quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Entre o céu e o inferno


Dei por mim a olhar para o céu. Depois para a terra. E finalmente, para a linha que divide o céu da terra. Chamam-lhe a linha do horizonte, e na verdade, divide dois mundos tocando nos dois ao mesmo tempo.
Deixando a minha mente a divagar livremente, comecei a imaginar para onde iria o meu espírito, a partir do momento em que o meu corpo físico deixasse de ter vida?

Irei para o céu? Para o inferno? Ou para um qualquer lugar entre os dois?

Algum de vós já pensou nisto alguma vez?

O título da palestra de hoje é: Entre o Céu e a Inferno.

A ideia do tema, é o abordar de uma forma, o mais simples possível, a temática do pós vida na vertente espiritual.

Creio que todos nós a determinado momento, já pensámos na vida depois da vida. Mesmo aqueles que se dizem ateus e descrentes em tudo, acabam sempre por ter algumas dúvidas e curiosidade sobre o que lhes acontecerá depois da sua existência terrena. Porque no fundo, todos acabam por ter uma noção que a sua existência, não se resume aos aspectos materiais exclusivamente.
Mas também quem como nós, acredita e tem provas da continuidade da vida depois da morte, acaba sempre por se lançar num infindável rol de dúvidas e questões.

Reflectir sobre este assunto, é um exercício muito interessante, pois leva-nos a uma reflexão muito profunda sobre nós mesmos, sobre a nossa identidade no mundo, para tentar descobrir uma hipotética resposta. Obriga-nos olhar para a nossa vida com outros olhos, com outra visão e sobretudo noutra perspectiva que não a visão materialista do mundo em que vivemos. Talvez como se tivéssemos que pegar numa balança espiritual invisível e de cada lado colocar o bom e o mau que fizemos durante a vida. Obriga-nos a deixar a nossa consciência julgar-nos. E isso, acreditem, é muito difícil para muitas pessoas, pois muitos são os que vivem o presente como se não houvesse futuro, por isso tentam esconder-se da sua própria consciência.

Cresci segundo os desígnios da doutrina católica apostólica romana. Desde pequeno que conheci Deus, aprendi a amá-lo e a respeitá-lo. Aprendi os valores do Amor, do Bem e o necessário respeito ao próximo. Aprendi muitos outros bons ensinamentos de vida.
Falaram-me de um céu (o paraíso), de um inferno das penas eternas e de um purgatório (uma zona de limpeza espiritual intermédia).
Durante muito tempo, vivi com muitas dúvidas alimentadas pelos muitos dogmas, isto é, considerações tomadas como verdades absolutas sem qualquer confirmação (como que actos de fé) que a igreja católica criou e raramente ou muito superficialmente me explicou. Raramente encontrei as respostas claras às minhas perguntas, pois muito era baseado na crença, às vezes numa fé cega irracional e inquestionável. E dos muitos dogmas, um que me perturbou desde sempre foi o das explicações que me davam do inferno, para onde iriam todas as almas que se portavam mal na vida. Lugar esse onde elas iriam encontrar o sofrimento das penas eternas, onde um suposto diabo as iria torturar até ao fim dos tempos.
E do lado oposto, haveria um céu, para onde as almas boas iriam viver o descanso eterno e complacente com a felicidade eterna.

Para as almas ainda não suficientemente purificadas, que ainda não estariam suficientemente habilitadas a entrar no céu, mas por outro lado não estavam condenadas a ir para o fogo eterno do inferno, estas iriam para uma zona intermédia chamada de purgatório ou umbral.

Com isto, resumidamente, fui aprendendo a desejar o céu e a temer o inferno. Mas sempre cheio de dúvidas e muita incompreensão.

Pensei muitas vezes nisto:

Mas como é possível existir um ser diabólico conhecido por satanás, tão poderoso quanto Deus?
Como poderia Deus, ser supremo e todo-poderoso, criar um ser igual a ele mas com o coração cheio de maldade e ódio, que torturaria todos quantos fossem parar ao tenebroso reino do inferno, eternamente e por indicação do próprio Deus através do Juízo Final?!

Mas que Deus é este que eu Amo, a quem tantas elevadas qualidades são atribuídas, deixaria um filho seu perder-se eternamente no fogo do inferno sem nunca mais ter possibilidade de obter perdão pelas suas faltas?

Mas do que é feito do perdão, da misericórdia, da resignação e do arrependimento?

Quer isto dizer que quem for mau nunca mais terá direito a ser perdoado e a rectificar as suas acções em prol do seu bem e de quem prejudicou, e um dia ir para o céu?

Nunca gostei de acreditar em algo que não entenda, algo que não compreenda e até por vezes em algo que não veja. Claro que poderão perguntar-me se acredito em Deus, mesmo sem nunca o ter visto. E eu respondo-vos que sim, acredito muito em Deus e vejo-o por toda a parte, sobretudo onde hajam bons corações e se pratique o bem. Eu não preciso de ver Deus para acreditar nele, mas preciso de não ter grandes dúvidas sobre o restante das outras coisas no mundo em que me pedem para acreditar.

Jesus nos fala no que respeita às penas eternas, através do evangelho de S. Mateus (7, 11) transmitindo-nos o seguinte esclarecimento:

"...Ou qual de vós, porventura, é o homem que, se seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, porventura, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? Pois se vós outros, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos Céus, dará boas dádivas aos que lhas pedirem"

E também no Livro de Kardec (o Céu e o Inferno) encontramos uma citação bíblica de Ezequiel (33:11) que diz o seguinte:

“Dizei-lhes: Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta de seu caminho, e viva.”

Portanto meus amigos, Deus, na sua infinita bondade e justiça, jamais condenaria seus filhos às penas eternas. Muito pelo contrário, dá-lhes tantas oportunidades quanto as necessárias para o crescimento espiritual e moral de cada um. E nós sabemos isso perfeitamente, pois temos provas.

O céu e o inferno não existem da forma nem no contexto como me foi ensinado a acreditar.
           
Na verdade, o céu e o inferno não se encontram em lugar nenhum determinado ou confinado. Não é uma cidade, uma região ou um lugar no universo acima ou abaixo de nós. O céu ou o inferno existem no interior de cada um de nós. E não é preciso estar morto fisicamente para se estar no céu ou para o inferno, pois muitas pessoas já os vivem nas suas existências actuais e passadas, mesmo estando vivas.
Dito de outra forma e acreditem em mim ou não, mas o céu ou o inferno está na essência de cada um, fruto dos actos que praticou e pratica, fruto da sementeira de vida que fez para si. Tudo se encontra no coração e consciência de cada um. E cada um encontrará o seu céu ou inferno, na consequência das acções que praticou.
Um dos grandes desígnios das leis de Deus é o nosso progresso, no fundo que todos nós cheguemos ao céu, à perfeição, à felicidade eterna. Por isso nascemos e morremos muitas vezes, até que consigamos atingir a necessária evolução. E tanto durante o período encarnatório, como na esfera espiritual, cada um vive o seu céu ou inferno, e no caso de se encontrar nas esferas inferiores (Umbral ou Inferno) só lá permanecerá o tempo ou que Deus determinar para seu próprio aproveitamento ou então por opção própria, isto é, no concurso do seu livre arbítrio decidindo não acolher no seu coração o Amor e Luz de Deus.

Diz o Espírito São Luís na questão 1004 de “O Livro dos Espíritos”:

“Sendo o estado de sofrimento ou de felicidade proporcionado ao grau de purificação do Espírito, a duração e a natureza de seus sofrimentos dependem do tempo que ele gaste em melhorar-se. À medida que progride e que os sentimentos se lhe depuram, seus sofrimentos diminuem e mudam de natureza.”

Vamos agora falar um pouco mais destes 3 planos, de uma forma muito resumida: O céu, o inferno e o umbral (ou purgatório).

O que é o céu?

As virtudes são eternas e os defeitos temporários. O objectivo do homem é abolir as suas imperfeições e elevar-se progressivamente ao Bem, conquistando dessa forma o seu céu. Na verdade o céu não é um lugar demarcado, trata-se sim de um estado de perfeição espiritual conquistado de forma individual por cada um de nós, através do seu esforço na prática do Bem e do Amor.
No fundo o céu, é a nossa última paragem na obtenção da felicidade suprema, sendo essa felicidade, segundo as palavras de Allan Kardec, o prémio exclusivo dos Espíritos perfeitos ou puros. Eles a atingem só depois de haver progredido em inteligência e moralidade.
Segundo as informações transmitidas pelos espíritos, existem numerosas “cidades ou colónias espirituais”, cada uma adequada a um determinado nível de desenvolvimento espiritual e moral. A vinculação não é arbitrária ou mediante a nossa vontade, mas sim segundo os paradigmas relativos ao nosso desenvolvimento pessoal, moral e espiritual e vão sendo cada vez mais desmaterializadas à medida que se caminha rumo à perfeição.

E o inferno o que é?

O inferno é o plano completamente oposto ao do céu, como não poderia deixar de ser. O inferno é também uma condição íntima de sofrimento temporária, isto é, sairá sempre do inferno quem assim o desejar, pois à luz da grandiosidade de Deus, qualquer espírito que lá se encontre é resgatado se decidir por si aceitar a luz de Deus, o Amor e o arrependimento. O inferno não é uma condição eterna e nunca o poderia ser, pois iria contra tudo o que Jesus nos transmitiu e sobretudo iria contra as próprias leis de Deus. Lembremo-nos que a ninguém lhe é impingido ou obrigado a fazer o mal, por isso, cada um seja em vida ou no plano espiritual, carrega em si as consequências das acções praticadas.
No inferno encontram-se todos os espíritos que vibram em frequências baixas, sempre remetidos aos maiores defeitos do Homem, demasiado ligados ainda à matéria e a tudo o que existe de menos bom no universo.

O purgatório ou umbral

É uma condição de processo transitório de purificação, isto é, os espíritos que se encontram neste plano estão tão longe ou tão perto do céu ou do inferno, conforme a sua consciência lhes permita aceder a um desses planos. Se desejarem ascender ao planos superiores, a sua estadia mais ou menos curta nesta condição dependerá da sua vontade em aceitar os valores do bem, do amor e do arrependimento, no findo aceitar a luz de Deus nas suas consciências. O tempo que um espírito pode permanecer no umbral, apesar de no plano espiritual não existir tempo tal como o conhecemos, é variável podendo durar até séculos na nossa escala temporal.

Em jeito de resumo, é importante reter e perceber que o nosso objectivo é o de evoluir moral e espiritualmente. De acolher o Amor de Deus nos nossos corações. De nos amarmos a nós próprios, amar e fazer ao próximo o que gostaríamos que nos fosse feito. De praticar a caridade. De nos instruirmos e evoluir intelectualmente.
Não devemos de perder tempo a imaginarmo-nos no céu ou o inferno, pois isso é irrelevante neste momento. O que importa é semear o bem hoje e tentar ser o melhor possível tanto para nós mesmos como para os outros. O que importa é amar a Deus e nunca deixar de acreditar que o inferno não é para nós, pois somos seus filhos e Deus ama-nos. Se o acolhermos no nosso coração, significará que temos todas as ferramentas para sermos melhores e assim continuaremos sempre a caminhar para o nosso céu, o de hoje e o de amanhã.

Como disse um dia Francisco Cândido Xavier:

EMBORA NINGUÉM POSSA VOLTAR ATRÁS E FAZER UM NOVO COMEÇO, QUALQUER UM PODE COMEÇAR AGORA E FAZER UM NOVO FIM.

Obrigado, 

Out 2012