“Estava eu sentado, de olhar profundo e
vazio, perscrutando o horizonte. Não sei o que procurava, olhava mais para a
profundezas de mim mesmo do que para a vida e paisagem em meu redor.
Não quero mais isto, pensava. Quero
deixar de sofrer pois não aguento mais. A minha vida não tem valor nem sentido.
O que faço aqui?”
Estou
em crer, que todos nesta sala, pelo menos uma vez…uma única vez que seja,
partilharam este estado de espírito e se colocaram a seguinte questão a si
mesmos:
Porque Deus não me leva deste mundo
e não me alivia deste sofrimento?
Todos
nós, em determinado momento das nossas vidas, esboçámos um pensamento de
desistência, de resignação e fraqueza última perante as dificuldades julgadas
insuperáveis que a vida nos colocou no caminho. Momentos houve em que a única
coisa que tivemos foi um coração cheio de tristeza e dor, alheio ao
Amor-próprio e ao Amor de Deus. Achámo-nos inúteis, incompetentes, incapazes,
fracos, sós e muitas vezes invisíveis ao mundo. Na nossa mente criou-se uma
imagem de que a nossa vida afinal não tem valor, nem um sentido útil. A visão
deturpa-se nos sentimentos tenebrosos e obscuros das trevas e muitas vezes a
única solução viável que se nos apresenta é o suicídio físico.
Como
já deve de ter dado para entender, o tema de hoje remete-me para o Valor da
Vida. Escolhi este tema somente porque quis aprofundá-lo depois de ter ouvido
alguém muito próximo de mim, dizer de forma muito desapaixonada que desejava
por fim á sua vida e não o disse em tom de brincadeira ou desafio, mas com o
coração destroçado e a mente desprovida de razão.
Para mim pensei, afinal, que valor tem a nossa vida?
Poderemos nós quantifica-lo monetariamente?
Poderemos sequer atribuir-lhe um valor segundo uma
qualquer escala?
Independentemente
dos motivos que possamos invocar, não fazendo juízos de valor aos mesmos, pois
cada caso é um caso, mas na verdade muito na nossa vida está centrado num
aspecto fundamental muitas vezes subvalorizado: o conhecimento. Sim, o
conhecimento que temos das coisas e da vida.
Apresento
a questão desta forma, porque a ignorância e o medo do desconhecido atormentam
as almas, enfraquecendo-as, tornando-as vulneráveis e muito permeáveis a tudo o
que não seja bom para elas. A ignorância é um grande flagelo pessoal e social,
sobretudo retardador da evolução humana. E muito falta ao homem para saber e
conhecer, mas antes de mais, é necessário começar pela base, pelo conhecimento
básico da vida, das suas leis, das leis naturais que regem o mundo, das leis de
Deus. Sem o conhecimento básico da nossa condição espiritual e da nossa vida
eterna, o medo e a dor apoderam-se de nós. E assim continuaremos a não entender
os motivos e as razões da nossa passagem pela vida física. No fundo,
continuaremos a não entender o sentido da nossa vida.
Allan
Kardec nos deixou a seguinte mensagem:
“Nascer, morrer, renascer ainda e
progredir sempre, tal é a lei.”
Se temos esta
vida, só poderá ser por um motivo: Evoluir aprendendo cada vez mais. Pois não
faz sentido, para mim outra coisa. Mas este processo, que ate aos nossos olhos
pode parecer simples e compreensível, carece de grande análise, no entanto
resumiria tudo a um aspecto: Necessitamos de conhecimento e entendimento. Não
basta nascer e viver uma vida, é necessário vivê-la estudando e aprendendo
diariamente, e em cada existência terrena, vamos assim acrescentando valor à
nossa própria vida e evoluindo cada vez mais intelectual, moral e
espiritualmente.
Sobre as
dificuldades do momento, e de quem na sua ignorância se julga incapaz de viver
a sua existência actual, cito uma
passagem do livro do Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap 5, que diz o seguinte:
“A calma e a resignação adquiridas na
maneira de encarar a vida terrena, e a fé no futuro, dão ao espírito uma
serenidade que é o melhor preservativo da loucura e do suicídio".
Sei que não são meras palavras que nos resolvem os problemas, mas sem
dúvida trazem-nos alguns esclarecimentos que muitas vezes não tínhamos.
E do mesmo livro cito:
"Com o Espiritismo a dúvida não
sendo mais permitida, modifica-se a visão da vida".
Não
digo com isto que a Doutrina Espírita seja a chave de todos os problemas, que
através dela se evitem todos os suicídios e problemas existenciais, ou até que
se passe a dar mais valor à vida de um momento para o outro, no entanto não
deixa de ser importante referir que retirando as pessoas da ignorância, do
desconhecimento das leis da vida, será mais fácil compreender os momentos do que
se vai vivendo ao longo da vida e assim encontrar as forças necessárias para
ultrapassar os problemas e as adversidades. E nesse sentido aprender a
valorizar cada existência como sendo um privilégio que nos é dado para
rectificar o passado, construir um presente e evoluir para um futuro mais
harmonioso e cheio de felicidade. Ter um conhecimento baseado não numa fé cega,
numa crença exacerbada por uma paixão infundada e tantas vezes mal sustentada e
compreendida, mas muito pelo contrário, aprender na descoberta da razão, na
demonstração, na fé lógica e racional, é sem dúvida algo de muito mais reconfortante
para cada ser humano e factor de estabilidade emocional também.
A
meu ver, e posso-vos dizer que penso assim depois de conhecer a Doutrina
Espírita mais a fundo, vos digo que a vida não tem valor. O que estou a dizer
agora não é um contra-senso não, mas sim que não é possível a ninguém definir e
quantificar um valor para aquilo que é uma obra suprema de Deus, que é a Vida.
Deus é vida e só Ele dá a vida. Também só a Ele compete dar-lhe um fim (Livro
dos Espíritos – 944).
Todos
nós temos momentos de elevada fraqueza moral e emocional. Sentimo-nos sós,
quase abandonados. O coração enfraquecido por uma mente distorcida aos valores
do Amor, levam-nos muitas vezes a crer que a vida não tem nada para nós dar ou
retribuir. Que não temos nenhum papel a desempenhar no mundo (suicídio
Altruísta). Que a nossa existência é vazia de felicidade. Muitas vezes damos em
acreditar que Deus e o mundo nos abandonaram á nossa sorte (suicídio Egoísta).
Os problemas sociais ou económicos são demasiados “pesados” e não se sabe como
lidar com eles (suicídio Anómico).
No
final, acreditamos que o suicídio é a solução final para todos os nossos
problemas. Mas será mesmo?
Numa
passagem do livro Enfoques Científicos na Doutrina Espírita, do Dr. Jorge
Andréa, encontramos a seguinte mensagem que gostaria de partilhar convosco:
"O homem moderno materializou-se, exaltando a deusa máquina e o deus técnica, não percebendo a fragilidade desses totens de barro. Deus em que confiou e acreditou esborrou-se ao menor dos ventos. Não acontecendo o mesmo com aqueles que asseguram os seus alicerces psicológicos-emocionais numa ética valorosa que o espiritualismo pode oferecer; e mais ainda, numa fé lógica, harmoniosa e inteligível por ser raciocinada, aos que se acercam do estofo dinâmico que caracteriza a Doutrina Espírita. O suicídio, como resultado de um imenso desequilíbrio emocional poderá ser um acto voluntário, porquanto existem outros factores que concorrem para um suicídio, lento e despercebido e por isso, considerado involuntário, ou seja, suicídio consciente e inconsciente.”
Esta passagem retracta muito daquilo que actualmente
faz parte do manancial de sofrimento a que muitas sociedades, como a nossa, estão
sujeitas e levam a actos desesperados e de consequências terríveis. Vivemos no
materialismo absoluto.
Cito ainda uma passagem do livro Após a Tempestade de Joanna de Angelis (em brasileiro):
NOTA: Joana de Angelis é a guia espiritual
de Divaldo Franco
"Aqueles que
esfacelam o crânio, reencarnam com a idiotia, surdez-mudez, conforme a parte do
cérebro afectada, os que tentaram o enforcamento, reaparecem, com os processos
da paraplegia infantil; os afogados com enfisema pulmonar, tiros no coração,
cardiopatias congénitas irreversíveis, os que se utilizam tóxicos e venenos,…
sob o tormento das deformações congénitas, úlceras gástricas e cânceres.”
Joanna de Angelis ainda que nos diz o seguinte:
“Espera pelo amanhã, quando o teu dia se te
apresente sombrio e apavorante. Se te parecem insuportáveis às dores, lembra-te
de Jesus, ora, aguarda e confia.’”
Mais uma vez digo que citações de livros, palavras e
textos bonitos não são solução para os problemas da vida. Mas eu, pessoalmente,
encontrei na Doutrina Espírita uma nova forma de ver o mundo, de ver a vida…de
ver a minha vida. E através da leitura, adquire-se conhecimento que nos permite
abrir a mente e os olhos para a vida.
Posso vos dizer sem qualquer prepotência ou receio:
Aprendi a não temer a morte. E isso ajudou-me a viver! Sou e sinto-me mais
feliz sabendo que nada acaba aqui nesta existência. E que o sofrimento de hoje
tornar-se-á a alegria de amanhã. Que a vida tem muito para me dar e que Deus
nunca me abandonará em momento algum.
Muitas religiões ensinam a olhar para a morte, com
grandes receios, limitando a visão da vida e dos seus valores, sufocam a
felicidade, abstraem as pessoas de viverem mais felizes espiritualmente. Com o
inferno para os atormentados e pecadores que por lá ficarão indefinidamente e o
céu para os mais puros.
Para mim, o mundo que Deus criou
para nós não é isto. Deus quer que todos os seus filhos se encontrem com o
Amor, com a Fé e com a Esperança, que as suas vidas só possuem um único
caminho: o da elevação espiritual até à perfeição. Para isso, é preciso Amar-se
a si mesmo como a Deus e amar o próximo com a si mesmo. Todos nós temos
oportunidades de redenção e de perdão.
Atravessamos um momento
economicamente e socialmente cada vez mais difícil. Grandes mudanças acontecem
diariamente. O desemprego, as rupturas familiares e sociais. Muitos dos
“pilares” das nossas sociedades estão a desmoronar-se e pouco se tem feito para
inverter os problemas. Por isso ter fé em si e em Deus, é algo fundamental
neste momento especial.
Só dentro de nós podemos
encontrar a solução. É dentro de nós que reside a força inexplicável que nos
consegue mover em direcção à felicidade e ao bem-estar interior. A
espiritualidade é um dos caminhos. Pois é na espiritualidade que nos
conseguimos encontrar connosco próprios, que nos encontramos com o nosso EU, e é
lá que nos encontramos com Deus e é em Deus que residem as soluções para muitos
dos nossos problemas. Não esqueçamos que muitas das nossas dificuldades foram
criadas por nós mesmos, consciente ou inconscientemente,
Só um coração aberto a Deus
e ao Amor consegue ouvir os bons espíritos que o ajudarão a caminhar para a
felicidade, pois nenhum de nós se encontra sozinho na sua existência tanto
corporal como espiritual.
Tal como o sol rompe as trevas nocturnas, também nós
se soubermos porfiar no bem, na prece sincera, no esforço de cada dia e
sobretudo numa inabalável confiança em Deus, conseguiremos superar todas as
aparentes insuperáveis dificuldades da vida. Haja Fé!
Finalizo esta palestra com a seguinte frase, de Joana de
Angelis:
"Espera pelo amanhã, quando o
teu dia se te apresente sombrio e apavorante. Se te parecem insuportáveis as
dores, lembra-te de Jesus, ora, aguarda e confia".
Obrigado,
Set 2012