Os tempos são antigos,
longínquos na história. O Homem, ainda migrava nos seus primeiros passos
civilizacionais no ano de 1.900 A.C.. Em plena Babilónia, actualmente terras do
povo Iraquiano, o rei Baltazar presenteava os seus nobres e amigos, com uma
festa grandiosa e sumptuosa, muito farta de tudo o que de melhor havia na
época. Na excitação dos momentos de luxúria e prazeres mundanos, o rei Baltazar
mandou trazer luxuosos vasos de ouro e prata, arrebatados da cidade de
Jerusalém, para que os seus convidados se pudessem servir a belo prazer no
desfrutar do repasto, bebendo bom vinho nesses cálices. O momento era de festa
e alegria.
A certo momento, umas formas
similares a mãos humanas, começaram a escrever palavras estranhas, numa parede
ao fundo da sala. Foi grande o espanto dos presentes, alguns deles muito
aterrorizados com o fenómeno sobrenatural que ali acontecera, também o rei
Baltazar ficou pálido e aterrorizado.
As palavras escritas na
parede foram: MENÊ, TEQUEL e PERÊS.
Sendo as palavras estranhas
a todos os presentes, mandou o rei Baltasar que estas fossem rapidamente
traduzidas pelos sábios do reino. Então, o sábio e profeta Daniel, que também
era médium, fez a tradução, dando ao rei o significado do que fora escrito
naquela parede.
E eis o que fora escrito:
“Deus, contou os anos do teu reinado e nele pôs um fim. Foste pesado na
balança e considerado em falta. O teu reino vai ser dividido e entregue aos Medos
e aos Persas”
Nessa mesma noite, o rei
Baltazar, foi assassinado por Dário, rei dos Medos e dos Persas.
Esta passagem retirada dos
textos sagrados, nomeadamente, do Antigo Testamento, relata um momento particular
onde a mediunidade manifestada através da escrita, é detalhada com algum
detalhe e pormenor.
Não se julgue que os
fenómenos mediúnicos são algo recente, muito pelo contrário, encontram-se
diversos escritos com milhares de anos em várias culturas e civilizações.
Numa palestra anterior,
falei-vos de uma forma geral sobre a mediunidade. Hoje o tema, é uma abordagem
pelo mundo da mediunidade psicográfica e pneumatográfica, que passarei a
explicar.
A pneumatografia, é uma
palavra que no grego encontra o seu significado de espirito escrevente. É um
tipo de fenómeno mediúnico em que não existe, no processo de escrita, nenhuma
intervenção directa de um médium. Allan Kardec, designou-o como Escrita
Directa. A manifestação da escrita, faz-se directamente pelo espírito
desencarnado sem recurso a um ser humano, mas atenção, é preciso deixar claro
que não é possível acontecer tal fenómeno sem que na sala esteja um ou mais
médiuns que doem os seus fluídos animalizados ou ectoplasma para que tal
processo possa ocorrer. Diga-se desde já, que este não é um processo simples, nem
recorrente (isto é, que acontece muitas vezes).
Sobre a mediunidade
psicográfica, a palavra psicografia, deriva do grego e significa a escrita da
alma. No fundo trata-se de uma faculdade atribuída aos médiuns cuja capacidade
se manifesta na escrita ditada por espíritos.
Allan Kardec, classificou a
psicografia como um tipo de manifestação inteligente, por se constituir num
tipo de comunicação discursiva escrita de uma entidade sobrenatural ou
espírito, sendo esta realizada por intermédio de um Homem encarnado.
Tanto a mediunidade psicográfica,
como a pneumatográfica, são manifestações mediúnicas inteligentes, em que a
génese das mensagens transmitidas, não é da criação ou responsabilidade do ser
humano encarnado, sendo este ultimo somente uma “ferramenta” muito útil ao
espírito comunicante e capacitando-o a poder expressar-se ao mundo dos
encarnados.
Recapitulando, a escrita
mediúnica directa designa-se como Psicografia e a indirecta designa-se como
pneumatografia.
Relativamente à escrita
psicografada, temos um dos maiores exemplos na história moderna, que foi
Francisco Cândido Xavier.
Chico xavier, como é mais
conhecido, foi responsável pela psicografia de 458 livros e 10 mil cartas. Ele só
estudou até a um género de 4ª classe no Brasil. Nascido e criado em origens
humildes, Chico começou a manifestar sinais claros de mediunidade a partir dos
seus 4 anos de idade, quando respondeu ao pai sobre um tema de ciências e dizia,
já naquela época, que via e ouvia espíritos, conversando até com eles.
A vida de Chico foi tudo
menos fácil e simples, sobretudo desde que a sua mãe falecera quando ele tinha
apenas 5 anos de idade.
Em 1927, já com 17 anos,
Chico recebeu uma mensagem da sua mãe, dizendo-lhe para se dedicar à leitura da
Codificação Espírita escrita no século XVIX por Allan Kardec. Em Julho desse
ano, psicografou 17 páginas, mas segundo ele próprio, só a partir de 1931 é que
consegui aperfeiçoar condignamente a técnica da psicografia e foi nesse ano, o
momento do encontro em que finalmente conheceu o seu mentor espiritual, o
espírito Emmanuel. Nesse dia, Emmanuel, diz-lhe que teria como missão
psicografar uma série de cerca de 30 livros, mas que para isso teria de atender
a 3 condições fundamentais, que seriam: Disciplina, disciplina e disciplina.
Assim começou a grande
odisseia das mensagens do além-túmulo trazidas até ao nosso conhecimento
através de um homem simples e humilde, cuja única preocupação foi trazer paz de
espírito ao mundo, dizendo-nos claramente que a vida continua e que nunca nada
fica por acabar nesta nossa longa caminhada evolutiva. Tudo tem um princípio,
mas não um fim.
Chico Xavier, desencarnou em
Junho de 2002 já com 92 anos de idade. Ao seu funeral compareceram mais de
120.00 pessoas para lhe dar o último adeus terreno.
A história de vida deste
homem é notável e merece elevado respeito. Não digo isto no sentido de menorizar
ou desprezar as histórias de vida de cada um de nós, mas sem dúvida que não
podemos ignorar que somos muitos, somos muitos daqueles que resumem a sua vida
olhando continuamente para o seu umbigo, deixando de lado o trabalho duro e
difícil de amar o próximo, ajudando-o no seu caminho de vida. Somos muitos
aqueles que não são capazes de olhar a sua vida com outros olhos que não os
materiais… não somos capazes de olhar um pouco mais longe.
Para mim, não existem
propriamente santos ou outro tipo de pessoas relegadas a atributos divinos.
Somos todos iguais, mas existem uns que são mais iguais do que os outros.
Existem aqueles que amam o próximo sem esperar nada deles… Assim foi Chico
Xavier.
Voltando à psicografia e
pneumatografia, são sem dúvida grandes e magníficos fenómenos de mediunidade,
mas que nem sempre são bem compreendidos, tal como nada o é, quando o espírito
humano não possui conhecimento e educação moral. Por isso muitas vezes, estes
processos, são vistos como fraudes ou até frutos de uma imaginação demasiado
elaborada e complexa.
Em termos de mediunidade
psicográfica, existem 4 tipos de médiuns:
Mecânico: o médium escrevente é completamente passivo, sendo o espírito que
actua directamente na mão do médium
Semi-mecânico: o médium sente o impulso na sua mão e tem consciência do que escreve
Intuitivo: o médium serve de intérprete do espírito, para isso precisa de o
compreender. Os pensamentos mão são dele, somente passam pelo seu cérebro.
Inspirado: o médium recebe mensagens em estado de êxtase, mensagens estranhas às
suas ideias e de forma espontânea.
As primeiras abordagens da
psicografia, foram realizadas através de meios rudimentares, como a utilização
de pranchetas e das cestas munidas de lápis. Com o tempo, a psicografia evoluiu
para o que conhecemos hoje e já muito visualizado pelo excelente trabalho que
Chico Xavier trouxe ao mundo de uma forma simples, humilde e muito clara quanto
à elevação das mensagens que recebeu, que nunca poderiam ser da sua autoria.
A psicografia não é um
atributo do homem superior, está ao alcance de qualquer um desde que assim o
deseje. Com conhecimento, trabalho, dedicação e disciplina, é possível ser-se
“ouvinte” escrevente do outro plano da vida.
Qualquer tipo de
mediunidade, seja ela qual for, deve de ser sempre encarada com uma tarefa ao
serviço dos superiores interesses do Homem e de Deus, pois é através da
mediunidade educada, séria e desinteressada que se pode claramente ajudar o
Homem a elevar-se moral e espiritualmente. A mediunidade é uma ferramenta do
Bem e do Amor, que Deus concede ao Homem, para seu próprio bem.
Termino agora, com uma bela
citação de Chico Xavier….
"As
pessoas esquecerão o que você disse. As pessoas esquecerão o que você fez...
Mas nunca esquecerão como você as fez sentir."