Antes de mais, gostaria de desejar-vos festas
felizes, pois esta quadra é sem dúvida um grande momento na vida dos Cristãos,
em que brevemente se celebrará o nascimento do nosso irmão maior Jesus Cristo.
Pedia-vos agora, que por um breve momento, deixassem
de pensar nas coisas da vida. Que limpassem a cabeça dos pensamentos do
momento, das chatices, dos problemas do vosso dia-a-dia e que se deixassem
envolver pelos melhores sentimentos vindos do vosso coração e de um momento de
paz.
Vivemos actualmente um período de grandes mudanças,
a vários níveis. E estas mudanças não são só aqui em Portugal, são na Europa e
no Mundo em geral. Poderão dizer-me que fome, crises, guerras e demais
problemas sempre houve, sempre existiram. É verdade. Mas a realidade é que hoje
bateu à nossa porta, já não se trata só de ouvir falar, de saber que existe. De
ver nos noticiários. Hoje as mudanças são globais.
O mundo mudou e as mudanças são normais e úteis. E
quem quiser nascer, tem de destruir um mundo, como já um grande pensador disse.
Mas a realidade é que o mundo mudou depressa demais para as nossas capacidades,
compreensão e entendimento. Vivemos um momento de transição planetária. E a
destruição que falava há pouco, não é das pessoas, é sim das mentalidades e da
moralidade de cada um.
À palestra de hoje, dei-lhe o nome de: Esperança na
Caridade.
E a mensagem que gostaria de partilhar convosco, não
a pensei como sendo educativa, formativa ou explanativa de um tema ou conceito,
mas antes levar-vos para um lugar ligeiramente diferente; o universo da Fé e da
Esperança.
Estamos a poucos dias do final do ano de 2012 e um
2013 aproxima-se como se fosse um dia de nevoeiro muito denso. Muitas dúvidas
nos invadem a vários níveis, tanto a nível pessoal como colectivo (do país).
Não sabemos o que nos espera, mas pelo que se vai afigurando, o que aí vem não
é muito bom.
Já ouvimos falar muitas vezes que o planeta está a
mudar, isto numa perspectiva espiritual e moral. E não tenhamos grandes dúvidas
que estamos a entrar num ciclo novo da vida deste planeta. Muitas vezes ouvimos
as mensagens da espiritualidade maior a referir que este planeta era de Provas
e Expiações, mas que a seu tempo iria deixar de o ser e começaria um novo ciclo
designado como de Regeneração. Do ponto de vista espiritual, é um processo de
grande evolução, de melhoria, de crescimento para todos quanto o habitam. Mas a
realidade que nos apercebemos é que o momento é difícil e de muito sofrimento
físico devido ao nosso ainda elevado apego à materialidade.
As pessoas estão cada vez mais a ser confrontadas
com os seus maiores receios materialistas, de perderem o que possuem e
regredirem materialmente nas suas existências terrenas. Cada vez mais, estamos
a ser combatidos e amedrontados pelo nosso Ego, pelo nosso Orgulho e Vaidade,
porque por este ou aquele motivo, já não conseguirmos ser o que já fomos.
Cada vez mais as pessoas refugiam-se em credos,
doutrinas ou religiões, procurando um apoio, uma segurança que deixaram de ter,
pois a materialidade abandonou-as e manifestou-se demasiado efémera como meio
de obtenção de felicidade.
Esperança na Caridade, foi o nome que dei a esta
palestra porque acho que o que nós todos mais precisamos neste momento, é de
Esperança. De fé. De Amor-próprio. De caridade, tanto para connosco como para
os outros.
Kardec disse um dia que “Fora da caridade, não há salvação”.
Mas, entendam bem que a caridade é muito mais do que
um simples gesto de dar qualquer coisa a alguém. Isso, de dar algo, é a parte
menor e que por si só pode não valer de nada aos olhos de Deus. O que quero
dizer é que dar, é um acto de caridade, mas só terá valor se for feito com
amor, imprimindo na acção um sentimento de amor e vontade de ajudar quem
precisa.
A caridade para lá de ser uma virtude, possui em si
mesma uma grandiosidade que está para lá da nossa compreensão.
A caridade não tem só um sentido, isto é, não se
trata só de nós fazermos algo pelos outros, mas também de fazermos algo por
nós. Ser caridoso, é ajudar quem mais precisa nos pequenos gestos, no anonimato
dos olhares do mundo. Ser caridoso, é dar um pouco de si, nem que seja um
simples abraço, um olhar fraterno, um pensamento carregado de amor.
Jesus, deixou-nos a maior mensagem dos desígnios de
Deus: “Amai a Deus sobre todas as coisas
e ao próximo como a vós mesmos.”
Kardec
aprimorou esta máxima transmitindo-nos a seguinte mensagem: "Reconhece-se
o verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz
para domar suas más inclinações".
Nós temos conhecimentos sobre a espiritualidade,
sabemos um pouco como funciona a nossa vida, conhecemos o depois da morte do
corpo, sabemos que o nada não existe. Sabemos que muito existe para lá da visão
dos nossos olhos. Sabemos o que pode influenciar um pensamento, um gesto, um
olhar.
E como o momento actual é difícil para todos, mais
para uns do que para outros, dependendo das suas sementeiras. Julgo que é
fundamental erguermos a cabeça para Deus. Procurá-lo nos nossos corações, para
que ainda que não consigamos compreender porque Ele nos traz estes sofrimentos,
mesmo que os achemos injustos aos nossos olhos. É preciso não esquecer que, Ele
é o nosso pai, e todo o bom pai nunca abandona os seus filhos, nunca os deixa à
sua sorte. Pois Deus quer o nosso bem e somente quer que evoluamos no caminho
do amor.
Nem
Jesus, nem a Doutrina Espírita quer que sejamos santos. Os Espíritos superiores sabem das nossas limitações e
os ensinamentos cristãos são exactamente para ajudar-nos a superá-las. O que se
espera do verdadeiro espírita, ou cristão, é o esforço constante em analisar-se
moralmente. E sempre que se perceber fora dos atributos que constituem a
caridade, que erga a cabeça, recomece novamente o caminho, sem desesperos ou
pressa, mas a passos firmes e corajosos.
Não
podemos deixar-nos levar ao desespero, nem a nós nem aos outros. Sempre que ao
nosso lado estiver uma pessoa que esteja mal, devemos de olhar por ela.
Ajuda-la no que estiver ao nosso alcance, no mínimo, se nada tivermos para
dar…temos sempre um abraço, uma mão no ombro ou um sorriso. Deus encontra-se
sempre onde o amor está.
Não
vale a pena pensar que conseguimos caminhar sozinhos, podemos faze-lo durante
algum tempo, mas rapidamente iremos perceber que precisamos uns dos outros para
evoluir e caminhar para Deus.
Gostaria agora de partilhar com vocês a maravilhosa
história de um homem.
Certo dia deparei-me com a história de vida de Nick
Vujicic. Claro que cada pessoa tem a sua história mais ou menos feliz, mas a
história deste homem é por demais motivo de interesse que mereça ser trazida a
vós.
Nick é um australiano que tem agora cerca de 30
anos. Nasceu sem braços, nem pernas, somente possui o tronco, pescoço e cabeça.
Sofreu os efeitos de uma doença raríssima chamada de Tetra-Amélia. Quando o vi
a primeira vez fiquei nem sei bem como, um misto de tristeza, de pena, de
compaixão e de muita alegria também (já irão saber porquê). A história deste
homem é extraordinária.
Depois de uma infância difícil, de uns pais que
demoraram muito tempo a aceitar a sua condição física, ele estudou e formou-se
na universidade. E com 17 anos, formou uma organização sem fins lucrativos,
chamada Vida sem membros.
Desde então, Nick é palestrante motivacional e viaja
por todo o mundo ensinando as pessoas a viver e valorizar a vida e aquilo que
possuem, mostrando-lhes que mesmo sem membros consegue viver e desfrutar de uma
vida quase normal.
Este homem, numa sociedade como a nossa estaria
condenado á partida. As pessoas olhariam para ele e diriam: coitadinho do aleijadinho,
o que irá ser dele?
Mas a verdade é que Nick faz uma vida mais normal do
que muitos de nós aqui nesta sala; faz surf, joga cricket, golf, escreve
livros, desenha, conduz barcos, faz praticamente tudo o que nós (pessoas
julgadas e ditas de normais) fazemos. É quase inacreditável.
O lema deste homem, quando lhe dizem que não pode
fazer isto e aquilo, é: E porque não?
Estamos sempre a queixar-nos de tudo e mais alguma
coisa. Ou porque chove, ou porque faz sol, ou está frio ou calor. Porque não temos,
porque não temos aquilo. Queixamo-nos por mil e um motivos.
E se chamei hoje a história de vida de Nick, é
porque eu aprendi com ele uma lição muito importante:
“Eu sou muito importante aos olhos de Deus. Sou seu
filho e Ele como meu pai estará sempre comigo para me ajudar e proteger. Não é
ao julgamento do homem que tenho de dar atenção ou temer, porque nunca um homem
de coração cheio de Amor me deixaria cair na desgraça, me abandonaria porque
tenho esta ou aquela deficiência, este ou aquele problema. Por isso Deus que é
só amor, nunca me abandonará.”
Tal como Nick tem hoje uma fé inabalável em Deus e
acredita que se Deus permitiu que ele nascesse sem braços nem pernas, é porque ele
tem uma missão a mostrar aos homens de fraco coração e pouca fé. E este homem, ensina
os outros a viverem, a acreditar em si mesmos, a lutarem pela sua evolução, a
acreditar que Deus está sempre presente nas nossas vidas.
Tenhamos Esperança na Caridade. Esperança em Deus, e
que sejamos sempre caridosos para nós próprios e para com os outros. Pois no
final, a única coisa que levaremos desta existência é mesmo a nossa condição
moral, boa ou má, conforme a nossa sementeira ao longo da nossa existência
física.
Não vale a pena mostrar por fora o que não se é por
dentro, pois enganamos os outros, mas não enganamos Deus.
Termino com uma citação de Allan Kardec, que nos diz
o seguinte:
“O homem é assim o
árbitro constante de sua própria sorte. Ele pode aliviar o seu suplício ou
prolongá-lo indefinidamente. Sua felicidade ou sua desgraça dependem da sua
vontade de fazer o bem.”
Obrigado,
Dezembro 2012