Dei por mim a
olhar para o céu. Depois para a terra. E finalmente, para a linha que divide o
céu da terra. Chamam-lhe a linha do horizonte, e na verdade, divide dois mundos
tocando nos dois ao mesmo tempo.
Deixando a
minha mente a divagar livremente, comecei a imaginar para onde iria o meu
espírito, a partir do momento em que o meu corpo físico deixasse de ter vida?
Irei para o
céu? Para o inferno? Ou para um qualquer lugar entre os dois?
Algum de vós já pensou nisto alguma vez?
O título da palestra de hoje é: Entre o Céu e a
Inferno.
A ideia do tema, é o abordar de uma forma, o mais
simples possível, a temática do pós vida na vertente espiritual.
Creio que todos nós a determinado momento, já pensámos
na vida depois da vida. Mesmo aqueles que se dizem ateus e descrentes em tudo,
acabam sempre por ter algumas dúvidas e curiosidade sobre o que lhes acontecerá
depois da sua existência terrena. Porque no fundo, todos acabam por ter uma
noção que a sua existência, não se resume aos aspectos materiais
exclusivamente.
Mas também quem como nós, acredita e tem provas da
continuidade da vida depois da morte, acaba sempre por se lançar num infindável
rol de dúvidas e questões.
Reflectir sobre este assunto, é um exercício muito
interessante, pois leva-nos a uma reflexão muito profunda sobre nós mesmos, sobre
a nossa identidade no mundo, para tentar descobrir uma hipotética resposta. Obriga-nos
olhar para a nossa vida com outros olhos, com outra visão e sobretudo noutra
perspectiva que não a visão materialista do mundo em que vivemos. Talvez como
se tivéssemos que pegar numa balança espiritual invisível e de cada lado
colocar o bom e o mau que fizemos durante a vida. Obriga-nos a deixar a nossa
consciência julgar-nos. E isso, acreditem, é muito difícil para muitas pessoas,
pois muitos são os que vivem o presente como se não houvesse futuro, por isso
tentam esconder-se da sua própria consciência.
Cresci segundo os desígnios da doutrina católica
apostólica romana. Desde pequeno que conheci Deus, aprendi a amá-lo e a
respeitá-lo. Aprendi os valores do Amor, do Bem e o necessário respeito ao
próximo. Aprendi muitos outros bons ensinamentos de vida.
Falaram-me de um céu (o paraíso), de um inferno das
penas eternas e de um purgatório (uma zona de limpeza espiritual intermédia).
Durante muito tempo, vivi com muitas dúvidas alimentadas
pelos muitos dogmas, isto é, considerações tomadas como verdades absolutas sem
qualquer confirmação (como que actos de fé) que a igreja católica criou e
raramente ou muito superficialmente me explicou. Raramente encontrei as
respostas claras às minhas perguntas, pois muito era baseado na crença, às
vezes numa fé cega irracional e inquestionável. E dos muitos dogmas, um que me
perturbou desde sempre foi o das explicações que me davam do inferno, para onde
iriam todas as almas que se portavam mal na vida. Lugar esse onde elas iriam
encontrar o sofrimento das penas eternas, onde um suposto diabo as iria
torturar até ao fim dos tempos.
E do lado oposto, haveria um céu, para onde as almas
boas iriam viver o descanso eterno e complacente com a felicidade eterna.
Para as almas ainda não suficientemente purificadas,
que ainda não estariam suficientemente habilitadas a entrar no céu, mas por
outro lado não estavam condenadas a ir para o fogo eterno do inferno, estas
iriam para uma zona intermédia chamada de purgatório ou umbral.
Com isto, resumidamente, fui aprendendo a desejar o
céu e a temer o inferno. Mas sempre cheio de dúvidas e muita incompreensão.
Pensei muitas vezes nisto:
Mas como é possível existir um ser diabólico conhecido por satanás, tão
poderoso quanto Deus?
Como poderia Deus, ser supremo e todo-poderoso, criar um ser igual a
ele mas com o coração cheio de maldade e ódio, que torturaria todos quantos
fossem parar ao tenebroso reino do inferno, eternamente e por indicação do
próprio Deus através do Juízo Final?!
Mas que Deus é este que eu Amo, a quem tantas elevadas qualidades são
atribuídas, deixaria um filho seu perder-se eternamente no fogo do inferno sem
nunca mais ter possibilidade de obter perdão pelas suas faltas?
Mas do que é feito do perdão, da misericórdia, da resignação e do
arrependimento?
Quer isto dizer que quem for mau nunca mais terá direito a ser perdoado
e a rectificar as suas acções em prol do seu bem e de quem prejudicou, e um dia
ir para o céu?
Nunca gostei de acreditar em algo que não entenda, algo
que não compreenda e até por vezes em algo que não veja. Claro que poderão
perguntar-me se acredito em Deus, mesmo sem nunca o ter visto. E eu
respondo-vos que sim, acredito muito em Deus e vejo-o por toda a parte,
sobretudo onde hajam bons corações e se pratique o bem. Eu não preciso de ver
Deus para acreditar nele, mas preciso de não ter grandes dúvidas sobre o restante
das outras coisas no mundo em que me pedem para acreditar.
Jesus nos fala no que respeita às penas eternas, através
do evangelho de S. Mateus (7, 11) transmitindo-nos o seguinte esclarecimento:
"...Ou
qual de vós, porventura, é o homem que, se seu filho lhe pedir pão, lhe dará
uma pedra? Ou, porventura, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? Pois
se vós outros, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais
vosso Pai, que está nos Céus, dará boas dádivas aos que lhas pedirem"
E também no Livro de Kardec (o Céu e
o Inferno) encontramos uma citação bíblica de Ezequiel (33:11) que diz o
seguinte:
“Dizei-lhes:
Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do ímpio,
mas em que o ímpio se converta de seu caminho, e viva.”
Portanto meus amigos, Deus, na sua infinita
bondade e justiça, jamais condenaria seus filhos às penas eternas. Muito pelo
contrário, dá-lhes tantas oportunidades quanto as necessárias para o crescimento
espiritual e moral de cada um. E nós sabemos isso perfeitamente, pois temos
provas.
O céu e o inferno não existem da forma nem no
contexto como me foi ensinado a acreditar.
Na verdade, o céu e o inferno não se encontram em
lugar nenhum determinado ou confinado. Não é uma cidade, uma região ou um lugar
no universo acima ou abaixo de nós. O céu ou o inferno existem no interior de
cada um de nós. E não é preciso estar morto fisicamente para se estar no céu ou
para o inferno, pois muitas pessoas já os vivem nas suas existências actuais e
passadas, mesmo estando vivas.
Dito de outra forma e acreditem em mim ou não, mas o
céu ou o inferno está na essência de cada um, fruto dos actos que praticou e
pratica, fruto da sementeira de vida que fez para si. Tudo se encontra no
coração e consciência de cada um. E cada um encontrará o seu céu ou inferno, na
consequência das acções que praticou.
Um dos grandes desígnios das leis de Deus é o nosso
progresso, no fundo que todos nós cheguemos ao céu, à perfeição, à felicidade
eterna. Por isso nascemos e morremos muitas vezes, até que consigamos atingir a
necessária evolução. E tanto durante o período encarnatório, como na esfera
espiritual, cada um vive o seu céu ou inferno, e no caso de se encontrar nas
esferas inferiores (Umbral ou Inferno) só lá permanecerá o tempo ou que Deus
determinar para seu próprio aproveitamento ou então por opção própria, isto é,
no concurso do seu livre arbítrio decidindo não acolher no seu coração o Amor e
Luz de Deus.
Diz o Espírito São Luís na questão
1004 de “O Livro dos Espíritos”:
“Sendo o
estado de sofrimento ou de felicidade proporcionado ao grau de purificação do
Espírito, a duração e a natureza de seus sofrimentos dependem do tempo que ele
gaste em melhorar-se. À medida que progride e que os sentimentos se lhe
depuram, seus sofrimentos diminuem e mudam de natureza.”
Vamos agora falar um pouco mais destes 3 planos, de
uma forma muito resumida: O céu, o inferno e o umbral (ou purgatório).
O que é o céu?
As virtudes são eternas e os defeitos
temporários. O objectivo do homem é abolir as suas imperfeições e elevar-se
progressivamente ao Bem, conquistando dessa forma o seu céu. Na verdade o céu
não é um lugar demarcado, trata-se sim de um estado de perfeição espiritual
conquistado de forma individual por cada um de nós, através do seu esforço na
prática do Bem e do Amor.
No fundo o céu, é a nossa última paragem na obtenção da felicidade
suprema, sendo essa felicidade, segundo as palavras de Allan Kardec, o prémio exclusivo dos Espíritos perfeitos ou puros. Eles
a atingem só depois de haver progredido em inteligência e moralidade.
Segundo as informações transmitidas pelos espíritos, existem
numerosas “cidades ou colónias espirituais”, cada uma adequada a um determinado
nível de desenvolvimento espiritual e moral. A vinculação não é arbitrária ou
mediante a nossa vontade, mas sim segundo os paradigmas relativos ao nosso
desenvolvimento pessoal, moral e espiritual e vão sendo cada vez mais
desmaterializadas à medida que se caminha rumo à perfeição.
E o inferno o
que é?
O inferno é o plano completamente oposto ao do céu,
como não poderia deixar de ser. O inferno é também uma condição íntima de
sofrimento temporária, isto é, sairá sempre do inferno quem assim o desejar,
pois à luz da grandiosidade de Deus, qualquer espírito que lá se encontre é
resgatado se decidir por si aceitar a luz de Deus, o Amor e o arrependimento. O
inferno não é uma condição eterna e nunca o poderia ser, pois iria contra tudo
o que Jesus nos transmitiu e sobretudo iria contra as próprias leis de Deus.
Lembremo-nos que a ninguém lhe é impingido ou obrigado a fazer o mal, por isso,
cada um seja em vida ou no plano espiritual, carrega em si as consequências das
acções praticadas.
No inferno encontram-se todos os espíritos que
vibram em frequências baixas, sempre remetidos aos maiores defeitos do Homem,
demasiado ligados ainda à matéria e a tudo o que existe de menos bom no
universo.
O purgatório ou
umbral
É uma condição de processo transitório de
purificação, isto é, os espíritos que se encontram neste plano estão tão longe
ou tão perto do céu ou do inferno, conforme a sua consciência lhes permita
aceder a um desses planos. Se desejarem ascender ao planos superiores, a sua
estadia mais ou menos curta nesta condição dependerá da sua vontade em aceitar
os valores do bem, do amor e do arrependimento, no findo aceitar a luz de Deus
nas suas consciências. O tempo que um espírito pode permanecer no umbral,
apesar de no plano espiritual não existir tempo tal como o conhecemos, é
variável podendo durar até séculos na nossa escala temporal.
Em jeito de resumo, é importante reter e perceber
que o nosso objectivo é o de evoluir moral e espiritualmente. De acolher o Amor
de Deus nos nossos corações. De nos amarmos a nós próprios, amar e fazer ao
próximo o que gostaríamos que nos fosse feito. De praticar a caridade. De nos
instruirmos e evoluir intelectualmente.
Não devemos de perder tempo a imaginarmo-nos no céu
ou o inferno, pois isso é irrelevante neste momento. O que importa é semear o
bem hoje e tentar ser o melhor possível tanto para nós mesmos como para os
outros. O que importa é amar a Deus e nunca deixar de acreditar que o inferno
não é para nós, pois somos seus filhos e Deus ama-nos. Se o acolhermos no nosso
coração, significará que temos todas as ferramentas para sermos melhores e assim
continuaremos sempre a caminhar para o nosso céu, o de hoje e o de amanhã.
Como
disse um dia Francisco Cândido Xavier:
EMBORA NINGUÉM POSSA VOLTAR ATRÁS E FAZER UM NOVO COMEÇO, QUALQUER UM
PODE COMEÇAR AGORA E FAZER UM NOVO FIM.
Obrigado,
Out 2012