Depois da
morte. Foi o nome que dei à palestra
de hoje. Isto porque, a morte sempre despertou uma enorme curiosidade em toda a
humanidade e também a mim próprio. Desde os mais longínquos tempos, que a morte
é temida ou aguardada com muita naturalidade, e em muitas civilizações, é ou
foi vista, como o momento da libertação da alma. Na verdade, nada é mais certo
do que isto. A morte é o momento da libertação, obviamente, desde que aconteça no
momento em que deve e é suposto acontecer. Não de outras formas, como pelo
suicídio, por exemplo.
Hoje, ainda que de uma forma muito breve, espero
conseguir explicar-vos um pouco o que acontece à grande maioria dos irmãos
quando um dia os seus olhos se fecham para a sua vida terrena e voltam a abrir-se
do outro “lado”.
Vou começar então por contar-vos uma pequena história:
“Quando o
horizonte desperta nos meus olhos, vejo o limiar da minha existência. O que
sou, o que fui, onde consegui chegar na pluralidade da minha vida. Quero ser, o
que não fui no meu imaginário. Quero ser, o que sonhei um dia. Levantar a
cabeça, o olhar, e ver onde não virei e deveria de ter tomado outro caminho.
Lançado na escuridão do incerto, fui trilhando caminho nos passos acompanhados
de uma vida com um caminho, para um fim há muito anunciado. Acredito, acredito
no que fiz de bom, lamento o que fiz de errado. Fui filho de um pai e de uma
mãe que, cada um me amou à sua maneira. Lavrei caminhos bravos de ódio por
vezes, mas nunca me faltou amor. Caminhei muitas vezes só, ou nem sempre bem
acompanhado. Travessuras a vida me pregou, só para me ensinar e mostrar outro
caminho que não aquele. Peço perdão.
No limiar do
horizonte vi a minha vida, como uma linha sem fim que não consigo alcançar, mas
que está lá. Sei que para lá dela está a felicidade, a mesma que muito procurei,
onde na verdade ela nunca esteve. Senti frio. Senti as amarguras do nada, do
vazio. Senti-me vazio na existência, senti o poço negro das drogas que
destroçaram o coração dos meus pais e liquidaram o meu corpo. Muito chorei no
meu quarto, olhando para o quadro que lá estava. Quadro este que tinha muito
valor para mim. O computador na secretária estava sempre ligado. Falava com
todos e com ninguém. Muita escuridão eu vivi, eu senti. Nunca amei. Amei-me a
mim da pior forma.
Onde cheguei?
A lado nenhum. Cheguei ao sofrimento, à dor, ao desapego por mim mesmo.
Lembro-me do meu quarto, da bola no chão e de algo pendurado na traseira da
porta. Fui para o outro lado e nada mais vi que escuridão.
Vejam atrás
do quadro na parede, no lado de cima à esquerda. Está la um envelope.
Estou em paz,
sinto e vejo alguma luz. Não estou triste, nem irritado. Estou muito calmo.
Estou acompanhado, com um sujeito que parece o avô, com o seu bigode farto
branco.
Estou a ser
ajudado, porque aceitei sê-lo. E quero ser ajudado!
Peço perdão
aos meus pais que tanto me amaram e nunca deixaram de acreditar em mim.”
A mensagem que acabei de vos ler, foi obtida por meio
da psicografia e é por causa de mensagens como esta, que coloco desde já as
seguintes questões:
- O que nos espera do “outro lado”?
- Lá encontraremos a felicidade
ou o sofrimento?
- Seremos diferentes do que
somos agora?
A morte, é sem dúvida uma temática interessante do
ponto de vista espiritual. Entender a morte, também depende muito da nossa
capacidade de ver a vida. Mas não é a morte que as pessoas temem, mas sim o desconhecimento
que têm sobre ela e mais do que isso, o sentimento (que não é verdadeiro) da
existência do nada, depois da vida que tiveram.
A curiosidade de querer espreitar por detrás do véu e
saber o que se encontra do outro lado, foi sempre uma força motora que nos
aterrorizou ou no mínimo nos faz pensar. Sobre a vida, já sabemos algumas
coisas, porque estamos encarnados e a viver uma, seja lá ela como for e mais ou
menos feliz (tudo depende do ponto de vista).
Pessoalmente, fascina-me saber o que está para lá
desta vida… Porque se eu souber o que está para lá dela, poderei alterar o
momento presente. E é sobre isso que vos vou falar hoje também um pouco.
A mensagem que vos li anteriormente, já nos poderá
ajudar um pouco a perceber, ainda que ligeiramente, o que encontram muitos
irmãos depois de desencarnarem.
Podem acreditar que morrer não nos muda em nada e não
altera nada o que somos agora mesmo. A única coisa que realmente muda, senão
mesmo a única coisa que realmente muda, é o facto de deixarmos de ter o corpo
que temos hoje, bem como todos os pertences materiais nos foram emprestados
temporariamente.
O resto, aquilo que somos interiormente, a nossa alma,
o nosso espírito, continuará exatamente igual, com mais ou menos paz, com mais
ou menos felicidade, conforme aquilo que cada um conquistou e foi construindo
ao longo do tempo.
Não pensem, que morte nos melhora a condição moral ou
nos limpa do passado menos bom. Também não pensem que irão encontrar-se face a
face com Deus, tal como os egípcios acreditavam encontrar Osíris que iria pesar
o seu coração contra uma pena, para determinar se as suas almas iriam para o
reino de felicidade ou se seriam comidas por um animal.
Nós, Cristãos, temos outro tipo de julgamento, mas que
acaba por ser exatamente igual ao de todas as religiões sérias no mundo. Na
verdade, seremos julgados, sim! Mas quem nos julgará, será a nossa própria
consciência. E será em função do seu julgamento que iremos viver mais ou menos
felizes do outro lado da vida. No fundo, acabará por ser mais um pouco da
continuação do que vivemos e somos agora e aqui.
Será a faixa vibratória do nosso espírito que irá
ditar a nossa maior ou menos felicidade no outro plano da vida. Pois se
enquanto encarnados já não eramos felizes, não julguemos que despois de partir,
o seremos. Muito pelo contrário.
Para terem uma melhor ideia, nas reuniões mediúnicas,
muitas vezes são trazidos irmãos sofredores que continuam a ser e a viver as
suas vidas da mesma forma que a viviam enquanto encarnados. Sofrem como
sofriam, dispensam muitas vezes ajuda, deixam o seu Ego e Orgulho guiarem as
suas existências, não admitem erros e muitos deles, fruto de paixões
exacerbadas, continuam a perseguir os seus inimigos que ainda se encontram neste
plano da vida. Continuam a vibrar em faixas vibratórias inferiores,
terrivelmente sofredoras e dolorosas. Para muitos deles, a morte não foi mais
do que a continuação da vida muito infeliz que tinham.
Muitos irmãos nem conseguem perceber em que plano da
vida se encontram e continuam com os vícios que tinham, com os afazeres que
tinham, continuam a fazer o mesmo que sempre faziam. Muitos nem entendem porque
ninguém os vê ou fala com eles. Outros não se encontram em paz porque não
querem deixar os seus bens materiais, abominam e infernizam a vida de quem se
usa deles.
Existem outros porém, que não querem partir da crosta
terrestre para não deixarem desamparados os entes queridos que cá ficaram e que
tanto amam.
As histórias são mais do que muitas e nem todas elas
são felizes.
Voltando à mensagem deste irmão, que contou um pouco
da sua vivência no outro plano da vida, é importante reter alguns aspectos que
me parecem cruciais.
A mensagem divide-se em alguns momentos chave:
1-
A noção da
partida do mundo físico
2-
A tomada de
consciência da vida que se teve, dos caminhos que foram tomados que não foram
os melhores
3-
O desejo de
rectificação e com isso, uma elevação da consciência que o levou a ver mais do
que via antes, nomeadamente a ajuda espiritual de um familiar
4-
O pedido de
perdão a quem ficou
É importante percebermos que este irmão depois de
partir, viveu nas zonas umbralinas, nas zonas de dor e sofrimento, sabe-se lá
durante quanto tempo. Se bem que a vida encarnada dele fora uma desgraça por
culpa das drogas, quando acordou do outro lado, a escuridão, a dor e o
sofrimento foi o mundo que encontrou. No fundo, tudo continuava igual mesmo
depois de morrer, somente o cenário mudara um pouco.
Algo importante a reter desta mensagem é o facto deste
irmão, tal como muitos outros, conseguirem entender e compreender a sua
situação, e com isso começarem a elevar o seu pensamento fruto de uma tomada de
consciência maior de si mesmos e da sua “verdadeira” vida. Muitos são aqueles
que conseguem muito rapidamente perceber a sua realidade e partirem para
momentos de maior felicidade juntamente com quem os ama, juntando-se à sua família
espiritual que o esperava para o ajudar.
E isto acontece porque quando se desencarna, voltamos
a juntar em nós toda a “bagagem moral e intelectual” adquirida ao longo das
vidas e reencarnações sucessivas que já tivemos, e dessa forma como o nosso
conhecimento não se limita ao que temos agora aqui, conseguimos ultrapassar
mais rapidamente as barreiras que nos impedem de progredir em direção a Deus.
Somente as paixões, os vícios, o egoísmo, a vaidade e
o orgulho nos impedem de progredir e evoluir, por isso, muitos são os irmãos
que vagueiam nas zonas umbralinas tentando continuar a alimentar os seus erros,
juntando-se a outros irmãos que partilham das mesmas dores morais.
Enquanto encarnados, a nossa consciência por vezes nos
tortura com o mal que fazemos, não queiram imaginar o peso da consciência
quando nos apercebemos de tudo o que já fomos e fizemos anteriormente em vidas
passadas. Obviamente que agora estou a referir-me aos aspectos negativos.
Mas existe uma coisa que é fundamental e muito
importante nas nossas vidas...
Deus, nosso pai espiritual, está sempre connosco, é
omnipotente, misericordioso e como tal, mesmo quando a nossa consciência nos
pesa muito, Ele nos acolhe sempre de braços abertos e nos concede novas
oportunidades de retificação e melhoramento, desde que o queiramos.
E tal como aconteceu com o irmão da mensagem que vos
trouxe, no final ele elevou-se interiormente e com isso conseguiu sair do
estado mental de sofrimento em que estava envolvido, passando logo a ver um
familiar que o amava e ali estava para o ajudar e amparar.
Quando isso acontece, os nossos olhos abrem-se
automaticamente para uma nova realidade, cheia de mais luz, mais paz e mais
amor. Também conseguimos ver quem nos ama e nos quer ajudar, pois o nosso
coração abriu-se a Deus, aceitou-o e deixou-o entrar.
Quanto mais nos elevarmos, mais perto estamos de Deus
e mais perto estamos da grande Luz que ilumina a nossa vida, mais perto estamos
do grandioso amor divino.
É também muito importante perceber que ninguém
permanece indefinidamente nas zonas umbralinas de dor e sofrimento. Poderão lá
permanecer muito tempo, é verdade, dezenas ou centenas de anos, mas será
sempre, repito, será sempre um estado temporário. Todos acabam por ver a luz do
amor um dia e com isso serão resgatados das zonas de sofrimento, tratados e
chamados a tarefas enobrecedoras de Bem e Amor ao próximo.
Deus deu-nos uma faculdade que se chama o
Livre-Arbítrio, ou a livre escolha, e como tal cada um é senhor das suas
decisões, boas ou más, e delas deverá de ter consciência no futuro ou já no
presente. É também depois da morte que nos apercebemos das consequências do
nosso livre-arbítrio…
Com esta palestra, só espero que tenham entendido uma
coisa muito simples:
A morte não é mais do que fechar os olhos num lado e
acordar no outro. É somente a transição para outra dimensão, tudo o que somos,
mantém-se da forma como o criámos e fomos construindo. Se somos bons ou
queremos ser bons, encontraremos facilmente um pouco mais de felicidade do
outro lado. Se formos maus, será somente mais do mesmo com a agravante da nossa
consciência ainda nos condenar mais pelo que fizemos e com isso, vaguearemos
nas amarguras e sofrimento interior. Até ver a luz de Deus um dia…