sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Esperança na Caridade


Antes de mais, gostaria de desejar-vos festas felizes, pois esta quadra é sem dúvida um grande momento na vida dos Cristãos, em que brevemente se celebrará o nascimento do nosso irmão maior Jesus Cristo.

Pedia-vos agora, que por um breve momento, deixassem de pensar nas coisas da vida. Que limpassem a cabeça dos pensamentos do momento, das chatices, dos problemas do vosso dia-a-dia e que se deixassem envolver pelos melhores sentimentos vindos do vosso coração e de um momento de paz.

Vivemos actualmente um período de grandes mudanças, a vários níveis. E estas mudanças não são só aqui em Portugal, são na Europa e no Mundo em geral. Poderão dizer-me que fome, crises, guerras e demais problemas sempre houve, sempre existiram. É verdade. Mas a realidade é que hoje bateu à nossa porta, já não se trata só de ouvir falar, de saber que existe. De ver nos noticiários. Hoje as mudanças são globais.
O mundo mudou e as mudanças são normais e úteis. E quem quiser nascer, tem de destruir um mundo, como já um grande pensador disse. Mas a realidade é que o mundo mudou depressa demais para as nossas capacidades, compreensão e entendimento. Vivemos um momento de transição planetária. E a destruição que falava há pouco, não é das pessoas, é sim das mentalidades e da moralidade de cada um.

À palestra de hoje, dei-lhe o nome de: Esperança na Caridade.

E a mensagem que gostaria de partilhar convosco, não a pensei como sendo educativa, formativa ou explanativa de um tema ou conceito, mas antes levar-vos para um lugar ligeiramente diferente; o universo da Fé e da Esperança.

Estamos a poucos dias do final do ano de 2012 e um 2013 aproxima-se como se fosse um dia de nevoeiro muito denso. Muitas dúvidas nos invadem a vários níveis, tanto a nível pessoal como colectivo (do país). Não sabemos o que nos espera, mas pelo que se vai afigurando, o que aí vem não é muito bom.
Já ouvimos falar muitas vezes que o planeta está a mudar, isto numa perspectiva espiritual e moral. E não tenhamos grandes dúvidas que estamos a entrar num ciclo novo da vida deste planeta. Muitas vezes ouvimos as mensagens da espiritualidade maior a referir que este planeta era de Provas e Expiações, mas que a seu tempo iria deixar de o ser e começaria um novo ciclo designado como de Regeneração. Do ponto de vista espiritual, é um processo de grande evolução, de melhoria, de crescimento para todos quanto o habitam. Mas a realidade que nos apercebemos é que o momento é difícil e de muito sofrimento físico devido ao nosso ainda elevado apego à materialidade.

As pessoas estão cada vez mais a ser confrontadas com os seus maiores receios materialistas, de perderem o que possuem e regredirem materialmente nas suas existências terrenas. Cada vez mais, estamos a ser combatidos e amedrontados pelo nosso Ego, pelo nosso Orgulho e Vaidade, porque por este ou aquele motivo, já não conseguirmos ser o que já fomos.
Cada vez mais as pessoas refugiam-se em credos, doutrinas ou religiões, procurando um apoio, uma segurança que deixaram de ter, pois a materialidade abandonou-as e manifestou-se demasiado efémera como meio de obtenção de felicidade.

Esperança na Caridade, foi o nome que dei a esta palestra porque acho que o que nós todos mais precisamos neste momento, é de Esperança. De fé. De Amor-próprio. De caridade, tanto para connosco como para os outros.

Kardec disse um dia que “Fora da caridade, não há salvação”.

Mas, entendam bem que a caridade é muito mais do que um simples gesto de dar qualquer coisa a alguém. Isso, de dar algo, é a parte menor e que por si só pode não valer de nada aos olhos de Deus. O que quero dizer é que dar, é um acto de caridade, mas só terá valor se for feito com amor, imprimindo na acção um sentimento de amor e vontade de ajudar quem precisa.
A caridade para lá de ser uma virtude, possui em si mesma uma grandiosidade que está para lá da nossa compreensão.
A caridade não tem só um sentido, isto é, não se trata só de nós fazermos algo pelos outros, mas também de fazermos algo por nós. Ser caridoso, é ajudar quem mais precisa nos pequenos gestos, no anonimato dos olhares do mundo. Ser caridoso, é dar um pouco de si, nem que seja um simples abraço, um olhar fraterno, um pensamento carregado de amor.

Jesus, deixou-nos a maior mensagem dos desígnios de Deus: “Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a vós mesmos.”

Kardec aprimorou esta máxima transmitindo-nos a seguinte mensagem: "Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações".

Nós temos conhecimentos sobre a espiritualidade, sabemos um pouco como funciona a nossa vida, conhecemos o depois da morte do corpo, sabemos que o nada não existe. Sabemos que muito existe para lá da visão dos nossos olhos. Sabemos o que pode influenciar um pensamento, um gesto, um olhar.

E como o momento actual é difícil para todos, mais para uns do que para outros, dependendo das suas sementeiras. Julgo que é fundamental erguermos a cabeça para Deus. Procurá-lo nos nossos corações, para que ainda que não consigamos compreender porque Ele nos traz estes sofrimentos, mesmo que os achemos injustos aos nossos olhos. É preciso não esquecer que, Ele é o nosso pai, e todo o bom pai nunca abandona os seus filhos, nunca os deixa à sua sorte. Pois Deus quer o nosso bem e somente quer que evoluamos no caminho do amor.

Nem Jesus, nem a Doutrina Espírita quer que sejamos santos. Os Espíritos superiores sabem das nossas limitações e os ensinamentos cristãos são exactamente para ajudar-nos a superá-las. O que se espera do verdadeiro espírita, ou cristão, é o esforço constante em analisar-se moralmente. E sempre que se perceber fora dos atributos que constituem a caridade, que erga a cabeça, recomece novamente o caminho, sem desesperos ou pressa, mas a passos firmes e corajosos.

Não podemos deixar-nos levar ao desespero, nem a nós nem aos outros. Sempre que ao nosso lado estiver uma pessoa que esteja mal, devemos de olhar por ela. Ajuda-la no que estiver ao nosso alcance, no mínimo, se nada tivermos para dar…temos sempre um abraço, uma mão no ombro ou um sorriso. Deus encontra-se sempre onde o amor está.
Não vale a pena pensar que conseguimos caminhar sozinhos, podemos faze-lo durante algum tempo, mas rapidamente iremos perceber que precisamos uns dos outros para evoluir e caminhar para Deus.

Gostaria agora de partilhar com vocês a maravilhosa história de um homem.

Certo dia deparei-me com a história de vida de Nick Vujicic. Claro que cada pessoa tem a sua história mais ou menos feliz, mas a história deste homem é por demais motivo de interesse que mereça ser trazida a vós.
Nick é um australiano que tem agora cerca de 30 anos. Nasceu sem braços, nem pernas, somente possui o tronco, pescoço e cabeça. Sofreu os efeitos de uma doença raríssima chamada de Tetra-Amélia. Quando o vi a primeira vez fiquei nem sei bem como, um misto de tristeza, de pena, de compaixão e de muita alegria também (já irão saber porquê). A história deste homem é extraordinária.
Depois de uma infância difícil, de uns pais que demoraram muito tempo a aceitar a sua condição física, ele estudou e formou-se na universidade. E com 17 anos, formou uma organização sem fins lucrativos, chamada Vida sem membros.
Desde então, Nick é palestrante motivacional e viaja por todo o mundo ensinando as pessoas a viver e valorizar a vida e aquilo que possuem, mostrando-lhes que mesmo sem membros consegue viver e desfrutar de uma vida quase normal.

Este homem, numa sociedade como a nossa estaria condenado á partida. As pessoas olhariam para ele e diriam: coitadinho do aleijadinho, o que irá ser dele?
Mas a verdade é que Nick faz uma vida mais normal do que muitos de nós aqui nesta sala; faz surf, joga cricket, golf, escreve livros, desenha, conduz barcos, faz praticamente tudo o que nós (pessoas julgadas e ditas de normais) fazemos. É quase inacreditável.

O lema deste homem, quando lhe dizem que não pode fazer isto e aquilo, é: E porque não?

Estamos sempre a queixar-nos de tudo e mais alguma coisa. Ou porque chove, ou porque faz sol, ou está frio ou calor. Porque não temos, porque não temos aquilo. Queixamo-nos por mil e um motivos.
E se chamei hoje a história de vida de Nick, é porque eu aprendi com ele uma lição muito importante:

“Eu sou muito importante aos olhos de Deus. Sou seu filho e Ele como meu pai estará sempre comigo para me ajudar e proteger. Não é ao julgamento do homem que tenho de dar atenção ou temer, porque nunca um homem de coração cheio de Amor me deixaria cair na desgraça, me abandonaria porque tenho esta ou aquela deficiência, este ou aquele problema. Por isso Deus que é só amor, nunca me abandonará.”

Tal como Nick tem hoje uma fé inabalável em Deus e acredita que se Deus permitiu que ele nascesse sem braços nem pernas, é porque ele tem uma missão a mostrar aos homens de fraco coração e pouca fé. E este homem, ensina os outros a viverem, a acreditar em si mesmos, a lutarem pela sua evolução, a acreditar que Deus está sempre presente nas nossas vidas.

Tenhamos Esperança na Caridade. Esperança em Deus, e que sejamos sempre caridosos para nós próprios e para com os outros. Pois no final, a única coisa que levaremos desta existência é mesmo a nossa condição moral, boa ou má, conforme a nossa sementeira ao longo da nossa existência física.

Não vale a pena mostrar por fora o que não se é por dentro, pois enganamos os outros, mas não enganamos Deus.

Termino com uma citação de Allan Kardec, que nos diz o seguinte:

“O homem é assim o árbitro constante de sua própria sorte. Ele pode aliviar o seu suplício ou prolongá-lo indefinidamente. Sua felicidade ou sua desgraça dependem da sua vontade de fazer o bem.”

Obrigado, 

Dezembro 2012