sábado, 14 de dezembro de 2013

Jesus nas nossas vidas

“O que fazes, fala tão alto que não consigo ouvir o que dizes…”

Esta frase da autoria do filósofo norte-americano Ralph Emerson, é muito o reflexo do que o ser humano tem vindo a fazer ao longo da sua longa existência no mundo.

O Homem sempre se quis fazer ouvir, sobressair, dominar, quase sempre passando por cima dos outros pelo poder da força.

Dizer que o que fazemos fala tão alto, não é mais do que a expressão das nossas acções em detrimento dos nossos pensamentos. Por outras palavras, as nossas palavras nem sempre correspondem à nossa verdade interior. Dizemos uma coisa, mas fazemos outra.

A palestra de hoje, dei-lhe o nome de: Jesus nas nossas vidas.

Francisco de Assis disse um dia:

“A paz por vós proclamada por palavras, deve de habitar de modo mais abundante nos vossos corações.”

Obviamente que estas sábias palavras de um homem que dedicou a sua vida a Cristo, vivendo na pobreza tentando imitar a vida de Jesus, vem também elucidar-nos do que realmente devemos de ser e parecer nas nossas vidas.

Não deveríamos de parecer uma coisa, sendo outra completamente diferente.

Estamos em Dezembro, o mês do nascimento do nosso irmão maior Jesus Cristo e por isso é bom recordar as bases da doutrina cristã que seguimos, que estudamos, que queremos as nossas vidas.

E quando falamos de Jesus, do que foi a sua vida e dos muitos ensinamentos que nos deixou, somos levados a profundas reflexões sobre afinal quem somos, o que somos e o que estamos aqui a fazer.

E mais do que isso, serão as nossas acções condicentes com os nossos pensamentos?

Aqui nesta casa, estudamos as bases da doutrina espírita, que encontra as suas raízes na doutrina cristã, na obra de Deus e Jesus na Terra. Por isso aqui, é uma casa de Jesus.

E somos uns privilegiados sabem?  

Temos o privilégio de sermos guiados pela luz de Deus, refletida no evangelho e obra de Jesus Cristo. Somos guiados pelos ensinamentos dos espíritos superiores que nas suas manifestações inteligentes, nos transmitem ensinamentos de Amor e bons conselhos para guiarmos as nossas vidas.
Temos o privilégio de sabermos um pouco mais sobre a vida e sobre o que existe depois da vida.
Temos o privilégio de acabar ou reduzir muitas das nossas dúvidas sobre os porquês da nossa existência física. E mesmo que nos seja difícil entender os porquês de muito do que se passa nas nossas vidas, sejam o bom ou o mal, temos conhecimentos e consciência dos porquês desses acontecimentos.

A doutrina ensina-nos os caminhos da nossa salvação, através dos pensamentos e actos de amor a si mesmo e ao próximo. Através da caridade. Através da resignação e aceitação do que somos.

Ensina-nos que todos somos salvos da dor e do sofrimento terrível do inferno ou do umbral, a partir do momento que o queiramos, aceitemos os nossos erros, as nossas faltas, que queiramos trabalhar no sentido da sua rectificação e busca pelo perdão de quem ofendemos e prejudicámos. Sabemos que não existem os castigos eternos. Deus (Ser puro e pleno de Amor) nunca o permitiria e seria contraproducente à sua própria doutrina a nós deixada pelo seu filho primogénito. Deus é amor.

A doutrina ensina-nos a transformar o ódio em Amor e em perdoar de verdade setenta vezes sete, fazer as pazes com o nosso adversário enquanto estamos todos no mesmo caminho evolutivo.

A doutrina ensina-nos a respeitar todos os credos e religiões, pois no fundo sabemos que os credos e religiões, com base cristã, não são mais do que caminhos diferentes que levam ao mesmo fim. E o nosso fim é evoluirmos para a perfeição moral.

A presença de Jesus nas nossas vidas deve de ser uma constante, seja nos nossos pensamentos como nos nossos actos.

A Doutrina espírita é uma benesse que nos foi trazida, fruto de um fabuloso trabalho de Allan Kardec e de tantos outros Homens que nos trazem mensagens do outro lado da vida.
Através dos livros da codificação e de outras centenas de livros psicografados, cada um trás muitas respostas às nossas dúvidas e o mais importante dessas respostas está no facto de terem sido dadas por muitos espíritos superiores, recolhidas por inúmeros médiuns de diferentes partes do mundo.

A doutrina espírita, não pertence a ninguém, não é da imaginação dos Homens, não julga, não condena, não obriga, não trás temor.
A doutrina é somente a continuidade da obra de Jesus na Terra e um roteiro de Paz e de Amor.

Tal como Jesus nos ensinou:

“Amai-vos uns aos outros, tal como Eu vos amei.”

Estudamos e fazemos a continuação da obra de Jesus. E a única coisa a que um espírita é obrigado, é verdadeiramente sê-lo. Isto é, amar a Deus, amar-se a si e amar o próximo. E todo o espírita se vê pela sua força e vontade de se melhorar interiormente para que isso se possa manifestar exteriormente.

Mesmo àqueles que dizem não acreditar em Jesus ou em Deus, temos a obrigação de os aceitar e compreender, mas acima de tudo temos a obrigação de os amar.
Quando a sua hora chegar, eles verão que na verdade existe algo maior do que eles, verão que existe uma inteligência superior que gere todo o universo, que é responsável por tudo o que vai acontecendo no mundo e segundo uma única lógica: a favor da nossa evolução.
A seu tempo perceberão que o mal traz dor e sofrimento e o amor é a salvação da alma.

Poderão agora dizer que onde está a evolução da humanidade nos seus momentos mais terríveis e desastrosos, como guerras, tempestades, desastres naturais, mortes violentas, etc… ?

Pois bem, não nos devemos de esquecer que colhemos o que semeamos e mesmo aquele a quem a desgraça toca em algum momento da sua vida, não sabemos o que foi o seu passado recente ou o seu passado de outras vidas.

Devemos de ter consciência que a natureza do universo é encontrar os seus pontos de equilíbrio e tudo o que acontece, acontece por uma razão lógica e objectiva que só Deus saberá em plenitude. Como sabemos que Deus é Amor, o que acontece só pode acontecer para o próprio bem de cada um e da humanidade. Deus não personifica o mal, muito pelo contrário.

Eu sei que isto é difícil de entender, pois somos avessos à dor e ao sofrimento. Mas quando não aprendemos pelo amor, de que outra forma poderíamos aprender?

Quando ouço Homens que pregam e falam em nome de Deus, obrigam a rituais e a fazer coisas em nome de Deus, defendem as condenações e sofrimentos eternos nos infernos se não forem seguidas as suas ordens e indicações. Sempre em nome de Deus.

Faço-me sempre as mesmas perguntas:

- Quem nos mandatou (Homens) a falar em nome de Deus?

- Porque é que o Deus que advogam, é de uma fé tão restritiva e má que condena eternamente?

Claro que muitas outras questões e reflexões podem ser levantadas, mas eu não consigo conceber Deus desta forma.

Um exemplo disso é o facto de Ele nos ter enviado o seu filho primogénito que nos deixou um verdadeiro “manual de instruções” para chegarmos até Ele.

O Homem fraco deixa-se levar Deuses Homens que se aproveitam das suas fraquezas (morais e intelectuais) bem como dos momentos menos bons das suas vidas.

Jesus, é e tem de ser sempre a Luz que ilumina o nosso caminho. Jesus é amor e é o amor que Ele tem por nós, que nos ajuda a contrariar as dificuldades da vida, as mesmas dificuldades que nós criámos e criamos diariamente, pois só nós somos responsáveis pelo que nos acontece.

Jesus não nos castiga nem tem prazer algum nisso… é nisto que eu acredito.



Quando ouço pessoas dizerem-me que estão fartas e cansadas da vida. Que o desânimo e tristeza são de tal ordem que a vida perdeu sentido. Que nada as agarra à vida e que “desaparecer” seria uma boa solução para resolverem os seus problemas.

É lógico que a minha obrigação é dar-lhes palavras de alento e conforto. Tentar transmitir-lhes amor e que na fé se cultive uma esperança em melhores momentos.
Mas muito mais importante do que as palavras que lhes possa dizer, seria que cada uma dessas pessoas sentisse por si mesma o amor de Deus, o amor do nosso irmão Jesus.

Quando não conseguirmos perceber a razão do nosso sofrimento, só temos que nos virar para Deus, pedindo-lhe paciência e acreditando que se Ele permite que soframos, só pode ser para o nosso próprio melhoramento e nunca porque nos quer castigar ou punir.

Jesus deve de estar sempre presente nas nossas vidas, e para isso não é preciso nada de especial. Basta aproveitarmos cada momento para ajudar alguém, fazermos alguém feliz, dar um abraço e uma palavra de conforto a quem padece de tristeza, aliviar a fome a um faminto, aquecer os corações de quem tem frio e mais tantas outras coisas de Bem e Amor que podemos fazer pelos outros.

Não precisamos de mostrar nada a ninguém. Só temos de o trazer no nosso coração e os outros saberão que Jesus está connosco.

Termino com uma frase de Chico Xavier:

“O Evangelho de Jesus, na Doutrina Espírita, representa uma luz a me mostrar a imensidade do esforço que tenho a fazer para melhorar-me.”


Deus não nos pede mais do que nos melhoremos de dia para dia…


domingo, 1 de dezembro de 2013

As promessas

“Sentia-me abalado, triste, receoso. O mundo desabava dentro de mim e à minha volta. Interiormente, sentia-me desgraçado, de repente sem rumo e sem soluções para resolver tantos problemas. Na verdade, sabia ou pelo menos sentia que muitos problemas tinham a sua causa em mim mesmo; eu era o culpado da sua existência na minha vida, mas só queria ver aqueles problemas resolvidos agora. Na preguiça em tentar encontrar soluções, num desespero último, virei-me para Deus ou uma qualquer entidade divina para que me ajudasse. E eu que não acreditava no divino, percebi que seria a minha última salvação.
Assim, fiz uma promessa. Em troca de um favor, prometi ir a pé a um local sagrado e doar uma quantia de dinheiro.”

Esta pequena história, serve-me para introduzir o tema da palestra de hoje que é: As promessas.

Estou em crer que será raro aquele que nunca fez uma promessa, seja ela de que teor for. Até Jesus Cristo, aquando a sua passagem pela Terra, fez várias promessas. Então porque não somos não as faríamos sendo seres tão fracos e tantas vezes de pouca fé.

Das promessas feitas por Jesus, destaco uma descrita no do Evangelho de S. João:

“Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço. E as fará maiores do que estas, porque eu vou para o Pai. E farei tudo o que pedirdes em meu nome, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.”

Muitos cristãos baseiam a sua necessidade em fazer promessas em algumas passagens bíblicas, tais como esta.

Desde que o Homem cristão quando tomou consciência da sua condição de fraqueza humana e que dificilmente conseguiria atingir muitos dos seus desejos e objectivos, sem uma ajuda extra, entrou numa senda de pedir e prometer.

Se Jesus se ofereceu aos Homens para os ajudar, bastando para isso pedir, então porque não fazê-lo a nosso bom prazer?

E quanto a promessas, fazem-se todo o tipo e género:

            - Que me saia o euromilhões e seja rico
            - Que a minha doença passe
            - Que passe neste ou naquele exame
            - Que o meu inimigo se prejudique de alguma forma
            - Que eu possa comprar este ou aquele bem material que tanto desejo
- Que eu tenha sempre muita saúde (mesmo fumando e bebendo muito, por exemplo)
            - etc etc…

Nós prometemos muito, e oferecemos em troca um sacrifício pessoal ou outra qualquer coisa, tudo para obter alguma coisa em troca. Para muitos, é quase como ir ao supermercado…

Agora pergunto:

- Será isto correcto?

- Será correcto pedir a Deus, a um santo ou qualquer entidade divina que nos conceda isto ou aquilo em troca de um qualquer favor ou sacrifício?

Digo-vos uma coisa; Não deveríamos de pedir coisíssima nenhuma a Jesus ou a Deus. Deveríamos antes de agradecer o que temos.

Quando digo isto, digo-o no sentido em que as únicas coisas que deveríamos de pedir a Deus seria no sentido de nos melhoramos interiormente, de sermos melhores, mais caridosos, mais bondosos, que nos ajudasse a ter e dar mais amor aos nossos irmãos. Deveríamos de pedir ajuda para o nosso melhoramento interior e espiritual.

É errado pedir e prometer em troca de bens ou favores materiais. Pois não deveríamos nunca de nos esquecer que Deus dá-nos tudo o que precisamos em função do nosso estado e adiantamento espiritual e não material.

Nós temos um bom exemplo disso em Francisco Xaviere o que foi a sua vida terrena.

Mais vos digo, que a grande maioria faz promessas porque são preguiçosos.

Porque preferem obter favores sem passarem pela dignidade do trabalho, seja no sentido de se reformarem interiormente, seja pela dignidade do trabalho físico. Preferem obter as coisas como se fosse um serviço que Deus nos tem que prestar, claro em troca de alguma coisa da nossa parte.

É fácil receber sem ter trabalho, sem ser digno do favor prestado. Onde está a virtude?

Outra coisa associada às promessas, é a ignorância e desconhecimento das Leis de Deus, sobretudo da lei maior que é a do Amor.

Na eventualidade de sermos merecedores na concessão de um pedido, este não deve de ser objecto de uma promessa, nem tão pouco ser objecto de uma troca de favores ou pagamento. Pois quem atender ao nosso pedido, a única coisa que desejará receber em troca é o nosso agradecimento.

Os espíritos superiores só querem ser agradecidos em amor, não querem nem pedem nada em troca. Muito menos coisas materiais que nada lhes serviriam.

Amor com amor se paga. E quem pratica o bem não pode nem deve de esperar ou querer nada em troca. A caridade e a bondade devem de ser feitas sem interesse ou pretensão.

E volto a repetir: Os bons espíritos (encarnados e desencarnados) nunca cobram nada do que fazem!

Fazer uma promessa no campo do materialismo, é como estar a fazer chantagem com Deus: Tu dás-me isto e eu dou-te aquilo em troca.

E eu na minha ignorância, penso para mim: Quem sou eu para chantagear Deus?

Isto é um erro.

Nós devemos de pedir, sim.

Pedir não é um erro, muito pelo contrário, até é benéfico para todos nós.

Podemos e devemos de fazer promessas, mas com um teor diferente.

Deveríamos de pedir:

            - Para deixar um vício
            - Para ter mais paciência no dia-a-dia
            - Para aprender a amar aquela pessoa que gostamos muito pouco
            - Para me reconciliar com o meu inimigo
            - Para melhorar interiormente
            - Para nos ajudar a ter paciência, coragem e resignação perante as doenças
            - Para ser mais bondoso e caridoso
- Para nos acompanhar nas lições de aprendizagem dos momentos difícieis da vida
            - etc… etc…

Tenhamos consciência que o Homem não deve esperar que Deus ou qualquer entidade divina lhe conceda todos os seus desejos em troca de nada mais a não ser da sua própria evolução e do seu bem.
E se Deus concede um desejo material a alguém, como por exemplo sair-lhe um prémio monetário, é mais para o por à prova do que para o beneficiar, pois como bem sabemos, é no campo material que o Homem perde a sua espiritualidade.

Em vez de passarmos o tempo a pedinchar a Deus, deveríamos de agradecer, pois se virmos bem, temos tudo o que precisamos mediante o que somos e o que trabalhamos para ter e ser.

Gostaria de citar Chico Xavier com uma bela frase sua:

“Em minhas preces de todo dia, sempre peço coragem e paciência. Coragem para continuar superando as dificuldades do caminho naqueles que não me compreendem. E paciência, para não me entregar ao desânimo diante das minhas fraquezas.”

Sempre gostei muito de ir a Fátima, não vou por nenhuma ocasião particular, vou quando me apetece e quando sinto necessidade de ir beber da energia fabulosa que aquele lugar possui. Não importa no que se acredita, mas sem dúvida que aquele lugar é especial e tem muito Amor para nos carregar as “baterias”.

O que me perturba um pouco quando lá vou, é ver a quantidade de pessoas que ali andam a sacrificar-se para cumprirem promessas. Para mim, e isto é somente a minha opinião, aquelas pessoas desconhecem a leis básicas de Deus, e sobretudo a Lei fundamental que é a Lei do Amor.

Como já referi, as nossas preces são sempre ouvidas e quando atendidas, é porque temos o merecimento para tal. E o merecimento advém da nossa virtude e trabalho renovador.

Pois para Deus, o amor não tem preço. Deveria de ser o nosso estado de espírito permanente.

E depois, qual é a utilidade de sacrificar o corpo em troca de uma promessa?

Não será mais útil a si mesmo e aos propósitos de Deus, que façamos o bem desinteressadamente ao próximo seja qual for a forma?

Quando penso em promessas, gosto sempre de pensar na frase mais importante que rege a nossa existência:

“Amar a Deus e o próximo como a si mesmo e fazer aos outros o que quereríamos que nos fosse feito”

Se Deus é TUDO, o que lhe serve as nossas dores corporais, muitas vezes em troca de bens materiais que não merecemos?

Deus somente quer que evoluamos, que cresçamos interiormente nos campos da moralidade, da intelectualidade, no fundo da espiritualidade. Esse é o “pagamento” que espera de nós.

De que serve a Deus velas, dinheiro, sacrifícios corporais, longos e cansativos quilómetros a pé a um local sagrado, que lhe ofereçamos bens materiais que nada lhe importam, se no fundo continuamos a desviar-nos de sermos melhores?

Deus por acaso virá recolhê-los?

É mais importante sermos cristãos de fé e Amor, do que cristão pagadores materiais em troca de favores divinos, sem trabalho nenhum.

Termino com uma frase belíssima de Chico Xavier que nos diz o seguinte:


“O Cristo não pediu muita coisa, não exigiu que as pessoas escalassem o Everest ou fizessem grandes sacrifícios. Ele somente pediu que nos amássemos uns aos outros”