudando-nos de alguma forma. Esse simples laço feito por via do pensamento, faz de nós sensíveis às interacções dos espíritos desencarnados. É a nossa faculdade mediúnica mais básica em funcionamento pleno.

O pensamento é o veículo que se utiliza na interacção entre os dois planos, físico e espiritual.

Sobre o bom ou mau da mediunidade, devo dizer-vos antes de mais que, Deus não faz nenhuma distinção entre nós sobre quem pode ou não ter uma mediunidade mais desenvolvida ou ostensiva. Pois tanto as pessoas boas como as menos boas, podem possui-la.
A grande questão é que ser possuidor de uma mediunidade mais desenvolvida, esta deve de ser utilizada como meio de ajudar o próximo, em Bem, sob os desígnios do Amor e em cumprimento das Leis de Deus e servirá para o seu possuidor de um grande meio de evolução espiritual. Mas por outro lado, se esta for mal utilizada, o castigo será também ele muito grande, pois quando desencarnar, a sua consciência irá consumi-lo ardentemente por não ter feito bom uso dessa faculdade e apesar de não regredir espiritualmente, será condenado por si próprio pelo mal que trouxe aos outros.

O desenvolvimento da mediunidade deve de ser feito de forma instruída e progressiva, com especial atenção à condição moral, pois esta ditará muito a condição vibratória do individuo e assim o tipo de espíritos que irão na sua maioria interagir com o médium. Um médium com bom coração e boa vontade, será acompanhado e auxiliado por bons espíritos. O contrário também é verdade.

É também muito importante para o médium, saber o que se passa consigo mesmo, saber como funciona a sua faculdade, pois a estabilidade da sua condição mental, psicológica e física dependem muito disso. Uma mediunidade não acompanhada, desinstruída, mal desenvolvida, trazem grandes complicações para o médiun. É muito importante para um médium, ler, instruir-se e sobretudo frequentar um Centro onde pode ser acompanhado e ajudado. E assim o seu caminho se tornará mais proveitoso e a sua missão será sem dúvida levada com muito mais alegria.

Sobre os aspectos maus da mediunidade, recordo-vos a quantidade de pessoas que gravitam à nossa volta que dizendo-se possuidores desta ou daquela faculdade mediúnica, extorquem dinheiro indiscriminadamente às pessoas fracas de espírito e muitas vezes desesperadas. A essas pessoas a ruina material, moral e espiritual espreita e por isso é preciso ter muito cuidado.

Termino com esta frase do Evangelho de S. Mateus: “Dai de graça o que de graça recebestes”

E nunca nos esqueçamos que é na caridade que está a nossa salvação…

Nov 2012

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A Família: Material e Espiritual

“Querido diário, volto a escrever-te de novo sobre os meus problemas familiares. Sei que o assunto não é novo, mas cada vez está a ser mais difícil para mim. Desejo afastar-me desta minha vida, dos meus pais e de alguns familiares de quem não gosto nada. Não me sinto bem com eles, pois não me compreendem, pouco me ajudam e raramente me apoiam na minha vida. Às vezes penso que não sou amado pela minha família e sinto-me muitas vezes como um estranho aqui.
Gosto mais dos meus amigos, pois eles acolhem-me de braços abertos e estão sempre comigo quando preciso deles. Alguns dos meus amigos são especiais, são fabulosos, é com eles que quero sempre estar. Estou farto da minha família.”

Esta pequena história que acabei de ler, poderá ser talvez, uma das muitas passagens de muitos diários escritos por adolescentes. Pois é muito normal nestes períodos da vida, depois da passagem pela infância, ter-se diários que se vão alimentando com os pensamentos e acontecimentos da vida. Os diários são para muitos jovens, o escape para retratar estados de espírito disfuncionais que vão acontecendo nas suas vidas. Mas não é, obviamente de diários que vos quero falar, mas sim daquilo que na sua essência também pode ser o pensamento simples de muitos de nós relativamente às nossas famílias, pois nelas existe sempre quem amamos mais e quem não gostamos assim tanto.

Quem não tem ou nunca teve problemas com familiares?

O tema da palestra de hoje é a família. E nesse sentido, irei falar-vos um pouco do que são famílias materiais ou consanguíneas e as famílias espirituais.

O termo família é derivado do latim “famulus” que significa “servo”, demonstrando assim desta forma que em família devemos de nos servir uns aos outros.
No plano espiritual, o princípio base da família é que todos contribuam para o progresso e evolução comum.
A Constituição da República Portuguesa, no seu artigo 67º, define a família como o elemento fundamental da sociedade, com direito à protecção da sociedade e do Estado e à efectivação de todas as condições que permitam a realização pessoal dos seus membros.

No fundo, a grande conclusão é que as famílias, são os pilares das sociedades, possuem um papel fundamental nas mesmas e são nas famílias que nós encontramos muitas ferramentas de progresso e evolução moral que tanto necessitamos.

Voltando agora às questões apresentadas pelo jovem do diário, estas são muito transversais a todos nós, pois ninguém nasce isolado ou órfão de uma família material e por isso mesmo é muito normal, nós próprios encontrarmos nas nossas famílias, pessoas com as quais não conseguimos estabelecer afinidades, ligações afectivas mais ou menos fortes, sejam estas com pai, mãe, irmãos, etc…, pessoas com quem não conseguimos sequer “ligarmo-nos” sentimentalmente, por exemplo.
O que quero dizer exactamente, é que não é por esta ou aquela pessoa ser nosso familiar consanguíneo muito próximo, que temos de obrigatoriamente e acima de tudo gostar dela e termos que desenvolver grandes afinidades com elas. Mas não esqueçamos que lhe temos o dever do respeito e do amor, ainda que isto seja tão difícil e tão poucas vezes posto em prática.

Os laços consanguíneos, isto é de sangue, não são ligações necessariamente baseadas no passado com alguém, como por exemplo são as afinidades espirituais, pois o corpo precede do corpo, mas o espírito não procede do corpo, porque ele (o espírito) já existia muito antes da formação do corpo. O pai não gera o espírito do filho, fornece-lhe apenas o envoltório corporal (o corpo) e é responsável pelo seu desenvolvimento moral e intelectual no sentido de o fazer evoluir e progredir.
Já agora, digo-vos que á luz da doutrina Cristã, o papel de um pai ou mãe perante seus filhos é enorme e de elevada responsabilidade, não devendo ser vista como tarefa menor ou pouco relevante.

E isto é facilmente explicado por Emmanuel, no livro “Família”:

“Recebamos na criança de hoje, em pleno mundo físico, o companheiro do pretérito que nos bate à porta do coração, suplicando reajuste e socorro. Estendamos a luz da educação e do amor, diminuindo as sombras da penúria e da ignorância”

Sobre a família material, Alan Kardec, através do Livro do evangelho segundo o Espiritismo (Ver cap. IV, nº 13), define-a desta forma:

Os Espíritos que se encarnam numa mesma família, sobretudo como parentes próximos, são os mais frequentemente Espíritos simpáticos, ligados por relações anteriores, que se traduzem pela afeição durante a vida terrena. Mas pode ainda acontecer que esses Espíritos sejam completamente estranhos uns para os outros, separados por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem também por seu antagonismo na Terra, a fim de lhes servir de prova. Os verdadeiros laços de família não são, portanto, os da consanguinidade, mas os da simpatia e da comunhão de pensamentos, que unem os Espíritos, antes, durante e após a encarnação. Donde se segue que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se o fossem pelo sangue. Podem, pois, atrair-se, procurar-se, tornarem-se amigos, enquanto dois irmãos consanguíneos podem repelir-se, como vemos todos os dias.”

Esta análise sucinta, retrata muito bem o que se passam em inúmeras famílias e em todas as sociedades. Vulgarmente, até se costuma dizer muitas vezes que nós escolhemos os amigos, mas não a nossa família. Mas ainda assim temos de viver com ela, tal como se nos apresenta.
O que importa reter da família material, é que a sua constituição e definição, apesar de ser estranha aos nossos olhos, não é de todo um acaso ou uma mera fatalidade do destino. Foco a vossa atenção no facto de a família ser um dos maiores factores de crescimento pessoal que Deus coloca à nossa disposição, pois é através dela que o Homem reforça os laços de amor e desenvolve muitas das ferramentas necessárias ao seu desenvolvimento e crescimento moral e espiritual, como já tinha referido anteriormente.

Mas nem todas as famílias vêem unidas por laços de amor, muitas são construídas e desenvolvidas em bases de ódios e desavenças do passado, por isso, tal como o nosso jovem de quem li uma passagem do seu diário, nos perguntamos muitas vezes: mas porque nasci eu nesta família? E muitas vezes dizemos em forma de desabafo; Que mal fiz eu a Deus?
Mas aqui, Deus não é o culpado. Somos sempre nós.

Muitos são aqueles que se sentem como “deslocados” perante as suas famílias, e muitas são as vezes em que se sentem como se não pertencessem ali. E porque será que assim acontece?

É a partir daqui que se pode começar a analisar as relações humanas mais no plano espiritual, pois é preciso entender que as famílias materiais, são de ordem bem diferente das famílias espirituais.

No livro do evangelho segundo o Espiritismo, Kardec apresenta a seguinte reflexão sobre a família espiritual:

“No espaço, os Espíritos formam grupos ou famílias entrelaçados pela afeição, pela simpatia e pela semelhança das inclinações. Ditosos por se encontrarem juntos, esses Espíritos se buscam uns aos outros. (...) Se uns encarnam e outros não, nem por isso deixam de estar unidos pelo pensamento.”

Os constituintes de uma família material, nem sempre são os mesmos das famílias espirituais, mas uma maioria é, e isso é sentido de forma muito particular por cada de nós, isto é, pela afeição e amor que sentimos pelo outro. Também por aquele sentimento inexplicável que nos faz sentir como se nos conhecêssemos e fossemos amigos do coração desde longa data, por exemplo.
                                              
Devemos de ter consciência que a complexidade do universo, tanto na forma como agimos sobre ele, como na forma como ele interage connosco, que é grande parte fruto da conhecida Lei da causa-efeito. Bem sabemos que somos hoje o fruto do que temos vindo a ser no passado e no presente que rapidamente se transforma no passado, porque o tempo tal como o conhecemos não pára. E no que respeita á nossa família material, esta é também fruto de um continuado processo evolutivo, tanto da nossa parte, como das dos demais que a compõem nesta existência. Estar incluído numa família material, que está fora do contexto da nossa família espiritual, é muitas vezes uma prova de aperfeiçoamento e acerto, não de castigo como facilmente se poderia concluir, advém sim no sentido de contribuir para o nosso desenvolvimento pessoal, pois será nessa família que escolhemos antes de encarnar, que iremos encontrar aquilo que precisamos para evoluir e crescer, num ambiente que nos era estranho até então.

Jesus, explica-nos o conceito de família espiritual na passagem do Evangelho de Mateus:

“Enquanto ele ainda falava à multidão, a mãe e os irmãos dele estavam de fora, procurando falar-lhe. E alguém disse-lhe: ‘olha, tua mãe e teus irmãos estão lá fora e procuram falar-te’.
Mas ele respondeu ao que lhe falava: ‘quem é minha mãe e quem são meus irmãos’?
E estendendo a mão para seus discípulos, disse: ‘Eis minha mãe e meus irmãos; porque aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, irmã e mãe!’”

Por estas palavras, podemos facilmente perceber que através das palavras de Jesus, a família não é mais do que o grupo, conjunto de pessoas ou espíritos, que estão alinhados nos propósitos maiores das leis de Deus e do Amor. Em suma, a nossa união familiar é somente baseada nos laços afectivos.
Não nos podemos esquecer nunca, que as famílias cuja união se encontra nos laços espirituais, jamais se desfazem, são relações duradouras e vão-se fortificando pela purificação contínua dos seus membros.
Por outro lado, as famílias materiais, são frágeis como a própria matéria, extinguem-se com o tempo e quase sempre são dissolvidas moralmente desde a vida actual.

Estas explicações, encontramo-las detalhadas no Livro do Evangelho segundo o Espiritismo, na parte do Parentesco Corporal e Espiritual.

Com estas breves explicações sobre as famílias materiais e espirituais, talvez agora consigamos entender um pouco melhor os porquês de alguns membros das nossas famílias não serem vistos por nós da mesma forma que os restantes. O que quero dizer é que todas as famílias possuem o “deslocados”, as “ovelhas ranhosas”, os “prodígios” ou os “santos”, como se costuma dizer na vulgaridade. Nas famílias materiais apesar de sermos todos diferentes uns dos outros, mas existem laços invisíveis que nos unem mais a uns do que outros.

O que é fundamental entender, é que estamos todos inseridos em famílias, mas fazemos todos parte de uma só, tendo todos nós o mesmo criador.

Devemos de olhar para os membros da nossa família com algum cuidado, isto porque se existem alguns que nos são menos afáveis, é porque tanto nós como eles precisamos uns dos outros para continuarmos na nossa caminhada evolutiva
É nosso dever compreender melhor a nossa família. Bem sei que não é fácil, quando se tem ao nosso lado pessoas com carácter, essência e visão da vida tão diferentes de nós. Mas temos a obrigação de ser diferentes, de nos aceitarmos uns aos outros, pois temos o Amor de Deus ao nosso lado.
Ter consciência do nosso papel no mundo, das nossas obrigações morais. Ter consciência da nossa riqueza interior, é sem dúvida o primeiro passo para entender a nossa família. E mesmo que as feridas sejam grandes, há sempre espaço no nosso coração para os entender e ajudar, seja de que forma for, pois se eles estão na nossa vida é porque precisam tanto de nós como nós precisamos deles mesmo que isso nos seja difícil de entender neste momento.

Concluo com os seguintes pensamentos que resumem bem o nosso papel na vida familiar:

Allan Kardec:

"Não são os da consanguinidade os verdadeiros laços de família e sim os da simpatia e da comunhão de ideias, os quais prendem os espíritos antes, durante e depois de suas encarnações."

E de São Vicente de Paulo:

"Sede bons e caridosos - é a chave dos céus que tendes em vossas mãos. Toda felicidade eterna está encerrada nesta máxima: Amai-vos uns aos outros. Nas regiões espirituais, a alma só pode elevar-se pelo devotamento ao próximo."

Por muito difícil que o seja, devemos de nos esforçar por amar a nossa família, da melhor forma que conseguirmos….

Obrigado, 

Novembro 2012