terça-feira, 16 de outubro de 2012

A Riqueza


“Eu. Sou o que sou. Aos olhos de alguns, poderei ser o que tenho. Mas aos olhos de outros, sou somente o que sou. O que tenho, é o que sou, não o que possuo. O que possuo, é nem mais nem menos o que conquistei até hoje, mas não uma conquista de bens, mas sim de amor”

Gosto de começar as minhas palestras com um poema, pois os poemas reflectem um estado de espírito, uma condição do pensamento e de sentimentos traduzidos em palavras. E também é nas palavras que encontramos alento para superar algumas das nossas dificuldades, pois infelizmente para todos nós, vivemos um momento economicamente difícil e por isso mesmo precisamos de nos agarrar ao que nos consegue manter firmes na nossa caminhada de evolução espiritual. Das muitas coisas a que nos podemos agarrar, o ter fé e acreditar no amor de Deus, são sem dúvida dois aspectos fundamentais na conquista da nossa felicidade. Tal como acreditarmos em nós mesmos, também o é.

Falando de riqueza material, que é o tema desta palestra, até que ponto entendem que o dinheiro trás uma felicidade duradoura?

Gostaria de lançar um pequeno desafio e peço-vos que respondam pondo a mão no ar. Façam-no de forma sincera e sem receios.

Quem aqui presente, gostaria de receber 10 milhões de Euros agora?
            Acham que seriam felizes ou conseguiriam ser felizes?

Relativamente aos que gostariam de receber este valor, não importa discutir agora as suas motivações, pois o que está em análise é bem mais do que isso. Mas seja como for, no fundo todos nós sabemos que a felicidade não está no dinheiro, mas sempre vamos insistindo e dar-lhe novas oportunidades de nos fazer felizes. E é o dinheiro que demasiadas vezes nos trás grande parte da nossa infelicidade.

Já agora, terão uma ideia de porque é que não é possível uma distribuição equitativa, isto é por igual, da riqueza que existe neste planeta?

A resposta é mais simples do que possa parecer.

Neste planeta actualmente, seria de todo impossível existir uma distribuição por igual de toda a riqueza nele existente, porque simplesmente, os graus evolutivos de cada um de nós são diferentes, e como tal, cada um despenderia de formas completamente diferente os valores em sua posse, levando a que de uma forma gradual, voltaria a haver ricos e pobres de novo.

A diversidade de valores, interesses e motivações pessoais tornaria de todo impossível haver uma justa repartição de valores materiais. Uns são egoístas, previdentes, outros mais ou menos inteligentes, viciados, caridosos, etc…. Somos todos muito diferentes.

No Livro dos Espíritos (814), lemos sobre a repartição da riqueza que:

“Deus concedeu as provas da riqueza a uns, e da pobreza a outros, “(...) para experimentá-los de modos diferentes. Além disso, como sabeis, essas provas foram escolhidas pelos próprios Espíritos, que nelas, entretanto, sucumbem com frequência.”

E poderemos então colocar a seguinte questão: Para que nos serve a riqueza se nos trás muitas vezes a perdição da alma?

Encontramos a seguinte resposta, no livro do Evangelho Segundo o Espiritismo:

“Pela riqueza pode o homem melhorar a situação material do Planeta onde vive, melhorar a produção através da relação entre os povos; criar maiores e melhores recursos sociais através do estudo, pesquisa e trabalho. (...) Com razão, pois, é a riqueza considerada elemento de progresso.”

Na verdade, a riqueza material tem bem outra utilidade e finalidade daquela que o homem para si definiu ao longo do tempo. A questão é que os nossos olhos não olham para o coração, para os desígnios e valores maiores do Amor e muito menos olham para Deus. E isso leva-os muitas vezes à sua perda…moral e física, mais tarde ou mais cedo.

Tanto a pobreza como a riqueza material, são provas duras e difíceis para o espírito, pois se na pobreza experimentamos uma insuficiência que muitas vezes conduz à revolta, na riqueza abusamos dos recursos à nossa disposição e deturpamos os reais objectivos e valores da vida.
O dinheiro foi criado com uma utilidade e um fim que, à partida era bom, mas com o passar do tempo, este começou a apoderar-se do coração dos Homens, dominando-os a seu belo prazer e escravizando-os muitas vezes até à morte. 

Do evangelho de Lucas (Cap XII, 13 a 21) lemos a seguinte mensagem:

“Havia um homem rico, cujas terras produziram extraordinariamente. Ele então reflectia: que farei, pois não tenho onde guardar minha colheita. Eis o que farei: derrubarei meus celeiros e irei construí-los maiores, e lá colocarei toda a minha colheita e todos os meus bens. E direi à minha alma: tens muitos bens em reserva para vários anos; repousa, come, bebe, regala-te. Mas Deus lhe diz: insensato! Nesta mesma noite sua alma será reclamada. Então de que servirá o que acumulaste?”

E também de Lucas (12:15):

“Tende cuidado de preservar-vos de toda a avareza, porquanto seja qual for a abundância em que o homem se encontre, sua vida não depende dos bens que ele possuir”

Na verdade, ninguém gosta de ser pobre ou menos afortunado, mas também é preciso entender que a Justiça Divina estabeleceu a igualdade de direitos e méritos, mas de forma alguma estabeleceu a desigualdade social, pois refira-se que esta é unicamente obra do nosso orgulho e egoísmo. Muitos homens avaliam-se uns aos outros pelas aparentes condições materiais que possuem, acham-se superiores face a quem possui menos que eles. Não foi Deus que criou o sofrimento do rico (porque os ricos também sofrem) ou do pobre, foi o Homem por si só, através das suas atitudes, que a si trouxe o sofrimento.

Aqui nesta sala, haverá pessoas com mais recursos económicos do que outras, mas ambas estão aqui, pois para lá de entenderem que não é a riqueza material que faz delas melhores seres, também é na aprendizagem dos valores da vida e do amor que conseguem alcançar maiores riquezas do que aquelas que possuem nesta existência.
A maior riqueza está dentro de nós, por muito difícil que isto seja de entender. A maior riqueza jaz no nosso coração e no amor que dispensamos ao próximo.

Para quem é desafortunado, virar-se para Deus recriminando-o é sem dúvida um grande erro. Pois a Deus não podem ser imputadas as culpas dos nossos erros, das nossas faltas e do nosso mau comportamento durante as nossas existências. Não esqueçamos que possuímos livre arbítrio, isto é, a livre escolha pelas nossas acções. Também é verdade que as interacções entre ambos os planos da vida, material e espiritual, são constantes e a todo o momento nos afectam de alguma forma. Boas sementeiras geram boas colheitas, mas também as más sementeiras acabam por ter a sua produção.
Não podemos esquecer que a nossa vida não se resume a esta existência e como tal o pobre não deve lamentar-se totalmente da sua sorte, pois a sua condição de hoje é sempre fruto do que foi no passado.
Tanto o pobre como o rico, têm de ganhar força moral e espiritual para voltar a caminhar rumo á felicidade e aperfeiçoamento, trazendo para si uma riqueza maior que extravasa a do plano material.

E como se fará isso?

Respondo somente com esta frase: A sementeira é livre, mas a colheita obrigatória.

O homem pode considerar-se pobre por possuir poucos bens materiais. Mas quem diz que não possuirá ele uma riqueza imensa dentro de si: o Amor a si mesmo e ao próximo. Relembro que a maior riqueza do homem está na sua essência.

Também os ricos possuem dura prova, pois a riqueza trás desafios para os quais a fraqueza humana é determinante. O caminho fácil aberto pelo uso dos bens, a avareza, a ganância, o egoísmo, o orgulho, a vaidade, são algumas das duras provas que o espírito do rico tem de ultrapassar. A grande maioria sucumbe facilmente, pois a cegueira materialista torna-se a vivência de uma existência vazia de moralidade e de valores.

Para ilustrar bem a mossa posição material no mundo, partilho esta mensagem de Francisco Cândido Xavier:

Nasceste no lar que Precisavas;
Vestiste o Corpo Físico que merecias;
Moras onde melhor Deus te proporcionou,
De acordo com teu adiantamento;
Possuis os recursos financeiros coerentes com as tuas necessidades,
Nem mais, nem menos, mas o justo para as tuas lutas terrenas;
Teu ambiente de trabalho é o que elegeste espontaneamente para tua realização;
Teus Parentes e AMIGOS, são as almas que atraíste, com a tua própria afinidade;
Portanto, teu DESTINO está constantemente sob teu controle,
Tu escolhes, eleges, atrais, buscas, expulsas, modificas,
Tudo aquilo que te rodeia a existência;
Teus pensamentos e vontades
São a chave de teus actos e atitudes,
São as fontes de atracção e repulsão na tua JORNADA, vivência;
Não reclames nem te faças de vítima;
Antes de tudo, analisa e observa;
A MUDANÇA ESTÁ EM TUAS MÃOS,
Reprograma tuas metas,
Busca o bem e viverás melhor,

EMBORA NINGUÉM POSSA VOLTAR ATRÁS E FAZER UM NOVO COMEÇO,
QUALQUER UM PODE COMEÇAR AGORA E FAZER UM NOVO FIM.

A quem vive esta existência com menos recursos, que olhe para Deus, que traga para si os elevados sentimentos do Amor, que rogue pela ajuda do alto, para que Deus (que nunca abandona os seus filhos em circunstância alguma) lhes acuda trazendo o pão e a água que necessitam para viver. Entendam que a sua vida não é vazia de significado, que se não possuem mais recursos foi talvez porque já os possuíram outrora e deles fizeram mau uso, ou somente porque decidiram sujeitar-se às difíceis provas da abnegação para evoluírem mais rapidamente. Nada é por acaso, tudo tem um fim e um propósito. Ainda que custe e seja difícil de entender, todos aqueles a quem escolheram viver esta existência com menos recursos ou muitos existem que somente não lutam por eles por preguiça, que esta existência lhes sirva para crescer moral e espiritualmente, pois no plano espiritual não é o rico que é superior, mas sim todo aquele que traz amor no seu coração, irradiando-a para o exterior na forma de luz.

Aos que mais possuem, é fundamental tomarem consciência do poder que possuem em mãos. Não se trata de um poder sobre o próximo, mas sim de ter a possibilidade de mudar um pouco o mundo à sua volta, o seu próprio mundo e destino. É na caridade que reside a salvação.

Termino com o este meu pensamento:

O homem só leva deste mundo o que conquistou para si, para o seu coração. Na partida para a vida espiritual, a sua bagagem vai vazia de dinheiro e valores materiais, somente carrega o que colheu das sementeiras que fez na sua vida. Se semeou Amor, a sua bagagem seguirá cheia e muito leve. Se semeou ódios, carregará pesada bagagem que lhe dificultará a passagem aos planos superiores da vida e longe ficará da felicidade que tanto desejou.

Obrigado,
Set 2012