domingo, 26 de maio de 2013

Uma mensagem do outro “lado”

“As pessoas que partiram, desejam tanto contacto, como as que ficaram. Porque a saudade, é uma dor que fere nos dois mundos”

Esta é uma frase retirada do filme As mães de Chico Xavier. Este filme é uma expressão cinematográfica maravilhosa, do papel importante que Chico Xavier desempenhou na sua vida em prol dos outros. Para vos dar uma pequena ideia, sobretudo àqueles que não tiveram a oportunidade de ver este filme, Chico Xavier servia de intérprete dos espíritos que tinham partido e cá tinham deixado muitas saudades. O filme As mães de Chico Xavier, retrata a psicografia de Chico como meio sublime de comunicação entre os dois planos da vida e mais do que provar indubitavelmente, isto é sem deixar dúvidas, que a vida continua muito para lá depois da morte do corpo físico, era um meio para acalentar o coração das mães que tinham perdido os seus filhos.

Como bem sabemos, a vida no corpo físico, não é mais do que estar mais uma vez na grande escola da vida. A mesma escola que Deus criou e nos permite aprender uma única lição. É verdade, não se admirem com o que vos digo. Estamos aqui somente para aprender uma única grande lição… a do Amor… e esta foi-nos deixada pelo nosso irmão maior Jesus Cristo: Amarmo-nos uns aos outros, tal como a nós mesmos e tal como Jesus nos amou. É isto que andamos a aqui a tentar aprender.

Voltando a Chico Xavier, ele amou o próximo. Ele trouxe paz e muito amor a todos quanto tiveram oportunidade de privar com ele. E essa paz, foi trazida também pela forma da escrita, da psicografia. Através de Chico Xavier, muitos espíritos, alguns muito confusos e perdidos, outros arrependidos e já em plena consciência do que tinham feito na sua passagem pela vida corporal, puderam comunicar-se com os seus entes queridos que sofriam as dores da saudade.
Talvez se contem pelos dedos de uma mão, o número de pessoas que não desejam comunicar-se com alguém que já partiu. É normal…. a saudade não se vê mas existe dentro de nós.

Este pequeno interlúdio, serve para introduzir o tema da palestra de hoje, que é: Uma mensagem do outro “lado”

“A questão mais aflitiva para o espírito no Além, é a consciência do tempo perdido.”

Esta frase de Chico Xavier, retrata bem a condição de muitos espíritos que desejam comunicar-se com o lado de cá. A consciência que lhes pesa e por isso muitos desejam oportunidade de rectificação e fazerem-se ouvir aos entes queridos que se encontram encarnados. Ou muitas vezes, somente procuram alguém que os ouça e os ajude a encontrarem o seu caminho de felicidade, pois a sua vida continua a ser um mundo de trevas e dor.
É importante nunca esquecermos que somos o fruto dos nossos pensamentos traduzidos pelas acções e por isso é fundamental vigiarmos a nossa mente, vigiarmos os nossos pensamentos.

Mas não é só de sofrimento de que se envolvem as comunicações espíritas. Felizmente, muitas são as vezes em que espíritos mais elevados utilizam os canais de comunicação mais eficazes para se comunicarem connosco e nos transmitirem, não tanto mensagens pessoais, mas mensagens de grande teor e essência divina para nos ajudar a todos nesta nossa caminhada terrena. Enviam-nos mensagens de Amor. E quando isso acontece, posso dizer-vos que é maravilhoso serem ouvidas ou lidas.

A doutrina espírita, como doutrina estudiosa dos dois planos da vida e das comunicações entre ambos também, não só nos mostra o caminho que temos de percorrer por nós próprios, como também nos coloca em grande contacto com o outro “lado” da vida. Graças aos médiuns, temos a possibilidade de saber e aprender um pouco mais do que nos espera quando um dia deixarmos este corpo físico e regressarmos à pátria espiritual. Sabendo nós que esse regresso pode ser tão feliz ou tão mais penoso do que a vida terrena que vivêramos anteriormente.  Tudo dependerá do que fomos e do que fizemos em prol da nossa evolução.

A doutrina espírita é sem dúvida um manual de instruções que nos ajuda a balizar a nossa vida. E para mim traz-me grande felicidade, pois não existem rituais, não existem dogmas (isto é verdades absolutas não comprovadas), não existe nada mais a que sejamos obrigados a fazer ou seguir contra nossa vontade e sem saber os porquês. A doutrina acaba somente por ser uma filosofia de vida que nos ensina o caminho da felicidade interior.
E é aqui numa casa como esta, seja ela grande ou pequena, que cada um de nós tem a possibilidade de acrescentar mais um pouco de conhecimento, de valores morais e espirituais, que obviamente, pode ou não utilizar em proveito próprio.
Mas seja como for, terá sempre a consciência do bem ou do mal que faz, pois aqui ninguém julga ninguém, ninguém é mais do que o outro, somos todos iguais e cada um aqui trilha o seu próprio caminho de Bem, de Amor e de Paz. Ou não…!
Aqui, o único contrato que se assina é com Deus, pois ele é o nosso pai espiritual e é o grande mestre que faz o universo girar e evoluir, sempre em prol do nosso bem. Seja numa casa como esta, ou noutra qualquer, desde que Deus e o Amor estejam presentes, o resultado só pode ser um: Evolução.

Aqui, os únicos sentimentos que devem de prevalecer são a humildade e o amor, pois muito trabalho que é realizado aqui, nem todo está ao alcance da visão de todos. Aqui faz-se um trabalho de amor e de entreajuda entre os dois planos da vida. Tanto encarnados como desencarnados aqui se encontram para procurarem um pouco de paz, de amor, de compreensão, de ajuda. Aqui todos trabalhamos uns para os outros, aqui o peso do amor é único, não importa se somos ricos ou pobres, altos ou baixos, magros ou gordos, doentes ou saudáveis. Aqui somos todos iguais.

Voltando agora ao tema da minha palestra, tenho o privilégio de trazer até vós uma mensagem psicografada por uma médium que é trabalhadora num centro espírita em Portugal e que na passada noite do dia 7 de Maio, a meio da noite e às escuras, começou inconscientemente a escrever um belo texto que era dirigido a uma amiga sua. E essa amiga emprestou-me essa mensagem, que hoje tenho a felicidade de, com a sua autorização, partilhar convosco.

Devo dizer que lhe pedi para partilhar esta mensagem, porque após uma leitura atenta verifiquei que quem do outro lado a ditou, foi um espírito elevado que com muito Amor quis enviar uma mensagem de conforto, de fé e de esperança a alguém que ainda se sente um pouco perdida no mundo. A alguém que ainda não conseguiu acalmar a ânsia de obter respostas para tantas e tantas perguntas que lhe invadem o íntimo. A alguém que precisa de acalmar o seu Eu interior para poder evoluir mais rapidamente e quebrar as barreiras psicológicas que para si mesma criou e impendem de continuar o seu caminho.

Esta, tal como muitas outras mais, é uma mensagem que considero muito profunda que acaba por servir para todos nós que aqui estamos partilhando do mesmo ideal.




Vou então ler-vos uma mensagem do outro “lado”:

“Começo por perguntar, minha irmã, onde está a sua fé?
O que a leva a tamanha insegurança?
Porque não agir com cautela e colocar a razão acima de qualquer emoção ou desejo de realização?
A busca desenfreada por respostas, podem-nos levar a sérios conflitos e decepções, as quais a doutrina de Jesus nada tem de culpada. O Homem na sua sede por respostas prontas, acha que fora dele estão todas as respostas às suas interrogações, enquanto Jesus na sua calma e passividade, nos leva a viver um dia de cada vez, dando-nos a oportunidade de aprender através dos seus exemplos maravilhosos. A leitura é o nosso auxílio, o estudo nos leva a reflexões e através destas, encontramos as respostas às nossas interrogações. A pressa nos faz tropeçar e a ansiedade é altamente prejudicial neste processo o qual Jesus no chama, que é o nosso autoconhecimento.
Muitas vezes, a decepção que nos causa tanta dor e nos leva às lágrimas e ao desespero, é fruto da nossa instabilidade emocional e do equilíbrio que se fazem tão importantes na nossa vida diária.
A doutrina de Cristo é um bálsamo de Amor e bondade. Feliz aquele irmão que sente o chamado do irmão maior.
O centro espírita, é uma casa de luz, é um ponto iluminado numa Terra onde a dor e as lágrimas são uma constante. Grande é a responsabilidade daqueles que dirigem seus trabalhos. O compromisso com a moral de Cristo é a base para tudo, a reforma íntima faz-se necessária, não há milagres. Não se faz promessas infundadas, tudo ocorre de acordo com a vontade de Jesus e não é o Homem quem faz as leis. A espiritualidade maior é a responsável pelo apoio, mas o equilíbrio e a vibração que leva ao sucesso da instituição, depende dos actos dos encarnados na sua conduta diária. O estudo e a orientação da codificação, são cruciais para a continuidade desses trabalhos e a continuação da casa espírita, as quais muitas são abertas e na sequência FECHADAS.
O Homem que tem o compromisso com o trabalho mediúnico, primeiro tem o compromisso e o dever no Bem, no servir, no despertar dos melhores sentimentos, o Amor tem que estar presente e a compaixão faz-se necessária. Não se iluda com as aparências, a calma e a tranquilidade devem emanar, assim como o dever e a responsabilidade, são extremamente importantes para a continuidade dos trabalhos. Não se desespere por respostas às quais não a levarão ao melhoramento para o seu caminho.
Um simples sorriso, um abraço a um irmão, fazem muita diferença.
Podemos auxiliar e trabalhar no Bem sempre e em qualquer lugar. Primeiro, o estudo orientado e equilibrado. Segundo, a harmonia e vibração no mesmo ideal com o grupo. E terceiro, a doação com responsabilidade ao trabalho mediúnico, se esta for a vontade da irmã.
A ligação entre encarnados e os desencarnados numa casa sintonizada com os ensinamentos do Cristo e com base na doutrina, é uma Luz com brilho que as palavras do homem não conseguem alcançar para descrever. Mais o acto de amar, não julgar, perdoar, não se magoar…enfim, são tantas as bênçãos que o senhor do Amor nos convida a praticar todos os dias, que a doação numa casa espírita, necessita de trabalhadores que são o intercâmbio entre os mundos, é muito importante e necessário, deve de passar por estes processos como numa escola, galgando degraus até chegarmos à universidade.
É assim que se trabalha em prol do outro e auxiliamos com alegria e sempre com responsabilidade.
Será sempre bem-vindo aquele que estiver sintonizado no Bem, a boa vontade não é o critério principal, o estudo da doutrina e a prática diária é que nos leva a ter uma vida mais harmoniosa e equilibrada no meio de uma terra tão cheia de provações e conflitos. Isto sim, faz um verdadeiro espírita, apto para trabalhar em uma sala restrita, onde o socorro a almas desajustadas de irmãos em sofrimento buscam e encontram uma Luz diante de tanta dor e escuridão.
Que a paz de Cristo se faça sempre presente.”

Penso que esta mensagem, apesar de ter sido dirigida para uma pessoa em concreto, merecia ser partilhada. Pois carrega muito amor e é uma mensagem que ajuda a alimentar a fé nos trabalhos que são realizados por todos os trabalhadores de um centro espírita que são sem sombra de dúvida trabalhos desinteressados e cheios de amor ao próximo. E esta é uma casa de Jesus.

Termino dizendo-vos, que é sempre muito gratificante ouvirem-se ou ler-se palavras que provêm de espíritos mais depurados, palavras de irmãos que estão à nossa frente e nos ajudam a iluminar o nosso caminho adiante. Trazendo-nos alento, força e sobretudo muita fé em Deus que está e estará sempre ao lado de todos nós para nos ajudar a caminhar na sua direcção.



Obrigado,

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Ingratidão de uma existência


À palestra de hoje, dei-lhe o nome de: Ingratidão de uma existência.

Decidi chamar-lhe assim, porque hoje vou revelar-vos uma coisa sobre mim: Sou um ingrato com a minha vida.

Não é fácil dizer-vos isto de ânimo leve e sem sentir as “dores morais” de uma consciência que me aponta o dedo acusador. Chegar ao ponto de admitir isto, é desde logo uma luta interior importante, pois tive de silenciar o meu Ego, deixá-lo de lado por uns momentos e simplesmente não lhe dar ouvidos. Para chegar a este ponto, é necessário admitir que sou uma pessoa egoísta e orgulhosa, pois a ingratidão nasce pelos sentimentos de egoísmo e orgulho, próprios de um ser encarnado ainda mal depurado, e ainda muito ligado à matéria. Não é fácil admitir estes defeitos. Não é fácil para mim, tal como julgo não ser fácil para muitas pessoas. E mesmo que como eu os admite, também não é fácil actuar da melhor forma sobre eles para os diminuir ou anular.

E porque é que vos disse que sou um ingrato?

Pois bem, a verdade é que teimo em viver mais uma existência na ingratidão. Na ingratidão de muitas vezes mal agradecer ou nem sequer agradecer o bem que me é feito. E digo-vos isto, porque sei hoje, que não agradeço o suficiente a Deus e a todos os meus “irmãos” que directa ou indirectamente, quer por acções ou pensamentos, me desejam o Bem e me dão Amor fraterno. Na verdade, nunca agradecemos demais o Bem que nos fazem.
Mais são as vezes em que nos lembramos mais do mal que nos é feito, do que do bem. O mal fere-nos o ego e o orgulho, e o bem é visto muitas vezes como uma obrigação dos outros face a nós e não o contrário.  

Tenho a vida que tenho, seja ela boa ou má, depende sempre do ponto de vista. Mas a verdade, é que tenho a vida que escolhi, a vida que construí e vou construindo a cada dia que passa. Sou hoje o somatório de um vasto conjunto de lições e aprendizagens várias, com uma longa história, vividas nesta e noutras existências anteriores. E tenho a certeza que as minhas lições foram mais adquiridas pelo lado da dor e do sofrimento, do que pela resignação, pela prática do Amor a Deus e ao próximo. Mas sou o que sou e disso não posso fugir nem culpar ninguém.
Vejam que admiti que sou um ingrato e que não consigo culpar-vos a vocês de nada, tão pouco encontrar alguém em quem colocar as culpas desse defeito. O meu Ego e Orgulho acham isso um enorme incómodo, não ter um bode expiatório para deitar as culpas dos meus erros! Pois como bem sabemos, é sempre muito confortável para nós encontramos um culpado para os nossos defeitos e problemas. E esse alguém raramente somos nós próprios!
Às vezes, até nos damos ao luxo de culpar Deus pelas consequências dos nossos erros, como se fosse Deus o responsável das nossas asneiras e maus pensamentos.

No entanto, acredito que sou hoje, uma pessoa um pouco melhor do que fui ontem, porque todos estamos sempre a evoluir nem que seja um pouquinho. E o ontem de que vos falo, é um ontem desta e de muitas outras vidas. É o ontem de uma história longa que não me interessa muito em conhecer para já. Pois posso não gostar de saber o que já fui no passado e assim na ignorância do presente, posso ir trilhando novos caminhos de Amor e prática do Bem ao próximo, anulando dessa forma os erros passados. Isso é o primeiro passo de gratidão para com Deus e à sua grande misericórdia para comigo, pois Deus permite-me que retifique o mal que fiz, através dos seus ensinamentos e das reencarnações. E isto é o nosso processo evolutivo tanto nas esferas da Moralidade, do Conhecimento e da Espiritualidade.

Mas bom, na verdade, mesmo sabendo isto, continuo a ser um ingrato. Pois por vezes olho para a minha vida e ponho-me logo a desejar outra melhor. Vejo algumas pessoas ao meu redor e acho-lhes melhores vidas do que a minha, julgo-lhes terem vidas mais felizes do que a minha. Olho para um pobre e nem sempre sou capaz de ver que ele já foi rico materialmente e hoje está, eventualmente, a sofrer as consequências da vida mundana, materialista e imoral que já teve. Por outro lado o rico de hoje, é somente um espírito que já foi pobre e que para si desejou as duras provas da riqueza para conseguir vencê-las e evoluir um pouco mais. Mas infelizmente, os ricos fracassam muito nessa missão…
Olho para outras pessoas que parecem carregar em si toneladas de felicidade e talvez ainda não conseguido entender que essas pessoas tão-somente vivem as suas vidas num plano diferente do meu. Vivem o seu dia-a-dia na gratidão, no amor a si mesmos, ao próximo e a Deus. Vivem as suas vidas com muito mais fé e esperança do que eu! Por isso mesmo e começando só por aqui, essa forma de vida transforma-os logo à partida, em seres humanos muito mais felizes do que eu…

E eis as perguntas que me faço hoje:

Quantas vezes agradeci a Deus pela vida que tenho?
Quantas vezes percebi e agradeci a Deus a oportunidade que me foi dada para poder retificar os meus erros e construir um novo amanhã?
Quantas vezes agradeci a Deus o pão e a água que todos os dias vou podendo disfrutar à minha mesa?
Quantas vezes agradeci a Deus a saúde e o bem-estar que, mal ou bem, ainda vou podendo gozar?
Quantas vezes agradeci os irmãos benfeitores, encarnados e desencarnados, que me ajudam diariamente na minha jornada de vida?

Lembro-me agora que talvez não agradeça o suficiente. Pois sou um ingrato.
E uma grande verdade, é que só nos lembramos do valor das coisas quando já as perdemos. Por isso a gratidão é uma virtude.

Perante Deus, não sou mais do que a luz que brilha dentro de mim. Luz essa que só se consegue fazer brilhar mais através dos sentimentos do Amor. Perante Deus, não sou a casa, o carro ou o dinheiro que possuo hoje (pois na verdade esses bens materiais somente me foram emprestados por uns tempos). Perante Deus, não sou mais do que um Ser mais ou menos elevado fruto dos meus pensamento e das minhas ações geradoras de Bem e de Amor. E só a gratidão e o Amor me aproximam mais de Deus.

Tenho momentos em me encontro envolto mundo escuro cheio de trevas e onde a luz do sol não entra para me iluminar e guiar o meu caminho. Às vezes, parece que a minha vida perde sentido. Parece que nada já é útil para mim ou em mim. Se me vejo num momento de maior sofrimento, apetece-me fugir dali, para um qualquer lugar onde consiga estar longe do que me atormenta. E outras vezes, quando me sinto um pouco mais feliz, nem sempre consigo saborear esses bons momentos, tudo por causa do meu orgulho e egoísmo.
Não sou capaz de valorizar o que tenho, o que sou, o que consegui atingir como desenvolvimento interior. Acho-me sempre mais fraco do que o meu vizinho. Acho que não tenho sorte. Acho que Deus não olha o suficiente por mim e me ajuda. Acho que merecia mais para a minha vida. Acho que merecia mais dinheiro, ter mais isto ou ter mais aquilo, acho que deveria de ter sido isto ou acoloutro. 
No final acho-me, por vezes, um inútil perdido nesta vida.

E sabem porque sinto isso?

Porque sou um ingrato.
Falta-me a pureza do coração. Falta-me a paciência e a resignação. Falta-me perceber que se estou como estou e se sou o que sou, é tão somente porque não consegui andar mais para a frente na minha caminhada de vida. Falta-me a paz de espírito para viver uma vida mais ligada ao meu bem próprio, em termos de valores morais e espirituais. Falta-me perceber que tenho de valorizar mais Deus e a sua palavra, pois ela se reveste única e exclusivamente de Amor para o bem de toda a humanidade e para o meu próprio bem.
Falta-me perceber que Deus e os meus irmãos de jornada, não são os culpados das minhas tristezas e problemas de vida. O culpado sou eu. Somente eu!…mas como o meu Ego é grande e o Egoísmo ainda maior, os meus olhos não enxergam. Os meus olhos teimam em ver a vida pelo lado material, não moral e espiritual. Os meus olhos não deixam que o coração tome conta da minha vida e contribua para a minha evolução no caminho da felicidade.

A minha ingratidão afasta-me de Deus, afasta-me da felicidade que tanto desejo.

Mas acredito que não sou só eu que vivo na ingratidão desta existência. De certeza que mais pessoas serão meus companheiros nesta viagem.
E na verdade, devemos de ser em grande número, nós os ingratos. Aqueles que não agradecem a sua vida, que se esquecem de agradecer quem os ajuda e vai olhando por eles. Aqueles que julgam que Deus tem de lhes dar tudo sem terem o trabalho e o suor para superarem os processos de aprendizagem. Para aprender o que é realmente a Vida e aprenderem a viverem mais felizes. Aqueles que ignoram o poder do amor de Deus e o poder das acções de Bem, de Amor e Caridade ao próximo.

Sou um ingrato…é verdade.

Aproveitar todas as ocasiões de servir ao próximo é um dever de cada um de nós, pois somos todos devedores uns dos outros. Somente através da prática do Bem e da Caridade, sempre de uma forma desinteressada, não só contribui para a reparação dos nossos erros do passado, como para acelerarmos a nossa caminhada em direcção a Deus.
Fazer o Bem, sermos caridosos com quem mais precisa, guiarmos a nossa vida com bons pensamentos e acções sempre em nome de Deus e do maior sentimento que existe no universo, que é o Amor, é o nosso dever e obrigação moral.
Agradecer a Deus todos os momentos da nossa vida, sejam eles bons ou maus, pois todos em si nos trazem lições e momentos de engrandecimento interior. Todos os momentos nos ensinam alguma coisa.
Agradecer o Amor e as boas práticas que o próximo nos possa fazer para nos ajudar, é mais uma vez, a nossa obrigação.

Todos, tal como eu, temos de aprender a deixar de sermos ingratos. Sei que é difícil, pois eu sinto o peso dessa dificuldade. Mas isso só acontece porque ainda não temos a pureza do coração e a força da fé inabalável em Deus, que tanto nos faz falta.

A minha existência, tal como a de todos os ingratos deste planeta, não é triste. No fundo, acabamos por ter tudo o que precisamos. E se não temos mais, é porque Deus entende que de mais não precisamos para aprender as lições a que nos propusemos assimilar.  

E quando alguém fizer o bem a outrem, se for agradecido com ingratidão e não com carinho, isso deve de ser interpretado como uma lição que Deus nos dá para que aprendamos e continuemos perseverantes na prática do Bem de uma forma desinteressada, pois só essa conta aos olhos de Deus. Nunca nenhum acto de Bem fica sem ser notado por Deus, talvez pelos Homens, mas nunca por Deus.

Termino agora com duas citações retiradas do Evangelho Segundo o Espiritismo:

“Ficai certos de que, se aquele a quem prestais um serviço o esquece, Deus o levará em conta do que se, com a sua gratidão, o beneficiado vo-lo houvesse pago.”

“A Natureza deu ao homem a necessidade de amar e ser amado. Um dos maiores gozos que lhe são concedidos na Terra é o de encontrar corações que simpatizem com o seu. Ela lhe concede, assim, as primícias da felicidade que lhe está reservada no mundo dos Espíritos perfeitos, onde tudo é amor e benevolência: essa é uma ventura recusada ao egoísta.”

No fundo, a grande conclusão a retirar é que devemos de ser gratos. Devemos de trazer no nosso coração o sentimento da gratidão para com Deus e para com o próximo e mais do que tudo, todo o bem que fizermos a nós retorna sob várias formas e aos olhos de Deus nunca é esquecido.

A gratidão, é um dos vários caminhos que nos leva à felicidade…