Certo dia, Jesus passeava na
rua e deparou-se com um homem que manifestava um comportamento anormal e muito
perturbado. O homem, vendo Jesus, aproximou-se dele e perguntou-lhe: ”Quem és tu?”
Jesus, conhecedor da
condição daquele homem, respondeu-lhe: “Eu
sou Jesus, e tu meu irmão, quem és?”
Então, o homem mentalmente
desequilibrado, replicou: “Tu não!…nós…nós
somos Legião!”
Jesus sabendo do que se
tratava aquele fenómeno, asseverou:
“Legião, sai dele!”
Eis então, que rendidos à
perfeição moral do Mestre, os espíritos inferiores que obsidiavam aquele pobre
homem, foram embora e deixaram-no em paz.
Esta pequena passagem, serve
para introduzir o tema da palestra de hoje, onde vos vou falar sobre a temática
das obsessões espirituais.
Dissertar sobre as obsessões,
é sem dúvida uma temática muito interessante de análise, mas também é de
elevada complexidade, pois as suas interpretações são em muito sinónimo de uma
elevada incompreensão pela nossa condição e realidade de seres espirituais que
caminhamos numa longa jornada de evolução moral.
Muitas situações e
perturbações são classificadas de obsessões graves, quando na verdade, nada tem
a ver com a questão, dado que em muitos casos estas encontram solução na
medicina ou na psicologia.
Lembremo-nos que o ser
humano é complexo e que o cérebro ainda continua a ser um órgão que carrega em
si muito desconhecimento à luz das nossas capacidades. Ainda somos seres pouco
evoluídos ao ponto de dominarmos as ciências em todas as suas amplitudes.
Mas não podemos escamotear
ou esconder um facto incontornável à nossa existência (isto para quem não
acredita na dimensão espiritual), que é o facto de não estarmos sós no universo
e por isso seja pela simples Lei da Atracão como pela Lei da Causa-Efeito,
todos nós caminhamos eternamente acompanhados por irmãos nossos que se
assemelham a nós, pelo pensamento, ações e qualidades morais.
O mais importante quando se
analisam casos de obsessão, é ter uma noção clara de racionalidade, uma mente
aberta, educada, moralizada e sobretudo espiritualizada.
Mas o que é a obsessão?
A obsessão, é todo um
conjunto de fenómenos e processos que advém em consequência do descarrilamento
das qualidades morais do Homem ao longo do seu processo evolutivo. É nas
qualidades morais e espirituais do indivíduo, que se encontram muitas
explicações relacionadas com os fenómenos da obsessão.
As obsessões são vistas do
ponto de vista clinico e psiquiátrico, como transtornos obsessivos-compulsivos.
Utilizando uma linguagem mais corrente, podemos classifica-las como manias que
originam comportamentos estranhos e que na maior parte das vezes levam as
pessoas à doença.
Em termos práticos, os
fenómenos obsessivos enquadram-se sempre numa lógica de interferência directa
ou indirecta entre indivíduos, sejam eles encarnados ou desencarnados. É claro
que também existem obsessões pessoais relativamente a objetos, sobretudo nas
dimensões materialistas de todos quanto não vêm o mundo para lá do seu próprio
nariz.
As obsessões espirituais são
os processos de interferência prejudicial de desencarnados sobre os encarnados.
Qualquer processo de obsessão, é sempre numa lógica de prejuízo em relação a
alguém, seja ao próximo como a si próprio.
Hoje, não irei abordar os
efeitos ou os fenómenos práticos das obsessões, irei limitar a minha análise à sua
génese, isto é aos seus porquês, e ao entendimento de como as obsessões se
geram nos corações dos Homens perdidos. No fundo, em todos aqueles que deixam a
escuridão reinar nos seus corações e que fogem dos desígnios maiores de Deus,
que é Pai. Que é Ele, todo Amor.
A fonte geradora das
obsessões, nasce em coisas tão simples como o Orgulho, o Ódio, o Egoísmo, a
Vaidade, a Inveja, o desconhecimento, a falta de moralidade. Essencialmente é na
falta de Amor para consigo próprio e para com o próximo que as obsessões, mais
ou menos fortes são geradas. Pois somente os sentimentos mais distantes de Deus
são geradores de ódios e obsessões, levando a complicados dramas de alienação
mental dos obsessores.
Do livro A Gênese de Allan
Kardec, encontramos uma passagem sobre os flagelos que agridem a humanidade e
os seus motivos principais:
“Pululam em torno da Terra os maus espíritos, em consequência da
inferioridade moral de seus habitantes. A acção malfazeja desses espíritos é
parte integrante dos flagelos com que a humanidade se vê a braços neste mundo.
A obsessão é um dos efeitos de semelhante acção, como as enfermidades e todas
as atribulações da vida, deve pois, ser considerada como provação ou expiação e
aceite com esse carácter.”
Os processos obsessivos não
nascem do nada, não aparecem nas vidas das pessoas por mero acaso. Existe
sempre um ou mais motivos, que levam a que os obsessores, levados pelas
correntes do mal que invadem os seus corações, decidam trazer prejuízo aos
outros. Correntes essas, que alimentam um sentido de justiça a ser feita pelas
suas próprias mãos, em prol de um ideal que eles mesmo julgam de justo para
fazerem “pagar” as injustiças que contra eles foram cometidas.
As obsessões espirituais de
hoje, são muitas vezes fruto das sementeiras do passado, em que, em muitos
casos se vão perpetuando ao longo do tempo por não haver perdão mútuo.
Alguns de vós poderão pensar
que estão a ser obsidiados, incomodados pelas forças invisíveis do plano
espiritual, que por algum motivo a vós desconhecido hoje, vos estão a
prejudicar de alguma forma. Mas gostaria de vos dizer o seguinte: Tenham calma
nessa análise, pois nem tudo o que se passa de menos bom nas nossas vidas, advém
de processos obsessivos. Mas não deixa de ser verdade que se em consciência
plantarmos ventos, colheremos tempestades.
Precisamos todos de mais
conhecimento, de mais amor nossos corações, mas sobretudo de boas sementeiras
na vida, no nosso dia-a-dia, para que no futuro não venhamos a ser obsidiados
pelo mal que fizemos ao nosso irmão. Pois as raízes que originaram as
obsessões, foram criadas por nós próprios, pelo fruto dos nossos pensamentos e
acções. Nós somos sempre os responsáveis pelo que fazemos em consciência. E
disso não podemos fugir.
Podemos não saber o que
fomos no passado. O que fizemos de bem ou mal. Mas uma coisa é certa, podemos
mudar o amanhã. Tudo está nas nossas mãos, no momento presente. Pois é preciso
ter sempre presente nas nossas mentes, que à medida que evoluímos moralmente,
os nossos obsessores aprendem também connosco e vão eles próprios distanciar-se
das acções e intenções malévolas que reinam nos seus corações. Pois a elevação
moral, trás Luz e Amor às nossas vidas. E essa luz interior é a chave das
desobsessões, é somente através do Amor que conseguimos parar os processos
obsessivos. Nenhum obsessor se opõe contra o amor e contra os desígnios de
Deus.
O nosso processo evolutivo,
é complexo e nem sempre é uma linha recta em direção a Deus. Sabemos que a
nossa meta é chegar até Deus, até à perfeição. Mas até lá, o caminho é longo,
penoso e muitas vezes tão difícil de palmear, pois precisamos dos outros para
evoluirmos e mais do que precisar dos outros, precisamos de grandes mudanças
interiores que não são fáceis de atingir.
Como nem todos nós somos
seres espiritualizados com semelhantes objetivos, com vontade de evoluir
moralmente, com vontade de amar o próximo como a si mesmo (tal como Jesus nos
ensinou), com vontade de eliminar as impurezas morais que fomos carregando e
criando ao longo das existências terrenas, acabamos por chocar uns contra os
outros. Acabamos por criar desavenças e ódios, que a cada um retornam sob o
jugo da Lei da Causa-Efeito, trazendo até nós os obsessores, que não são mais
do que aqueles que magoámos e ferimos.
Recordo-vos, que as
obsessões não são mais que os efeitos práticos e consequentes das nossas acções
e pensamentos. As obsessões são a materialização de pensamentos e corações fora
da moralidade de Deus.
E não devemos de olhar os
obsessores como alguém de mau, de impuro, como demónios. Pois são somente
alguém como nós que foi ferido, foi injustiçado e que não nos perdoou e não
encontrou a luz e o amor de Deus. Quem sabe se nós mesmos não somos
interiormente piores do que eles, do que quem nos possa obsidiar?
Não nos julguemos de virgens
ofendidas, procuremos antes entender a nossa vida, procuremos o perdão,
procuremos a resignação das nossas ações, procuremos a Luz e o Amor de Deus,
procuremos amar quem nos deveria de amar e não ama.
Cada um de nós, é uma fonte única
de energia e à semelhança da energia eléctrica, vibramos a frequências
diferentes, mas neste caso com uma relação directa com o grau moral evolutivo
de cada um. Dessa forma atraímos para nós seres de iguais condições e isto
funciona tanto no plano do Amor, como no plano dos Ódios. Ora as obsessões
encontram a sua fonte no nosso íntimo, no que somos e queremos da vida. Quem
procura amor, atrairá para si amor. Quem alimenta ódios, será alimentado e acompanhado por inúmeros espíritos perdidos que fogem
da Verdade Divina e procuram, quem como eles, manterem-se perdidos nas trevas.
Nada ou ninguém surge só ou
sozinho viaja pelo Universo.
Partilho uma mensagem do
Espírito Emmanuel, mentor de Chico Xavier e cujo nome significa “Deus
connosco”, do livro Pensamento e Vida, que nos diz o seguinte:
“Se o homem pudesse comtemplar com os seus próprios olhos as correntes
de pensamento, reconheceria, de pronta, que todos vivemos em regime de comunhão,
segundo os princípios da afinidade.”
E do Livro do Evangelho
Segundo o Espiritismo, encontramos esta passagem:
“(…) em vez de procurar a paz do coração, única felicidade real neste
mundo, ele se mostra ávido de tudo o que agitará e turbará, e, coisa singular!
O homem, como de intento, cria para si tormentas que está nas suas mãos evitar.
Haverá maiores do que os que derivam da inveja e do ciúme? Para o
invejoso e o ciumento, não há repouso, estão perpetuamente febricitantes.”
É verdade que as interacções
entre os dois planos da vida são permanentes e constantes e que nos domínios da
obsessão, o obsessor desencarnado exerce sobre os encarnados uma força de
grande relevância e por vezes de extremo domínio, quase absoluto.
Poderão perguntar, mas
porque Deus permite tal coisa?
Respondo com o seguinte
exemplo, se chegar ao pé de um de vós e lhe deferir uma bofetada ou um murro,
Deus irá intrometer-se entre nós para o evitar?
Pois não. Tudo o que irá
resultar dessa minha atitude é a criação de um efeito obsessivo mais ou menos
importante da parte de quem sofre tal injúria. A criação de um desejo de
vingança, de acerto de contas, pois o orgulho ferido é difícil de controlar e
de parte a parte, a moralidade é diminuída face aos sentimentos de ódio gerados
ali.
Deus não é culpado nem da
minha atitude, nem tão pouco das atitudes de má-fé e também não é responsável
pelas vontades obsessivas de quem foi agredido. O acerto deverá de ser feito
entre nós, com ou sem a ajuda de Deus. E esse acerto, só será completo quando o
Amor e o perdão reinar entre mim em quem mais for injustiçado por mim.
Do evangelho de S. Mateus, Jesus
a este propósito disse um dia:
“Deixai-os. São condutores cegos. Ora, se um cego guiar outro cego,
ambos cairão na cova.”
Os homens ainda se alimentam
muito de paixões, de materialismos que os prendem muito à crosta terrestre.
Muitos homens ainda estão longe dos valores morais e espirituais que são
requeridos à sua evolução. Por isso, os sofrimentos fruto das obsessões por si
criadas, ainda os afligem e muito mais os afligirão.
O homem que não aprender
pelo Amor, aprenderá pela dor. E muitas das suas obsessões, são as dores dos
seus próprios pensamentos e sementeiras na vida. Sei que é difícil de entender,
mas nós somos muitas vezes os criadores do nosso sofrimento. O de hoje e o de
amanhã.