sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Esperança na Caridade


Antes de mais, gostaria de desejar-vos festas felizes, pois esta quadra é sem dúvida um grande momento na vida dos Cristãos, em que brevemente se celebrará o nascimento do nosso irmão maior Jesus Cristo.

Pedia-vos agora, que por um breve momento, deixassem de pensar nas coisas da vida. Que limpassem a cabeça dos pensamentos do momento, das chatices, dos problemas do vosso dia-a-dia e que se deixassem envolver pelos melhores sentimentos vindos do vosso coração e de um momento de paz.

Vivemos actualmente um período de grandes mudanças, a vários níveis. E estas mudanças não são só aqui em Portugal, são na Europa e no Mundo em geral. Poderão dizer-me que fome, crises, guerras e demais problemas sempre houve, sempre existiram. É verdade. Mas a realidade é que hoje bateu à nossa porta, já não se trata só de ouvir falar, de saber que existe. De ver nos noticiários. Hoje as mudanças são globais.
O mundo mudou e as mudanças são normais e úteis. E quem quiser nascer, tem de destruir um mundo, como já um grande pensador disse. Mas a realidade é que o mundo mudou depressa demais para as nossas capacidades, compreensão e entendimento. Vivemos um momento de transição planetária. E a destruição que falava há pouco, não é das pessoas, é sim das mentalidades e da moralidade de cada um.

À palestra de hoje, dei-lhe o nome de: Esperança na Caridade.

E a mensagem que gostaria de partilhar convosco, não a pensei como sendo educativa, formativa ou explanativa de um tema ou conceito, mas antes levar-vos para um lugar ligeiramente diferente; o universo da Fé e da Esperança.

Estamos a poucos dias do final do ano de 2012 e um 2013 aproxima-se como se fosse um dia de nevoeiro muito denso. Muitas dúvidas nos invadem a vários níveis, tanto a nível pessoal como colectivo (do país). Não sabemos o que nos espera, mas pelo que se vai afigurando, o que aí vem não é muito bom.
Já ouvimos falar muitas vezes que o planeta está a mudar, isto numa perspectiva espiritual e moral. E não tenhamos grandes dúvidas que estamos a entrar num ciclo novo da vida deste planeta. Muitas vezes ouvimos as mensagens da espiritualidade maior a referir que este planeta era de Provas e Expiações, mas que a seu tempo iria deixar de o ser e começaria um novo ciclo designado como de Regeneração. Do ponto de vista espiritual, é um processo de grande evolução, de melhoria, de crescimento para todos quanto o habitam. Mas a realidade que nos apercebemos é que o momento é difícil e de muito sofrimento físico devido ao nosso ainda elevado apego à materialidade.

As pessoas estão cada vez mais a ser confrontadas com os seus maiores receios materialistas, de perderem o que possuem e regredirem materialmente nas suas existências terrenas. Cada vez mais, estamos a ser combatidos e amedrontados pelo nosso Ego, pelo nosso Orgulho e Vaidade, porque por este ou aquele motivo, já não conseguirmos ser o que já fomos.
Cada vez mais as pessoas refugiam-se em credos, doutrinas ou religiões, procurando um apoio, uma segurança que deixaram de ter, pois a materialidade abandonou-as e manifestou-se demasiado efémera como meio de obtenção de felicidade.

Esperança na Caridade, foi o nome que dei a esta palestra porque acho que o que nós todos mais precisamos neste momento, é de Esperança. De fé. De Amor-próprio. De caridade, tanto para connosco como para os outros.

Kardec disse um dia que “Fora da caridade, não há salvação”.

Mas, entendam bem que a caridade é muito mais do que um simples gesto de dar qualquer coisa a alguém. Isso, de dar algo, é a parte menor e que por si só pode não valer de nada aos olhos de Deus. O que quero dizer é que dar, é um acto de caridade, mas só terá valor se for feito com amor, imprimindo na acção um sentimento de amor e vontade de ajudar quem precisa.
A caridade para lá de ser uma virtude, possui em si mesma uma grandiosidade que está para lá da nossa compreensão.
A caridade não tem só um sentido, isto é, não se trata só de nós fazermos algo pelos outros, mas também de fazermos algo por nós. Ser caridoso, é ajudar quem mais precisa nos pequenos gestos, no anonimato dos olhares do mundo. Ser caridoso, é dar um pouco de si, nem que seja um simples abraço, um olhar fraterno, um pensamento carregado de amor.

Jesus, deixou-nos a maior mensagem dos desígnios de Deus: “Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a vós mesmos.”

Kardec aprimorou esta máxima transmitindo-nos a seguinte mensagem: "Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações".

Nós temos conhecimentos sobre a espiritualidade, sabemos um pouco como funciona a nossa vida, conhecemos o depois da morte do corpo, sabemos que o nada não existe. Sabemos que muito existe para lá da visão dos nossos olhos. Sabemos o que pode influenciar um pensamento, um gesto, um olhar.

E como o momento actual é difícil para todos, mais para uns do que para outros, dependendo das suas sementeiras. Julgo que é fundamental erguermos a cabeça para Deus. Procurá-lo nos nossos corações, para que ainda que não consigamos compreender porque Ele nos traz estes sofrimentos, mesmo que os achemos injustos aos nossos olhos. É preciso não esquecer que, Ele é o nosso pai, e todo o bom pai nunca abandona os seus filhos, nunca os deixa à sua sorte. Pois Deus quer o nosso bem e somente quer que evoluamos no caminho do amor.

Nem Jesus, nem a Doutrina Espírita quer que sejamos santos. Os Espíritos superiores sabem das nossas limitações e os ensinamentos cristãos são exactamente para ajudar-nos a superá-las. O que se espera do verdadeiro espírita, ou cristão, é o esforço constante em analisar-se moralmente. E sempre que se perceber fora dos atributos que constituem a caridade, que erga a cabeça, recomece novamente o caminho, sem desesperos ou pressa, mas a passos firmes e corajosos.

Não podemos deixar-nos levar ao desespero, nem a nós nem aos outros. Sempre que ao nosso lado estiver uma pessoa que esteja mal, devemos de olhar por ela. Ajuda-la no que estiver ao nosso alcance, no mínimo, se nada tivermos para dar…temos sempre um abraço, uma mão no ombro ou um sorriso. Deus encontra-se sempre onde o amor está.
Não vale a pena pensar que conseguimos caminhar sozinhos, podemos faze-lo durante algum tempo, mas rapidamente iremos perceber que precisamos uns dos outros para evoluir e caminhar para Deus.

Gostaria agora de partilhar com vocês a maravilhosa história de um homem.

Certo dia deparei-me com a história de vida de Nick Vujicic. Claro que cada pessoa tem a sua história mais ou menos feliz, mas a história deste homem é por demais motivo de interesse que mereça ser trazida a vós.
Nick é um australiano que tem agora cerca de 30 anos. Nasceu sem braços, nem pernas, somente possui o tronco, pescoço e cabeça. Sofreu os efeitos de uma doença raríssima chamada de Tetra-Amélia. Quando o vi a primeira vez fiquei nem sei bem como, um misto de tristeza, de pena, de compaixão e de muita alegria também (já irão saber porquê). A história deste homem é extraordinária.
Depois de uma infância difícil, de uns pais que demoraram muito tempo a aceitar a sua condição física, ele estudou e formou-se na universidade. E com 17 anos, formou uma organização sem fins lucrativos, chamada Vida sem membros.
Desde então, Nick é palestrante motivacional e viaja por todo o mundo ensinando as pessoas a viver e valorizar a vida e aquilo que possuem, mostrando-lhes que mesmo sem membros consegue viver e desfrutar de uma vida quase normal.

Este homem, numa sociedade como a nossa estaria condenado á partida. As pessoas olhariam para ele e diriam: coitadinho do aleijadinho, o que irá ser dele?
Mas a verdade é que Nick faz uma vida mais normal do que muitos de nós aqui nesta sala; faz surf, joga cricket, golf, escreve livros, desenha, conduz barcos, faz praticamente tudo o que nós (pessoas julgadas e ditas de normais) fazemos. É quase inacreditável.

O lema deste homem, quando lhe dizem que não pode fazer isto e aquilo, é: E porque não?

Estamos sempre a queixar-nos de tudo e mais alguma coisa. Ou porque chove, ou porque faz sol, ou está frio ou calor. Porque não temos, porque não temos aquilo. Queixamo-nos por mil e um motivos.
E se chamei hoje a história de vida de Nick, é porque eu aprendi com ele uma lição muito importante:

“Eu sou muito importante aos olhos de Deus. Sou seu filho e Ele como meu pai estará sempre comigo para me ajudar e proteger. Não é ao julgamento do homem que tenho de dar atenção ou temer, porque nunca um homem de coração cheio de Amor me deixaria cair na desgraça, me abandonaria porque tenho esta ou aquela deficiência, este ou aquele problema. Por isso Deus que é só amor, nunca me abandonará.”

Tal como Nick tem hoje uma fé inabalável em Deus e acredita que se Deus permitiu que ele nascesse sem braços nem pernas, é porque ele tem uma missão a mostrar aos homens de fraco coração e pouca fé. E este homem, ensina os outros a viverem, a acreditar em si mesmos, a lutarem pela sua evolução, a acreditar que Deus está sempre presente nas nossas vidas.

Tenhamos Esperança na Caridade. Esperança em Deus, e que sejamos sempre caridosos para nós próprios e para com os outros. Pois no final, a única coisa que levaremos desta existência é mesmo a nossa condição moral, boa ou má, conforme a nossa sementeira ao longo da nossa existência física.

Não vale a pena mostrar por fora o que não se é por dentro, pois enganamos os outros, mas não enganamos Deus.

Termino com uma citação de Allan Kardec, que nos diz o seguinte:

“O homem é assim o árbitro constante de sua própria sorte. Ele pode aliviar o seu suplício ou prolongá-lo indefinidamente. Sua felicidade ou sua desgraça dependem da sua vontade de fazer o bem.”

Obrigado, 

Dezembro 2012

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Breves noções sobre Mediunidade


Alguém saberá dizer-me o que escondo na minha mão?

O desconhecimento não significa que algo não existe. Mas existem pessoas que serão capazes de saber a reposta, porque conseguem ver o que muitos outros não conseguem.

Como todos sabemos, o ser humano possui 5 sentidos, que lhe conferem a aptidão para interpretar o mundo á sua volta, através da Audição, do Tacto, do Paladar, do Olfacto e da Visão. E a este conjunto de sentidos, chama-se o sistema sensorial. Mas acontece que, paralelamente, existem mais coisas no mundo cuja leitura e percepção, são ultrapassadas por estes sentidos, como por exemplo as percepções que advém da nossa intuição ou 6º sentido como muitas vezes é designado. Este tipo de percepções, são designadas como extra sensoriais, isto é, ultrapassam os nossos 5 sentidos físicos e entram noutros universos ou dimensões.
A ciência diz-nos recorrentemente que o ser humano só utiliza 10% do seu cérebro e que no nosso corpo (sendo uma das grandes obras de Deus) ainda tanto falta por descobrir, sobretudo no que diz respeito ao seu funcionamento mental e psicológico. E é a este nível, que hoje vou debruçar-me sobre um tema extraordinário e extremamente complexo que é a mediunidade.

O tema da palestra de hoje é: Breves noções sobre Mediunidade.

Resumidamente, a mediunidade é uma faculdade que permite a comunicação entre espíritos encarnados e desencarnados, e tem sido desde os mais longínquos tempos, alvo de extrema curiosidade e estudo. Posso dizer-vos que sobre este tema, ainda hoje o desconhecimento é enorme. E isso tem levado a muitas más interpretações, mitos e medos completamente desmedidos e fantasiosos.

O mundo visto pelos nossos olhos, é a 3 dimensões (ex: Altura, Largura e Comprimento) e são essas dimensões que dão as formas básicas a todos os objectos. Ainda podemos juntar uma 4ª dimensão, que é o Tempo. Mas acontece que a ciência já provou a existência de pelo menos 11 dimensões (através da Teoria das Supercordas), mas antes disso já Kardec nos falava da existência de inúmeras dimensões. Posso dizer-vos que o universo que nós conhecemos é uma pequeníssima fracção do universo global. Tenho plena consciência de que o que vos estou a dizer é algo de difícil entendimento, pois para maioria das pessoas o que se chama de universo, acaba somente por ser o seu pequeno mundo. Muitas vezes só aquele que elas podem e conseguem ver.
Este pequeno apontamento de ciência serve-me para vos mostrar que apesar de não virmos algumas coisas, não quer dizer que elas não existam e que não podemos interagir com elas.

Jesus um dia disse: “Existem muitas moradas na casa do meu Pai”, o que do ponto de vista espiritual vem demonstrar o que a ciência tem vindo a descobrir a passos muito lentos. Porque sabemos que é impossível dissociar o espírito do corpo, e se o cientista descobre muitas coisas é porque o seu espírito reúne já muito saber e inteligência. E nós sabemos que o espírito é o princípio individual da inteligência universal.

Aqui, não estudamos a ciência dos números, nem da física, nem tão pouco as dimensões espaciais. O nosso estudo está baseado nas duas simples dimensões da vida (ou planos): a física e espiritual. O plano espiritual, está longe do alcance da nossa visão (pelo menos para a grande maioria dos encarnados), mas nem por isso temos dúvidas que ele existe e temos plena consciência da sua existência. E entre estes dois planos é possível estabelecer canais de comunicação, sendo aqui que começa a grande odisseia da mediunidade.

Mas afinal o que é a mediunidade?

Desde os tempos mais remotos se ouviu falar de pessoas que comunicavam com espíritos. No antigo Egipto, chamavam-lhes Magos. Os Celtas chamavam-lhes Druidas. Na Grécia antiga e no império Romano, denominavam-nos como sibilas, Pitonisas e pitons. Na idade média, eram os bruxos. Hoje, são chamados de médiuns. Os fenómenos mediúnicos, no passado remoto, eram tidos como maravilhosos, sobrenaturais, sob a feição fantasiosa dos milagres que lhe eram atribuídos em razão do desconhecimento das leis que os regem. Aqueles que podiam manter intercâmbio com o mundo invisível eram considerados privilegiados ou excepcionais.
Lembro-vos que Kardec quando iniciou a Codificação, assistiu a várias sessões de “mesas girantes”, que à época eram os divertimentos privados que alguns médiuns se predispunham a fazer e que muito pouco para lá disto se enveredava nos caminhos do estudo e exercício da mediunidade séria.

Mas devo dizer-vos que a mediunidade é algo inerente a todos nós, não é algo exclusivo a esta ou aquela pessoa. Todos nós somos médiuns e o que nos distingue é a maior ou menor organização sensorial de cada um, possibilitando uma maior ou menor predisposição para os contactos com a esfera espiritual.

Nos escritos sagrados, encontramos muitas referências a aspectos relativos à mediunidade, dou-vos como exemplo uma passagem do evangelho de S. Mateus onde se lê esta narrativa:

Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Portanto, sejam prudentes como as serpentes e simples como as pombas. Tenham cuidado com os homens, porque eles vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas. Vocês vão ser levados diante de governadores e reis, por minha causa, a fim de serem testemunhas para eles e para as nações. Quando vos entregarem, não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, vos será sugerido o que vocês devem dizer. Com efeito, não serão vocês que irão falar, mas sim o Espírito do Pai é quem falará através de vós”. 

Esta passagem, mantém-se tão actual como fora dita quando Jesus andou entre nós. Hoje bem sabemos, que quem possua uma mediunidade mais ostensiva ou notória, é muitas vezes visto pelos outros como sendo alguém de estranho, bizarro, doente ou completamente “avariado das ideias”. Mesmo ainda hoje com a informação e conhecimento que existe sobre o assunto, muitas pessoas teimam em olhar para o lado e denegrir quem tem como missão ajudar-se a si e aos outros.

Partilho agora uma mensagem de Joana de Angelis, psicografada por Divaldo Franco:

"Mediunidade espírita, porém, é a que faculta o intercâmbio consciente, responsável, entre o mundo físico e o espiritual, facultando a sublimação das provas pela superação da dor e pela renúncia às paixões, ao mesmo tempo abrindo à criatura os horizontes luminosos para a libertação total, mediante o serviço aos companheiros do caminho humano, gerando amor com os instrumentos da caridade redentora de que ninguém pode prescindir".

A mediunidade ostensiva não é um dom, mas sim uma difícil prova no caminho do progresso e evolução de quem a possui. O preço a pagar pela mediunidade é por vezes muito grande, pois muitas pessoas optam por ignorá-la e nem sequer se darem ao trabalho de entender a excelente ferramenta que Deus lhes concedeu para tanto ajudarem os outros como a si mesmos. Por isso carregam consigo grandes sofrimentos físicos e mentais, bem como grandes desilusões, pois não estão a fazer o uso devido à sua faculdade, para seu próprio bem e bem do próximo.
Através da mediunidade, mais simples ou mais complexa, se assim posso dizer, o ser humano dispõe de um meio extraordinário de evolução e aperfeiçoamento, pois se utilizada em Bem, com Amor, com espírito de sacrifício e abnegação, permite que grandes ensinamentos venham até nós e mais do que isso um grande contributo de evolução moral e intelectual, tanto para o médium, como para todos nós.
Ser possuidor de uma mediunidade ostensiva, deve de ser visto como uma benesse divina, pois é uma ferramenta que Deus colocou à disposição do médium que lhe permite limpar as dívidas do passado, de reencarnações anteriores e por isso deve de ser utilizada para reequilibrar-se no seu processo de evolução moral e espiritual.

Tenhamos consciência que o conhecimento que existe neste planeta está muito aquém do pleno conhecimento que existe no universo. Através da mediunidade, é possível obter mais conhecimento, mais informação que nos está vedada á nossa condição física e planetária, pois este planeta ainda é muito limitado. Mas também ser possuidor de mediunidade, não é por si só sinónimo de poder ter acesso aos espíritos superiores. É fundamental a condição moral do médium no desenvolvimento da sua mediunidade para poder ser transmissor de informações superiores e não ao nível da materialidade.

Allan Kardec, através do Livro dos Médiuns, descreve assim os médiuns:

“Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. (...) Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns.”

É necessário termos atenção e cuidado com o que achamos que pode ou não ser uma faculdade mediúnica mais desenvolvida. Das muitas formas que existe de mediunidade, as mais simples são as sensitivas e a intuição. Dou como exemplo: Sentirmos presenças não visíveis ou quando as ideias surgem na nossa cabeça assim do nada. Ou por exemplo que temos de ir por aquele caminho sem saber bem porquê, mas a isso quase nos sentimos obrigados. Estes são singelos exemplos das influências dos espíritos sobre o nosso quotidiano. Muitos mais existem, obviamente.
A aquisição de conhecimento é fundamental para se distinguir minimamente o que é a imaginação de uma acção espiritual. É fundamental instruirmo-nos. É fundamental sermos esclarecidos.

Uma forma simples de mediunidade é por exemplo uma interacção por via da oração. Dou-vos como exemplo: Oramos a pedir ajuda por alguma situação e somos ajudados. Esta é a forma mais básica de mediunidade, pois falamos com a dimensão espiritual por via do pensamento e o outro lado ouve-nos e interage connosco ajudando-nos de alguma forma. Esse simples laço feito por via do pensamento, faz de nós sensíveis às interacções dos espíritos desencarnados. É a nossa faculdade mediúnica mais básica em funcionamento pleno.

O pensamento é o veículo que se utiliza na interacção entre os dois planos, físico e espiritual.

Sobre o bom ou mau da mediunidade, devo dizer-vos antes de mais que, Deus não faz nenhuma distinção entre nós sobre quem pode ou não ter uma mediunidade mais desenvolvida ou ostensiva. Pois tanto as pessoas boas como as menos boas, podem possui-la.
A grande questão é que ser possuidor de uma mediunidade mais desenvolvida, esta deve de ser utilizada como meio de ajudar o próximo, em Bem, sob os desígnios do Amor e em cumprimento das Leis de Deus e servirá para o seu possuidor de um grande meio de evolução espiritual. Mas por outro lado, se esta for mal utilizada, o castigo será também ele muito grande, pois quando desencarnar, a sua consciência irá consumi-lo ardentemente por não ter feito bom uso dessa faculdade e apesar de não regredir espiritualmente, será condenado por si próprio pelo mal que trouxe aos outros.

O desenvolvimento da mediunidade deve de ser feito de forma instruída e progressiva, com especial atenção à condição moral, pois esta ditará muito a condição vibratória do individuo e assim o tipo de espíritos que irão na sua maioria interagir com o médium. Um médium com bom coração e boa vontade, será acompanhado e auxiliado por bons espíritos. O contrário também é verdade.

É também muito importante para o médium, saber o que se passa consigo mesmo, saber como funciona a sua faculdade, pois a estabilidade da sua condição mental, psicológica e física dependem muito disso. Uma mediunidade não acompanhada, desinstruída, mal desenvolvida, trazem grandes complicações para o médiun. É muito importante para um médium, ler, instruir-se e sobretudo frequentar um Centro onde pode ser acompanhado e ajudado. E assim o seu caminho se tornará mais proveitoso e a sua missão será sem dúvida levada com muito mais alegria.

Sobre os aspectos maus da mediunidade, recordo-vos a quantidade de pessoas que gravitam à nossa volta que dizendo-se possuidores desta ou daquela faculdade mediúnica, extorquem dinheiro indiscriminadamente às pessoas fracas de espírito e muitas vezes desesperadas. A essas pessoas a ruina material, moral e espiritual espreita e por isso é preciso ter muito cuidado.

Termino com esta frase do Evangelho de S. Mateus: “Dai de graça o que de graça recebestes”

E nunca nos esqueçamos que é na caridade que está a nossa salvação…

Nov 2012

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A Família: Material e Espiritual

“Querido diário, volto a escrever-te de novo sobre os meus problemas familiares. Sei que o assunto não é novo, mas cada vez está a ser mais difícil para mim. Desejo afastar-me desta minha vida, dos meus pais e de alguns familiares de quem não gosto nada. Não me sinto bem com eles, pois não me compreendem, pouco me ajudam e raramente me apoiam na minha vida. Às vezes penso que não sou amado pela minha família e sinto-me muitas vezes como um estranho aqui.
Gosto mais dos meus amigos, pois eles acolhem-me de braços abertos e estão sempre comigo quando preciso deles. Alguns dos meus amigos são especiais, são fabulosos, é com eles que quero sempre estar. Estou farto da minha família.”

Esta pequena história que acabei de ler, poderá ser talvez, uma das muitas passagens de muitos diários escritos por adolescentes. Pois é muito normal nestes períodos da vida, depois da passagem pela infância, ter-se diários que se vão alimentando com os pensamentos e acontecimentos da vida. Os diários são para muitos jovens, o escape para retratar estados de espírito disfuncionais que vão acontecendo nas suas vidas. Mas não é, obviamente de diários que vos quero falar, mas sim daquilo que na sua essência também pode ser o pensamento simples de muitos de nós relativamente às nossas famílias, pois nelas existe sempre quem amamos mais e quem não gostamos assim tanto.

Quem não tem ou nunca teve problemas com familiares?

O tema da palestra de hoje é a família. E nesse sentido, irei falar-vos um pouco do que são famílias materiais ou consanguíneas e as famílias espirituais.

O termo família é derivado do latim “famulus” que significa “servo”, demonstrando assim desta forma que em família devemos de nos servir uns aos outros.
No plano espiritual, o princípio base da família é que todos contribuam para o progresso e evolução comum.
A Constituição da República Portuguesa, no seu artigo 67º, define a família como o elemento fundamental da sociedade, com direito à protecção da sociedade e do Estado e à efectivação de todas as condições que permitam a realização pessoal dos seus membros.

No fundo, a grande conclusão é que as famílias, são os pilares das sociedades, possuem um papel fundamental nas mesmas e são nas famílias que nós encontramos muitas ferramentas de progresso e evolução moral que tanto necessitamos.

Voltando agora às questões apresentadas pelo jovem do diário, estas são muito transversais a todos nós, pois ninguém nasce isolado ou órfão de uma família material e por isso mesmo é muito normal, nós próprios encontrarmos nas nossas famílias, pessoas com as quais não conseguimos estabelecer afinidades, ligações afectivas mais ou menos fortes, sejam estas com pai, mãe, irmãos, etc…, pessoas com quem não conseguimos sequer “ligarmo-nos” sentimentalmente, por exemplo.
O que quero dizer exactamente, é que não é por esta ou aquela pessoa ser nosso familiar consanguíneo muito próximo, que temos de obrigatoriamente e acima de tudo gostar dela e termos que desenvolver grandes afinidades com elas. Mas não esqueçamos que lhe temos o dever do respeito e do amor, ainda que isto seja tão difícil e tão poucas vezes posto em prática.

Os laços consanguíneos, isto é de sangue, não são ligações necessariamente baseadas no passado com alguém, como por exemplo são as afinidades espirituais, pois o corpo precede do corpo, mas o espírito não procede do corpo, porque ele (o espírito) já existia muito antes da formação do corpo. O pai não gera o espírito do filho, fornece-lhe apenas o envoltório corporal (o corpo) e é responsável pelo seu desenvolvimento moral e intelectual no sentido de o fazer evoluir e progredir.
Já agora, digo-vos que á luz da doutrina Cristã, o papel de um pai ou mãe perante seus filhos é enorme e de elevada responsabilidade, não devendo ser vista como tarefa menor ou pouco relevante.

E isto é facilmente explicado por Emmanuel, no livro “Família”:

“Recebamos na criança de hoje, em pleno mundo físico, o companheiro do pretérito que nos bate à porta do coração, suplicando reajuste e socorro. Estendamos a luz da educação e do amor, diminuindo as sombras da penúria e da ignorância”

Sobre a família material, Alan Kardec, através do Livro do evangelho segundo o Espiritismo (Ver cap. IV, nº 13), define-a desta forma:

Os Espíritos que se encarnam numa mesma família, sobretudo como parentes próximos, são os mais frequentemente Espíritos simpáticos, ligados por relações anteriores, que se traduzem pela afeição durante a vida terrena. Mas pode ainda acontecer que esses Espíritos sejam completamente estranhos uns para os outros, separados por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem também por seu antagonismo na Terra, a fim de lhes servir de prova. Os verdadeiros laços de família não são, portanto, os da consanguinidade, mas os da simpatia e da comunhão de pensamentos, que unem os Espíritos, antes, durante e após a encarnação. Donde se segue que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se o fossem pelo sangue. Podem, pois, atrair-se, procurar-se, tornarem-se amigos, enquanto dois irmãos consanguíneos podem repelir-se, como vemos todos os dias.”

Esta análise sucinta, retrata muito bem o que se passam em inúmeras famílias e em todas as sociedades. Vulgarmente, até se costuma dizer muitas vezes que nós escolhemos os amigos, mas não a nossa família. Mas ainda assim temos de viver com ela, tal como se nos apresenta.
O que importa reter da família material, é que a sua constituição e definição, apesar de ser estranha aos nossos olhos, não é de todo um acaso ou uma mera fatalidade do destino. Foco a vossa atenção no facto de a família ser um dos maiores factores de crescimento pessoal que Deus coloca à nossa disposição, pois é através dela que o Homem reforça os laços de amor e desenvolve muitas das ferramentas necessárias ao seu desenvolvimento e crescimento moral e espiritual, como já tinha referido anteriormente.

Mas nem todas as famílias vêem unidas por laços de amor, muitas são construídas e desenvolvidas em bases de ódios e desavenças do passado, por isso, tal como o nosso jovem de quem li uma passagem do seu diário, nos perguntamos muitas vezes: mas porque nasci eu nesta família? E muitas vezes dizemos em forma de desabafo; Que mal fiz eu a Deus?
Mas aqui, Deus não é o culpado. Somos sempre nós.

Muitos são aqueles que se sentem como “deslocados” perante as suas famílias, e muitas são as vezes em que se sentem como se não pertencessem ali. E porque será que assim acontece?

É a partir daqui que se pode começar a analisar as relações humanas mais no plano espiritual, pois é preciso entender que as famílias materiais, são de ordem bem diferente das famílias espirituais.

No livro do evangelho segundo o Espiritismo, Kardec apresenta a seguinte reflexão sobre a família espiritual:

“No espaço, os Espíritos formam grupos ou famílias entrelaçados pela afeição, pela simpatia e pela semelhança das inclinações. Ditosos por se encontrarem juntos, esses Espíritos se buscam uns aos outros. (...) Se uns encarnam e outros não, nem por isso deixam de estar unidos pelo pensamento.”

Os constituintes de uma família material, nem sempre são os mesmos das famílias espirituais, mas uma maioria é, e isso é sentido de forma muito particular por cada de nós, isto é, pela afeição e amor que sentimos pelo outro. Também por aquele sentimento inexplicável que nos faz sentir como se nos conhecêssemos e fossemos amigos do coração desde longa data, por exemplo.
                                              
Devemos de ter consciência que a complexidade do universo, tanto na forma como agimos sobre ele, como na forma como ele interage connosco, que é grande parte fruto da conhecida Lei da causa-efeito. Bem sabemos que somos hoje o fruto do que temos vindo a ser no passado e no presente que rapidamente se transforma no passado, porque o tempo tal como o conhecemos não pára. E no que respeita á nossa família material, esta é também fruto de um continuado processo evolutivo, tanto da nossa parte, como das dos demais que a compõem nesta existência. Estar incluído numa família material, que está fora do contexto da nossa família espiritual, é muitas vezes uma prova de aperfeiçoamento e acerto, não de castigo como facilmente se poderia concluir, advém sim no sentido de contribuir para o nosso desenvolvimento pessoal, pois será nessa família que escolhemos antes de encarnar, que iremos encontrar aquilo que precisamos para evoluir e crescer, num ambiente que nos era estranho até então.

Jesus, explica-nos o conceito de família espiritual na passagem do Evangelho de Mateus:

“Enquanto ele ainda falava à multidão, a mãe e os irmãos dele estavam de fora, procurando falar-lhe. E alguém disse-lhe: ‘olha, tua mãe e teus irmãos estão lá fora e procuram falar-te’.
Mas ele respondeu ao que lhe falava: ‘quem é minha mãe e quem são meus irmãos’?
E estendendo a mão para seus discípulos, disse: ‘Eis minha mãe e meus irmãos; porque aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, irmã e mãe!’”

Por estas palavras, podemos facilmente perceber que através das palavras de Jesus, a família não é mais do que o grupo, conjunto de pessoas ou espíritos, que estão alinhados nos propósitos maiores das leis de Deus e do Amor. Em suma, a nossa união familiar é somente baseada nos laços afectivos.
Não nos podemos esquecer nunca, que as famílias cuja união se encontra nos laços espirituais, jamais se desfazem, são relações duradouras e vão-se fortificando pela purificação contínua dos seus membros.
Por outro lado, as famílias materiais, são frágeis como a própria matéria, extinguem-se com o tempo e quase sempre são dissolvidas moralmente desde a vida actual.

Estas explicações, encontramo-las detalhadas no Livro do Evangelho segundo o Espiritismo, na parte do Parentesco Corporal e Espiritual.

Com estas breves explicações sobre as famílias materiais e espirituais, talvez agora consigamos entender um pouco melhor os porquês de alguns membros das nossas famílias não serem vistos por nós da mesma forma que os restantes. O que quero dizer é que todas as famílias possuem o “deslocados”, as “ovelhas ranhosas”, os “prodígios” ou os “santos”, como se costuma dizer na vulgaridade. Nas famílias materiais apesar de sermos todos diferentes uns dos outros, mas existem laços invisíveis que nos unem mais a uns do que outros.

O que é fundamental entender, é que estamos todos inseridos em famílias, mas fazemos todos parte de uma só, tendo todos nós o mesmo criador.

Devemos de olhar para os membros da nossa família com algum cuidado, isto porque se existem alguns que nos são menos afáveis, é porque tanto nós como eles precisamos uns dos outros para continuarmos na nossa caminhada evolutiva
É nosso dever compreender melhor a nossa família. Bem sei que não é fácil, quando se tem ao nosso lado pessoas com carácter, essência e visão da vida tão diferentes de nós. Mas temos a obrigação de ser diferentes, de nos aceitarmos uns aos outros, pois temos o Amor de Deus ao nosso lado.
Ter consciência do nosso papel no mundo, das nossas obrigações morais. Ter consciência da nossa riqueza interior, é sem dúvida o primeiro passo para entender a nossa família. E mesmo que as feridas sejam grandes, há sempre espaço no nosso coração para os entender e ajudar, seja de que forma for, pois se eles estão na nossa vida é porque precisam tanto de nós como nós precisamos deles mesmo que isso nos seja difícil de entender neste momento.

Concluo com os seguintes pensamentos que resumem bem o nosso papel na vida familiar:

Allan Kardec:

"Não são os da consanguinidade os verdadeiros laços de família e sim os da simpatia e da comunhão de ideias, os quais prendem os espíritos antes, durante e depois de suas encarnações."

E de São Vicente de Paulo:

"Sede bons e caridosos - é a chave dos céus que tendes em vossas mãos. Toda felicidade eterna está encerrada nesta máxima: Amai-vos uns aos outros. Nas regiões espirituais, a alma só pode elevar-se pelo devotamento ao próximo."

Por muito difícil que o seja, devemos de nos esforçar por amar a nossa família, da melhor forma que conseguirmos….

Obrigado, 

Novembro 2012

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Entre o céu e o inferno


Dei por mim a olhar para o céu. Depois para a terra. E finalmente, para a linha que divide o céu da terra. Chamam-lhe a linha do horizonte, e na verdade, divide dois mundos tocando nos dois ao mesmo tempo.
Deixando a minha mente a divagar livremente, comecei a imaginar para onde iria o meu espírito, a partir do momento em que o meu corpo físico deixasse de ter vida?

Irei para o céu? Para o inferno? Ou para um qualquer lugar entre os dois?

Algum de vós já pensou nisto alguma vez?

O título da palestra de hoje é: Entre o Céu e a Inferno.

A ideia do tema, é o abordar de uma forma, o mais simples possível, a temática do pós vida na vertente espiritual.

Creio que todos nós a determinado momento, já pensámos na vida depois da vida. Mesmo aqueles que se dizem ateus e descrentes em tudo, acabam sempre por ter algumas dúvidas e curiosidade sobre o que lhes acontecerá depois da sua existência terrena. Porque no fundo, todos acabam por ter uma noção que a sua existência, não se resume aos aspectos materiais exclusivamente.
Mas também quem como nós, acredita e tem provas da continuidade da vida depois da morte, acaba sempre por se lançar num infindável rol de dúvidas e questões.

Reflectir sobre este assunto, é um exercício muito interessante, pois leva-nos a uma reflexão muito profunda sobre nós mesmos, sobre a nossa identidade no mundo, para tentar descobrir uma hipotética resposta. Obriga-nos olhar para a nossa vida com outros olhos, com outra visão e sobretudo noutra perspectiva que não a visão materialista do mundo em que vivemos. Talvez como se tivéssemos que pegar numa balança espiritual invisível e de cada lado colocar o bom e o mau que fizemos durante a vida. Obriga-nos a deixar a nossa consciência julgar-nos. E isso, acreditem, é muito difícil para muitas pessoas, pois muitos são os que vivem o presente como se não houvesse futuro, por isso tentam esconder-se da sua própria consciência.

Cresci segundo os desígnios da doutrina católica apostólica romana. Desde pequeno que conheci Deus, aprendi a amá-lo e a respeitá-lo. Aprendi os valores do Amor, do Bem e o necessário respeito ao próximo. Aprendi muitos outros bons ensinamentos de vida.
Falaram-me de um céu (o paraíso), de um inferno das penas eternas e de um purgatório (uma zona de limpeza espiritual intermédia).
Durante muito tempo, vivi com muitas dúvidas alimentadas pelos muitos dogmas, isto é, considerações tomadas como verdades absolutas sem qualquer confirmação (como que actos de fé) que a igreja católica criou e raramente ou muito superficialmente me explicou. Raramente encontrei as respostas claras às minhas perguntas, pois muito era baseado na crença, às vezes numa fé cega irracional e inquestionável. E dos muitos dogmas, um que me perturbou desde sempre foi o das explicações que me davam do inferno, para onde iriam todas as almas que se portavam mal na vida. Lugar esse onde elas iriam encontrar o sofrimento das penas eternas, onde um suposto diabo as iria torturar até ao fim dos tempos.
E do lado oposto, haveria um céu, para onde as almas boas iriam viver o descanso eterno e complacente com a felicidade eterna.

Para as almas ainda não suficientemente purificadas, que ainda não estariam suficientemente habilitadas a entrar no céu, mas por outro lado não estavam condenadas a ir para o fogo eterno do inferno, estas iriam para uma zona intermédia chamada de purgatório ou umbral.

Com isto, resumidamente, fui aprendendo a desejar o céu e a temer o inferno. Mas sempre cheio de dúvidas e muita incompreensão.

Pensei muitas vezes nisto:

Mas como é possível existir um ser diabólico conhecido por satanás, tão poderoso quanto Deus?
Como poderia Deus, ser supremo e todo-poderoso, criar um ser igual a ele mas com o coração cheio de maldade e ódio, que torturaria todos quantos fossem parar ao tenebroso reino do inferno, eternamente e por indicação do próprio Deus através do Juízo Final?!

Mas que Deus é este que eu Amo, a quem tantas elevadas qualidades são atribuídas, deixaria um filho seu perder-se eternamente no fogo do inferno sem nunca mais ter possibilidade de obter perdão pelas suas faltas?

Mas do que é feito do perdão, da misericórdia, da resignação e do arrependimento?

Quer isto dizer que quem for mau nunca mais terá direito a ser perdoado e a rectificar as suas acções em prol do seu bem e de quem prejudicou, e um dia ir para o céu?

Nunca gostei de acreditar em algo que não entenda, algo que não compreenda e até por vezes em algo que não veja. Claro que poderão perguntar-me se acredito em Deus, mesmo sem nunca o ter visto. E eu respondo-vos que sim, acredito muito em Deus e vejo-o por toda a parte, sobretudo onde hajam bons corações e se pratique o bem. Eu não preciso de ver Deus para acreditar nele, mas preciso de não ter grandes dúvidas sobre o restante das outras coisas no mundo em que me pedem para acreditar.

Jesus nos fala no que respeita às penas eternas, através do evangelho de S. Mateus (7, 11) transmitindo-nos o seguinte esclarecimento:

"...Ou qual de vós, porventura, é o homem que, se seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, porventura, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? Pois se vós outros, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos Céus, dará boas dádivas aos que lhas pedirem"

E também no Livro de Kardec (o Céu e o Inferno) encontramos uma citação bíblica de Ezequiel (33:11) que diz o seguinte:

“Dizei-lhes: Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta de seu caminho, e viva.”

Portanto meus amigos, Deus, na sua infinita bondade e justiça, jamais condenaria seus filhos às penas eternas. Muito pelo contrário, dá-lhes tantas oportunidades quanto as necessárias para o crescimento espiritual e moral de cada um. E nós sabemos isso perfeitamente, pois temos provas.

O céu e o inferno não existem da forma nem no contexto como me foi ensinado a acreditar.
           
Na verdade, o céu e o inferno não se encontram em lugar nenhum determinado ou confinado. Não é uma cidade, uma região ou um lugar no universo acima ou abaixo de nós. O céu ou o inferno existem no interior de cada um de nós. E não é preciso estar morto fisicamente para se estar no céu ou para o inferno, pois muitas pessoas já os vivem nas suas existências actuais e passadas, mesmo estando vivas.
Dito de outra forma e acreditem em mim ou não, mas o céu ou o inferno está na essência de cada um, fruto dos actos que praticou e pratica, fruto da sementeira de vida que fez para si. Tudo se encontra no coração e consciência de cada um. E cada um encontrará o seu céu ou inferno, na consequência das acções que praticou.
Um dos grandes desígnios das leis de Deus é o nosso progresso, no fundo que todos nós cheguemos ao céu, à perfeição, à felicidade eterna. Por isso nascemos e morremos muitas vezes, até que consigamos atingir a necessária evolução. E tanto durante o período encarnatório, como na esfera espiritual, cada um vive o seu céu ou inferno, e no caso de se encontrar nas esferas inferiores (Umbral ou Inferno) só lá permanecerá o tempo ou que Deus determinar para seu próprio aproveitamento ou então por opção própria, isto é, no concurso do seu livre arbítrio decidindo não acolher no seu coração o Amor e Luz de Deus.

Diz o Espírito São Luís na questão 1004 de “O Livro dos Espíritos”:

“Sendo o estado de sofrimento ou de felicidade proporcionado ao grau de purificação do Espírito, a duração e a natureza de seus sofrimentos dependem do tempo que ele gaste em melhorar-se. À medida que progride e que os sentimentos se lhe depuram, seus sofrimentos diminuem e mudam de natureza.”

Vamos agora falar um pouco mais destes 3 planos, de uma forma muito resumida: O céu, o inferno e o umbral (ou purgatório).

O que é o céu?

As virtudes são eternas e os defeitos temporários. O objectivo do homem é abolir as suas imperfeições e elevar-se progressivamente ao Bem, conquistando dessa forma o seu céu. Na verdade o céu não é um lugar demarcado, trata-se sim de um estado de perfeição espiritual conquistado de forma individual por cada um de nós, através do seu esforço na prática do Bem e do Amor.
No fundo o céu, é a nossa última paragem na obtenção da felicidade suprema, sendo essa felicidade, segundo as palavras de Allan Kardec, o prémio exclusivo dos Espíritos perfeitos ou puros. Eles a atingem só depois de haver progredido em inteligência e moralidade.
Segundo as informações transmitidas pelos espíritos, existem numerosas “cidades ou colónias espirituais”, cada uma adequada a um determinado nível de desenvolvimento espiritual e moral. A vinculação não é arbitrária ou mediante a nossa vontade, mas sim segundo os paradigmas relativos ao nosso desenvolvimento pessoal, moral e espiritual e vão sendo cada vez mais desmaterializadas à medida que se caminha rumo à perfeição.

E o inferno o que é?

O inferno é o plano completamente oposto ao do céu, como não poderia deixar de ser. O inferno é também uma condição íntima de sofrimento temporária, isto é, sairá sempre do inferno quem assim o desejar, pois à luz da grandiosidade de Deus, qualquer espírito que lá se encontre é resgatado se decidir por si aceitar a luz de Deus, o Amor e o arrependimento. O inferno não é uma condição eterna e nunca o poderia ser, pois iria contra tudo o que Jesus nos transmitiu e sobretudo iria contra as próprias leis de Deus. Lembremo-nos que a ninguém lhe é impingido ou obrigado a fazer o mal, por isso, cada um seja em vida ou no plano espiritual, carrega em si as consequências das acções praticadas.
No inferno encontram-se todos os espíritos que vibram em frequências baixas, sempre remetidos aos maiores defeitos do Homem, demasiado ligados ainda à matéria e a tudo o que existe de menos bom no universo.

O purgatório ou umbral

É uma condição de processo transitório de purificação, isto é, os espíritos que se encontram neste plano estão tão longe ou tão perto do céu ou do inferno, conforme a sua consciência lhes permita aceder a um desses planos. Se desejarem ascender ao planos superiores, a sua estadia mais ou menos curta nesta condição dependerá da sua vontade em aceitar os valores do bem, do amor e do arrependimento, no findo aceitar a luz de Deus nas suas consciências. O tempo que um espírito pode permanecer no umbral, apesar de no plano espiritual não existir tempo tal como o conhecemos, é variável podendo durar até séculos na nossa escala temporal.

Em jeito de resumo, é importante reter e perceber que o nosso objectivo é o de evoluir moral e espiritualmente. De acolher o Amor de Deus nos nossos corações. De nos amarmos a nós próprios, amar e fazer ao próximo o que gostaríamos que nos fosse feito. De praticar a caridade. De nos instruirmos e evoluir intelectualmente.
Não devemos de perder tempo a imaginarmo-nos no céu ou o inferno, pois isso é irrelevante neste momento. O que importa é semear o bem hoje e tentar ser o melhor possível tanto para nós mesmos como para os outros. O que importa é amar a Deus e nunca deixar de acreditar que o inferno não é para nós, pois somos seus filhos e Deus ama-nos. Se o acolhermos no nosso coração, significará que temos todas as ferramentas para sermos melhores e assim continuaremos sempre a caminhar para o nosso céu, o de hoje e o de amanhã.

Como disse um dia Francisco Cândido Xavier:

EMBORA NINGUÉM POSSA VOLTAR ATRÁS E FAZER UM NOVO COMEÇO, QUALQUER UM PODE COMEÇAR AGORA E FAZER UM NOVO FIM.

Obrigado, 

Out 2012

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Orgulho e Humildade


Olho para vós, …e vejo pequenos agreiros nos vossos olhos. Olho para mim e vejo que tenho uma trave nos meus.

Serve-me este intróito, à luz do que consta no evangelho de Mateus, para uma simples reflexão sobre um aspecto simples e simultaneamente complicado para o ser humano: A noção da consciência.
É fundamental estar ciente do nosso estado de consciência, para um maior entendimento sobre o que retarda ou adianta a nossa evolução espiritual. Pois a consciência é a noção das realidades internas e externas ao nosso ser.

É o estado objectivo de consciência que nos diferencia uns dos outros. De todos os seres vivos no planeta. Poderei estar errado, mas penso que só o Homem é dotado de consciência, ainda que este nem sempre a ouça convenientemente.
Esta mesma consciência que nos permite diferenciar o bem do mal, em todo o espectro da nossa vivência comum.

Já Sócrates e Platão referiam que o homem deveria de viver e agir de acordo com a sua consciência, num contexto abrangente às leis que nos regem, sejam Físicas, Legais, Naturais ou Morais.

E é sobre um aspecto dentro da Lei Moral que desejo falar-vos. 

“O orgulho vos induz a julgardes mais do que sois, a não aceitar uma comparação que vos possa re­baixar, e a vos considerardes, ao contrário, tão acima dos vossos irmãos, quer em espírito, quer em posição social, quer mesmo em vantagens pessoais, que o menor paralelo vos irrita e aborrece. E o que acontece, então? Entregai-vos à cólera.”

(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo IX)

Esta passagem do livro de Kardec, remete-me para o tema da palestra de hoje:

- Quem de nós nunca sentiu orgulho ou humildade?
            - Afinal o que significam estes sentimentos?
            - Em que medida contribuem estes para a nossa evolução espiritual?

Nas bem-aventuranças, encontramos:

“Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o reino do céu” (Mateus, 3)

O nosso desenvolvimento como seres espirituais ao longo do tempo, leva-nos à experimentação de vasto conjunto de emoções, sensações e experiências mais ou menos felizes, mais ou menos meritórias. Bem sabemos que grande parte do que acontece nas nossas vidas vem da nossa própria vontade, seja esta previamente definida no elemento espiritual com base no que deve de ser o nosso caminho de evolução moral, seja no elemento da matéria, fruto do nosso livre arbítrio e da nossa inteligência e conhecimento adquirido. E como bem sabemos, é neste elemento (material) que avançamos ou estagnamos no desenvolvimento.

É aqui que mais experienciamos os sentimentos terrenos, sejam estes mais ou menos elevados, e é também aqui, que as nossas interacções com os nossos “irmãos”, possuem maior repercussão na formação da nossa personalidade e construção do nosso Ser espiritual.
Somos o que somos e fruto do que fomos, mas podemos sempre ser diferentes do que somos. Para isso é preciso desejar aceitar a mudança.  Ainda que a estrutura da nossa personalidade seja ampla e complexa, centro agora a atenção em dois sentimentos particulares: o Orgulho e a Humildade.          

Na nossa vida, talvez diariamente somos confrontados com diversos tipos de sentimentos, expostos sob diferentes formas mediante diferentes contextos e situações. Sempre criadas por nós mesmos.

O orgulho é um sentimento de dignidade pessoal, que pode ser elevado ou exagerado na apreciação feita a si mesmo. Quando nos sentimos felizes por um acto valoroso, enche-se-nos o espírito de orgulho, mas até que ponto se deve de valorizar o nosso orgulho, seja este manifestado num contexto de bem ou de mal?

Somos confrontados com todo o tipo de bens materiais à nossa disposição, somos bafejados com a criação de necessidades que não temos. Vivemos em sociedades materialistas (grande maioria dos casos), onde basicamente a nossa vida é colocada num ponto onde prevalece a vontade de AQUISIÇÃO, de SER, ou melhor, de PARECER.  

O orgulho fere-nos a Alma, sobretudo quando um Ego frágil se deixa dominar por sentimentos de inferioridade, de baixa auto-estima, de falta de confiança, de falta de fé levando a que o orgulho ganhe terreno sobre o que deveríamos de ser e fazer com base no Amor.
Por vezes não são necessárias grandes manifestações de orgulho para nos ferirem o Ego, simples palavras ou ausência de amor nos ferem com grande violência. Por muito que queiramos despojar-nos de orgulho, é difícil. Pois vive como que colado na nossa pele e quando menos esperamos somos feridos por ele, ou ferimos os outros. Agimos cegos na direcção da perda moral e da real substancia espiritual.

O espírito, a única bagagem que transporta é a que carrega o seu coração. O AMOR. E o orgulho afasta-o de nós.
A matéria traz-nos o sentimento do orgulho, na sua versão negativa, na minha opinião. Enche-nos de orgulho o POSSUIR, o MOSTRAR, e até o HUMILHAR os outros (porque prevalecemos sobre o mais fraco), …no fundo alimentamo-nos dos prazeres materiais, que fugazes na sua existência tanta importância lhes atribuímos.

Um amigo disse-me um dia: “Vive espiritualmente na matéria”

O evangelho traz-nos muitas mensagens de ajuda para enfrentar com fé e força essa missão. Sem dúvida coloca à nossa disposição os meios de nos melhorarmos para evoluirmos no sentido da perfeição espiritual.  Jesus, nosso Mestre, apela à humildade, dela fazendo o passaporte para o reino do céu (relembro a citação do evangelho). Mas quantas vezes nos rendemos ao sentimento da humildade?
Não é fácil, isso vos digo…a humildade possui um preço demasiado elevado para muitos de nós. É incómodo. Traz-nos sentimentos de inferioridade. Fere o Ego.
Atrevo-me a dizer que para muitos, a interpretação de humilde é a de quem pouco possui, alguém mal vestido ou até o simples ingénuo. Mas nada disto é humildade, a humildade que todos precisamos de conquistar. Jesus deixou muito claro o alcance da necessidade de sermos humildes, pois Ele nos disse que se não formos humildes como as crianças, não alcançaremos o reino da verdade. 

Deus não teria permitido à inteligência do homem criar tantos e tão bons meios matérias para nossa satisfação pessoal, se não fosse para uso fruto. Não é destituirmo-nos e despojarmo-nos dos bens materiais que nos tornamos humildes ou menos orgulhosos. Os bens materiais não estão na relação directa com a humildade ou a falta dela.
Aos olhos de Deus somos todos iguais, somos seus filhos. As nossas imperfeições afastam-nos do Pai, o orgulho afasta-nos tanto de Deus como dos nossos irmãos. É isso que necessita de mudança…

O mundo precisa de novos valores, valores de Amor onde o orgulho não encontra lugar.

Valorizamos e acreditamos a evolução da Alma num contexto de Amor. Acreditamos no fim último do aperfeiçoamento da Alma. Desejamos aproximar-mo-nos de Deus.

Se o caminho é longo e penoso, mas é possível fazê-lo acolhendo nos nossos corações sentimentos de Amor que tanta felicidade nos traz no momento presente, como trará no futuro desconhecido.

Termino com uma simples frase: O orgulho destrói o que a humildade constrói.

Obrigado

Jan 2012