A primeira condição de toda
a Doutrina, é ser lógica e racional. Assim dizia Allan Kardec. Tudo, à excepção
de Deus, que está muito para lá do nosso entendimento ainda muito humanizado,
tem de estar enquadrado numa lógica racional, sob pena de atrair o ser humano
para os domínios dos Homens sem escrúpulos e sem valores morais, que só
procuram a sua própria felicidade à custa dos demais “fracos” que se deixam
levar pelas facilidades ilusórias de conquistas espirituais baseadas no
materialismo. O que quero dizer, é que temos de acreditar em algo, mas é
recomendável que se acredite com racionalidade.
No que respeita à fé e crenças,
os seus alicerces encontram-se sempre no mais íntimo de cada um. Isto é,
acreditamos em alguma coisa, porque ou nos foi ensinado a tal ou então fomos
aprendendo ao longo da vida a acreditar nisso, seja lá o que for. Lembrem-nos
que cada um de nós, é actualmente o produto de um processo de crescimento
interior em constante evolução. Devemos de acreditar e devemos de expressar a
nossa fé, sem medos ou receios. Mas também temos o dever e a obrigação de
compreender e entender as razões da nossa fé. Não podemos acreditar só por
acreditar.
Seja qual for a religião,
credo ou fé que cada um possa expressar, desde que se enquadrem nas Leis do
Amor e de Deus, já nos mais longínquos tempos da nossa história que ouvimos
falar de seres espirituais divinos que estão muito próximos de Deus. Seres,
muitas vezes quase mitológicos, perante os quais nos reverenciamos, pois
achamo-los inatingíveis face á nossa condição humana e materialista. São
conhecidos por Anjos. Dependendo da religião, existem diversos tipos e classificações
de Anjos, que pela minha parte nunca senti necessidade de saber em detalhe
pois, para mim, a única coisa que me diferencia de um Anjo é o facto de ele,
seja quem ele for, estar num grau de perfeição intelectual, moral e espiritual
que eu ainda estou muito longe de atingir (mas demore o tempo que demorar, um
diz chegarei lá de certeza!), mas no fundo somos iguais e temos o mesmo Pai
espiritual que é Deus. Um Anjo está mais perto de Deus, é verdade. Mas eu
também estou perto de Deus, pois Deus está sempre comigo, está sempre no meu
coração e também com todos os Homens na Terra, mas infelizmente isso não faz de
mim um anjo, pelo menos por agora.
O tema da palestra de hoje,
é sobre os Anjos e os Demónios.
Creio que este tema é
apaixonante e obviamente existe tanto que se possa dizer sobre estes seres
divinos, que não caberiam em tão poucas folhas. Mas creio que falar de quem
está tão próximo de Deus, é sempre um bom alento para nos motivarmos a
continuar a trabalhar no sentido de sermos melhores, um pouquinho cada dia.
Anjo ou Angelus do latim, significa mensageiro. São designados como
mensageiros de Deus e desenvolvem as suas actividades sempre em proximidade e
segundo as indicações do próprio Deus.
Na iconografia comum das
religiões mais tradicionais, os anjos são muitas vezes representados por Homens
com asas, com uma auréola por cima das suas cabeças, são normalmente donos de
uma beleza muito acentuada e manifestam sempre rostos de paz, amor, inocência e
virtude. Normalmente, as imagens dos Anjos transmitem-nos uma carga emocional
forte, pois são muitos os momentos em que olhamos para as suas imagens e a
nossa consciência é avivada, julgando-nos muitas vezes dos nossos erros e
faltas naquele momento de introspecção.
Também em toda a nossa
história, encontramos seres espirituais malévolos, votados as acções de maldade
e perdição própria e de quem com eles pactua de alguma forma. São eles
conhecidos como demónios ou daemoniums,
do Latim. Muitas vezes apresentados e representados como criaturas horríveis,
monstruosas, são seres que em tudo o que fazem e influem está relacionado com o
mal e com a oposição aos desígnios de Deus. No fundo, são todos aqueles que
lutam contra o Amor, a si mesmo e ao próximo.
Tal como em tudo na vida e
no mundo, existe mais do que um perspectiva para todas as coisas e também no
coração dos homens, existem os que são devotos do Bem e os que se entregam ao
mal, por opção própria ou induzidos por outros. Assim são os anjos e os
demónios.
Agora analisando o tema com
um pouco mais de profundidade, é importante começar pelo princípio para
perceber como cada um, os anjos e os demónios, trilhou o seu caminho para
chegar a tal ponto. É importante perceber afinal quem são os anjos e quem são
os demónios.
Todas as almas ou espíritos,
são criados pela mão de Deus, simples e ignorantes, sem consciência do bem ou
do mal. Utilizando uma metáfora, todas as almas começam a sua vida como uma
criança na mais tenra idade, que não sabe o que é bom ou mau, construindo a sua
existência pelo instinto próprio e pelos exemplos que vê nos outros,
nomeadamente dos seus pais e assim vai aprendendo o que é o Bem e o Mal.
Mas quando um espírito novo
é criado, está desde logo apto a receber e adquirir o que lhe falta para que o
seu processo evolutivo se vá completando, até ao destino final que é a
perfeição ou angelitude.
Um espírito, tal uma criança,
raramente começa o seu processo evolutivo sem as “quedas” de uma marcha mal
aprendida, sem erros, sem faltas, sem sofrimento, sem experimentar alguma vez a
dor. E isto deve-se que Deus não nos dá a experiência ou o conhecimento
necessário para podermos desde cedo perceber e entender qual o nosso caminho,
Deus não nos ensina desde logo o que é o Bem e o Mal. Mas diga-se que Deus não
falha, e como tal, apesar de não nos dar a bagagem moral, intelectual e
espiritual à nascença, dá a cada um de nós tudo o que precisa para que possa
aprender por si mesmo qual o caminho que deve de seguir. Assim com essa
aprendizagem, vamos entendendo lentamente a realidade e finalidade da nossa
existência, modificando assim os nossos propósitos de vida. Vamos percebendo o
que é bom e mau através das experiências adquiridas e vividas. Como este
processo é demasiado longo e penoso, porque nós Seres humanos encarnados, escolhemos
sempre o caminho mais fácil para tudo e por isso mesmo vamo-nos atrasando
muito, vamos sofrendo as consequências dos nossos erros e desvios da rota que
nos leva até Deus. É por este facto, que na grande misericórdia e Amor que Deus
tem por cada um dos seus filhos, que temos mais do que uma possibilidade de
rectificar o nosso percurso e corrigir os nossos erros, através das reencarnações.
Deus é justo!
Muitas vezes ouvimos este
ditado popular: “Ou vai a bem, ou vai a
mal”. Assim é a nossa vida, pois os caminhos do Bem e do Amor, são sempre
mais difíceis de palmilhar do que os caminhos do mal, onde as aparências de
facilidade iludem os Homens incautos, incultos e faltados de Fé.
A vida, como todos vocês
sabem, é um processo longo e contínuo, não é somente o que estamos a viver
agora. Se estamos todos aqui, é porque ainda estamos longe de sermos Anjos ou
Demónios, pois se para ser Anjo é preciso estar nos patamares elevados da
perfeição moral (que não estamos!), para ser Demónio é preciso não querer
aceitar Deus e o Amor nos seus corações. Como vocês e eu estamos aqui, é porque
acreditamos e aceitamos Deus em nós mesmos e desejamos seguir os exemplos
deixados pelo seu filho Jesus Cristo aquando a sua passagem pela Terra. Nós queremos
a Luz de Deus. Nós queremos crescer e evoluir sempre um pouco mais na sua
direcção. Nós, como seus filhos, juntamente com o nosso irmão maior Jesus
Cristo, queremos o amor de Deus e queremos chegar um dia até ele. Mas
infelizmente, estas lições não são nada fáceis de aprender. Como não sabemos
escolher os melhores caminhos e por isso viemos para o mundo para sofrer,
somente por culpa própria. Sofremos porque não sabemos escolher o melhor para
nós.
No livro do Céu e o Inferno,
Allan Kardec apresenta a visão dos Anjos agora na condição de seres celestiais,
como sendo espíritos tal como nós, mas que chegaram aquele ponto por mérito
próprio. Os anjos são espíritos santificados agora livres das interferências da
matéria, que fizeram o seu caminho evolutivo em função da renúncia de si
mesmos, escolhendo os caminhos do Amor segundo os desígnios de Deus. Também a
nós, Homens encarnados, mas ainda demasiado materializados, Deus nos faculta as
mesmas possibilidades de evolução moral somente atingíveis através do esforço
próprio nas múltiplas reencarnações.
No fundo, os anjos não são
mais do que espíritos de homens que atingiram graus elevados de perfeição e
isso lhes abriu as portas da felicidade plena e eterna junto de Deus. Os anjos
de hoje, foram os pecadores de Ontem.
Por outro lado, todo o homem
que em si nunca quis aceitar Deus, as leis do Amor-próprio e ao próximo,
continuamente tentando afastar-se da luz e amor Divinos, entram no mundo das trevas
e do sofrimento, num antro de escuridão moral, uma consciência arrebatada ao Amor-próprio
e ao próximo. São vistos por nós como Demónios, mas no fundo, não são mais do
que Seres como nós que não procuram a sua redenção, mas todos estão ao alcance
da sua salvação se assim o desejarem. Ninguém está condenado eternamente.
Jesus Cristo, resumiu numa
simples frase o que deveria de ser o fio condutor da nossa existência: “Amai a Deus e ao próximo, como a vós
mesmos”.
Todas as representações de
demónios, apresentados como seres horríveis de aspectos maléficos, acabam por
ser as imagens representativas daquilo que nos trás sentimentos de medo e de
horror, porque todos aqueles que se relegam às causas do Mal, querem que os
outros os temam. Querem impor o medo, pelo medo, por isso apresentam-se segundo
formas que nos aterrorizam (este fenómeno é designado por Transfiguração,
também muito estudado por Allan Kardec, no livro A Génese.).
Todos acabarão um dia por
ver a Luz e irão converter-se obrigatoriamente ao Bem e ao Amor. O tempo e as
experiências é que ensinam o Homem e por muito mau que se possa ser num
determinado momento da vida, não podemos duvidar da infinita sabedoria de Deus,
pois Ele não fez ninguém estúpido, todos possuímos inteligência e capacidades
mais do que suficientes para discernir o que é bom ou mau para si. Todos
haverão de aprender através das lições resultantes da Lei da Causa-Efeito.
Sobre os demónios, é preciso
entender que se porventura estes existissem da forma como muitas religiões os
apresentam e personificam, seriam sempre e obrigatoriamente obra de Deus. No
entanto, Deus na sua infinita bondade, nunca iria criar Seres que estariam à
partida eternamente condenados ao sofrimento e dores perpétuas advindas da
prática do mal, e mais do que isso, sem qualquer possibilidade de se redimirem
e procurarem o perdão na justiça do Amor que Deus concede a todos os Seres no
universo. Os demónios, se assim posso dizer, existem e são muitos, é verdade.
Mas somente existem nos corações dos Homens que teimam em “fugir” do amor de
Deus.
Os demónios, ou espíritos
inferiores, que moram nos infernos de que muitas religiões nos falam, não são
mais do que as regiões Umbralinas mais baixas, onde só coabitam espíritos muito
pouco purificados e que teimam em não aceitar o amor de Deus nos seus corações.
Nunca nos podemos esquecer,
que não é Deus o culpado dos nossos erros, apesar de muitas vezes lhe
perguntarmos porque diabo nos acontece isto ou aquilo de mal nas nossas vidas.
Nós somos os únicos responsáveis pelos nossos erros. E se existem irmãos que
vivem nas trevas como demónios, é porque assim o querem. Mas também existem
irmãos que gozam da felicidade eterna tais anjos cheios de luz e Amor, mas
esses “trabalharam” para lá chegar, não se entregando a mais nada do que a Deus
e ao Bem ao próximo.
Termino a minha palestra com
uma consideração simples: “Não somos
anjos hoje. Talvez não o seremos amanhã. Mas acreditando em Deus, nada nos
impede de irmos conquistando diariamente mais uma pena, para um dia termos as
nossas próprias asas e voarmos nos céus da felicidade. Nunca deixemos fugir
Deus dos nossos corações”.