Que este seja um momento de paz interior, para que nos
seja possível reflectir um pouco, sobre tudo aquilo que é importante para todos
nós.
Hoje, vou falar-vos de alguns aspectos relativos à Fé.
Começaria então, deixando no ar duas questões:
Acham-se
pessoas de fé?
Acham a vossa
fé grande o suficiente?
Creio que muitos irão responder que sim, pois sobre a
fé podemos fazer alguns raciocínios rápidos e muito simples.
A fé significa tomar como verdade, uma convicção
própria, sem qualquer critério objectivo ou que seja possível comprovar-se. Na
prática, a fé é por si um acto de confiança isolado. Por outras palavras,
acreditamos em algo porque o queremos.
Na condição de cristãos, acreditamos em Deus, logo
temos fé. Acreditamos em Jesus, logo temos fé. Acreditamos na vida depois da morte,
logo temos fé. Acreditamos na felicidade, logo temos fé. Acreditamos naquilo
que não se vê, logo temos fé. Isto só para citar alguns exemplos. Mas atenção
que este tipo de fé cujos exemplos apresentei anteriormente, são designados por
fé divina. Porque também existe outro tipo de fé, chamada de fé humana. Mas
quanto a isso, já lá vamos.
E volto às minhas questões iniciais:
Mas será que
temos mesmo realmente fé?
E mesmo
sabendo que é difícil poder medir-se, qual será o tamanho da nossa fé?
Já agora,
qual é o tipo de fé que temos?
É isso mesmo que vamos tentar descobrir hoje…
Posso desde já adiantar-vos que talvez uma grande
parte dos que estão nesta sala e até lá fora, não fazem a mínima ideia sobre a
fé que possuem. É possível que julguem injustas as minhas palavras, pois
afinal, quem sou eu para dizer que alguém tem ou não fé?! É verdade, mas eu não
vou, nem estou para julgar ninguém, isso não me cabe a mim. Será cada um por si
a fazê-lo.
Muitas são as vezes, em que depositamos mais a nossa
fé naquilo que nos afasta mais da felicidade do que aproxima.
No evangelho segundo o espiritismo,
encontramos mais uma explicação sobre a fé:
“ A fé é humana ou divina, segundo a aplicação que o homem
der às suas faculdades, em relação às necessidades terrenas ou às suas
aspirações celestes e futuras. “
Esta frase, é a explicação dos dois tipos de fé que vos falava há
pouco; a fé divina e a fé humana. Por outras palavras, cada um de nós vive e
exercita-se moralmente nestes dois tipos de fé completamente diferentes. A fé
divina, é o tipo de fé que eleva o Homem aos patamares da espiritualidade, em
que todas as suas acções são de Amor a si mesmo e ao próximo, almejando com isso
atingir a felicidade.
Por outro lado, todo o Homem que vive desejando valores e conquistas
materiais, somente exercita a sua fé humana. Este tipo de fé vai-se revelando
efémera à medida que o Homem descobre a verdadeira essência da sua vida e vai
percebendo que tudo o que é material à sua volta, não está mais do que ao seu
dispor por algum tempo. Tanto tempo quanto Deus lho permita.
Nós aqui, tentamos caminhar e evoluir no plano divino e espiritual. Por
esse facto, necessitamos por vezes de nos colocar à prova no que respeita a
nossa fé.
Assim sendo, apresento-vos agora uma passagem do Evangelho de S. Mateus, onde Jesus disse um dia aos seus
discípulos, “Se tiverdes fé
como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele há-de
passar, e nada vos será impossível.“
E nós, será que conseguimos mover os nossos “montes”?
Teremos nós fé suficiente para isso?
Agora e tal como Jesus se referia naquela
época, os montes não são mais do que as dificuldades da nossa vida, os problemas
e contratempos que vamos enfrentando. E é mesmo perante as nossas dificuldades que
conseguimos medir a nossa fé.
Pessoalmente, cresci no Cristianismo,
acredito em Deus, mas nunca o vi em pessoa, tão pouco Jesus Cristo. Acredito
nas palavras e mensagens de Jesus Cristo, nos seus ensinamentos. Acredito
naquilo que não vejo, mas sinto. Acredito naquilo que os meus olhos não veem
mas o meu coração vê e sente. Isto e muito mais, faz de mim um homem de fé. Sem
dúvida.
Mas vamos ver agora uma realidade um pouco
diferente, mesmo para quem se diz portador de muita fé…
Dou-vos alguns exemplos…
Imaginem que de uma hora para a outra, ficam
desempregados e sem fontes de rendimento.
Será que temos fé suficiente para acreditar
que irão encontrar outro emprego e estabilizar de novo as vossas vidas?
Imaginem que o médico nos diz que possuímos
uma doença muito grave.
Será que possuímos fé suficiente para
acreditar que iremos dar a volta à situação e conseguirmos curar-nos?
Imaginem que perdem um membro importante do
corpo.
Será que temos fé suficiente para ultrapassar
esse problema e continuar a viver o mais normalmente possível como se aquele
membro ainda lá estivesse?
Ou então, dentro do mais simples, quando
estamos com problemas ou a atravessar um momento menos bom na vida, a nossa fé
é suficiente para nos dar força para acreditar que tudo se irá resolver e os
problemas serão ultrapassados.
Sabemos que existem muitas pessoas com níveis
de fé muito fortes, que conseguem ultrapassar grandes contrariedades e
problemas graves. Muitos chamam a isso milagres, mas bem sabemos que os
milagres não existem. Tudo na vida tem um propósito, nada acontece por acaso e sem
o consentimento de Deus. Um dos nossos grandes problemas de compreensão, é que
não somos capazes de perceber que do problema ou contratempo, nasce sempre um
grande bem, uma grande lição. Uma lição que precisamos de aprender para atingir
um bem maior, para nos ajudar a evoluir. E relembro agora o facto que de quando
não aprendemos pelo amor, aprendemos pela dor.
Mas é lógico que a nossa condição demasiado
humana e pouco espiritual, não consegue perceber isso e vemos as contrariedades
da nossa vida como castigos, penitências e não lições úteis. Sem dúvida, que
não é simples para nós aceitar as contrariedades que surgem nas nossas vidas.
Mas porque é que perante os problemas
fraquejamos tanto e, por vezes, de uma forma tão súbita?
Porque à luz das palavras de Jesus, a nossa
fé nem sequer é do tamanho de um minúsculo grão de mostarda. Muitas pessoas que
se dizem portadores de grande fé, na verdade só a têm quando a vida lhes corre
bem. Mas quando as circunstâncias da vida mudam, normalmente para pior, aí já
perdem rapidamente toda a fé que tinham e não fazem mais do que vitimizarem-se
e procurar a piedade dos outros. A fé, fugiu-lhes muito rapidamente.
Para nós, é fácil dizermos que temos fé, que
acreditamos que Deus está sempre presente, que nos ama e nos ajuda sempre que
precisamos. Disto não podemos nem devemos de duvidar, pois mesmo quando nos
achamos sós, na verdade nunca estamos. Mesmo quando as coisas não nos correm
como desejaríamos, nunca deixamos de ter Deus ao nosso lado.
Por muito que nos custe, e posso dizer-vos
que não é fácil fazer isso, devemos de ter fé, alimentar diariamente a nossa
fé, como se de uma planta se tratasse que deve de ser alimentada, cuidada e
regada. O alimento da nossa fé, passa pelo Amor. O amor a nós próprios e ao
próximo. Passa pela prática do bem e da caridade. Passa pela leitura do
evangelho e das mensagens de Bem que Jesus Cristo nos deixou. O alimento da
nossa fé, passa pela mudança e reforma interior que em cada um de nós deve de
ser feita.
No fundo, a nossa realidade é que muito daquilo que acreditamos ser a
nossa fé, acaba muito mais baseada numa fé humana do que divina, apesar de muitas
vezes, confundirmos ambas as coisas.
Quem é possuidor de fé divina, dificilmente vacila perante as
dificuldades da vida, sejam elas de que tipo for, pois munidos de fé, nada tem
a importância que materialmente se atribui às coisas. A fé divina mune o Homem
de forças que ultrapassam muito a sua esfera corpórea, isto é, as suas limitadas
capacidades humanas. É uma fé alimentada pelo amor divino.
Há pouco falei-vos em milagres, pois bem, se vos disse que os milagres
não existem, a explicação para isso é somente uma: os chamados milagres não são
mais que o “trabalho” realizado pela fé divina. Não são mais do que a crença em
Deus como ser omnipotente capaz de fazer tudo o que está para lá do nossa
alcance e por isso mesmo, muitos acontecimentos que julgamos serem obra do
divino, não são mais do que o resultado do poder da nossa fé. Chamem-lhe
milagres se quiserem…
A fé material não vence doenças nem adversidades morais, somente se
centra nos desejos materialistas mais imediatos.
A fé humana só serve para alimentar as aspirações materialistas da
nossa existência, fazendo-nos acreditar que as conquistas materiais desejadas e
atingidas a seu tempo, são bons frutos para nós.
Com o tempo, vamos descobrindo que essa realidade mental que fomos
construindo e idealizando, não por culpa nossa, mas sim por culpa das
sociedades em que vivemos, não é mais do que a construção de uma vida irreal e
que só se traduz em provas nem sempre fáceis de superar.
Alimentemos a nossa fé, cuidemos dela… só assim conseguiremos chegar à
felicidade que tanto ambicionamos.
Obrigado,