“Sentia-me
abalado, triste, receoso. O mundo desabava dentro de mim e à minha volta.
Interiormente, sentia-me desgraçado, de repente sem rumo e sem soluções para
resolver tantos problemas. Na verdade, sabia ou pelo menos sentia que muitos
problemas tinham a sua causa em mim mesmo; eu era o culpado da sua existência
na minha vida, mas só queria ver aqueles problemas resolvidos agora. Na
preguiça em tentar encontrar soluções, num desespero último, virei-me para Deus
ou uma qualquer entidade divina para que me ajudasse. E eu que não acreditava
no divino, percebi que seria a minha última salvação.
Assim, fiz
uma promessa. Em troca de um favor, prometi ir a pé a um local sagrado e doar
uma quantia de dinheiro.”
Esta pequena história, serve-me para introduzir o tema
da palestra de hoje que é: As promessas.
Estou em crer que será raro
aquele que nunca fez uma promessa, seja ela de que teor for. Até Jesus Cristo,
aquando a sua passagem pela Terra, fez várias promessas. Então porque não somos
não as faríamos sendo seres tão fracos e tantas vezes de pouca fé.
Das promessas feitas por
Jesus, destaco uma descrita no do Evangelho de S. João:
“Em verdade, em verdade vos digo
que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço. E as fará maiores
do que estas, porque eu vou para o Pai. E farei tudo o que pedirdes em meu
nome, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu
nome, eu o farei.”
Muitos cristãos baseiam a sua
necessidade em fazer promessas em algumas passagens bíblicas, tais como esta.
Desde que o Homem cristão quando tomou consciência da sua condição
de fraqueza humana e que dificilmente conseguiria atingir muitos dos seus desejos
e objectivos, sem uma ajuda extra, entrou numa senda de pedir e prometer.
Se Jesus se ofereceu aos Homens para os ajudar,
bastando para isso pedir, então porque não fazê-lo a nosso bom prazer?
E quanto a promessas, fazem-se todo o tipo e género:
- Que
me saia o euromilhões e seja rico
- Que
a minha doença passe
- Que
passe neste ou naquele exame
- Que
o meu inimigo se prejudique de alguma forma
- Que
eu possa comprar este ou aquele bem material que tanto desejo
- Que eu tenha sempre muita
saúde (mesmo fumando e bebendo muito, por exemplo)
- etc
etc…
Nós prometemos muito, e oferecemos em troca um
sacrifício pessoal ou outra qualquer coisa, tudo para obter alguma coisa em
troca. Para muitos, é quase como ir ao supermercado…
Agora pergunto:
- Será isto correcto?
- Será correcto pedir a Deus, a
um santo ou qualquer entidade divina que nos conceda isto ou aquilo em troca de
um qualquer favor ou sacrifício?
Digo-vos uma coisa; Não deveríamos de pedir coisíssima
nenhuma a Jesus ou a Deus. Deveríamos antes de agradecer o que temos.
Quando digo isto, digo-o no sentido em que as únicas
coisas que deveríamos de pedir a Deus seria no sentido de nos melhoramos
interiormente, de sermos melhores, mais caridosos, mais bondosos, que nos
ajudasse a ter e dar mais amor aos nossos irmãos. Deveríamos de pedir ajuda
para o nosso melhoramento interior e espiritual.
É errado pedir e prometer em troca de bens ou favores
materiais. Pois não deveríamos nunca de nos esquecer que Deus dá-nos tudo o que
precisamos em função do nosso estado e adiantamento espiritual e não material.
Nós temos um bom exemplo disso em Francisco Xaviere o
que foi a sua vida terrena.
Mais vos digo, que a grande maioria faz promessas
porque são preguiçosos.
Porque preferem obter favores sem passarem pela
dignidade do trabalho, seja no sentido de se reformarem interiormente, seja
pela dignidade do trabalho físico. Preferem obter as coisas como se fosse um
serviço que Deus nos tem que prestar, claro em troca de alguma coisa da nossa
parte.
É fácil receber sem ter trabalho, sem ser digno do
favor prestado. Onde está a virtude?
Outra coisa associada às promessas, é a ignorância e
desconhecimento das Leis de Deus, sobretudo da lei maior que é a do Amor.
Na eventualidade de sermos merecedores na concessão de
um pedido, este não deve de ser objecto de uma promessa, nem tão pouco ser
objecto de uma troca de favores ou pagamento. Pois quem atender ao nosso
pedido, a única coisa que desejará receber em troca é o nosso agradecimento.
Os espíritos superiores só querem ser agradecidos em
amor, não querem nem pedem nada em troca. Muito menos coisas materiais que nada
lhes serviriam.
Amor com amor se paga. E quem pratica o bem não pode
nem deve de esperar ou querer nada em troca. A caridade e a bondade devem de
ser feitas sem interesse ou pretensão.
E volto a repetir: Os bons espíritos (encarnados e desencarnados) nunca cobram nada do que
fazem!
Fazer uma promessa no campo do materialismo, é como
estar a fazer chantagem com Deus: Tu dás-me isto e eu dou-te aquilo em troca.
E eu na minha ignorância, penso para mim: Quem sou eu
para chantagear Deus?
Isto é um erro.
Nós devemos de pedir, sim.
Pedir não é um erro, muito pelo contrário, até é
benéfico para todos nós.
Podemos e devemos de fazer promessas, mas com um teor
diferente.
Deveríamos de pedir:
-
Para deixar um vício
-
Para ter mais paciência no dia-a-dia
-
Para aprender a amar aquela pessoa que gostamos muito pouco
-
Para me reconciliar com o meu inimigo
-
Para melhorar interiormente
-
Para nos ajudar a ter paciência, coragem e resignação perante as doenças
-
Para ser mais bondoso e caridoso
- Para nos acompanhar nas
lições de aprendizagem dos momentos difícieis da vida
- etc…
etc…
Tenhamos consciência que o Homem não deve esperar que
Deus ou qualquer entidade divina lhe conceda todos os seus desejos em troca de
nada mais a não ser da sua própria evolução e do seu bem.
E se Deus concede um desejo
material a alguém, como por exemplo sair-lhe um prémio monetário, é mais para o
por à prova do que para o beneficiar, pois como bem sabemos, é no campo
material que o Homem perde a sua espiritualidade.
Em vez de passarmos o tempo a pedinchar a Deus,
deveríamos de agradecer, pois se virmos bem, temos tudo o que precisamos
mediante o que somos e o que trabalhamos para ter e ser.
Gostaria de citar Chico Xavier com uma bela frase sua:
“Em minhas preces de todo dia, sempre peço
coragem e paciência. Coragem para continuar superando as dificuldades do
caminho naqueles que não me compreendem. E paciência, para não me entregar ao
desânimo diante das minhas fraquezas.”
Sempre gostei muito de ir a Fátima, não vou por
nenhuma ocasião particular, vou quando me apetece e quando sinto necessidade de
ir beber da energia fabulosa que aquele lugar possui. Não importa no que se
acredita, mas sem dúvida que aquele lugar é especial e tem muito Amor para nos
carregar as “baterias”.
O que me perturba um pouco quando lá vou, é ver a
quantidade de pessoas que ali andam a sacrificar-se para cumprirem promessas.
Para mim, e isto é somente a minha opinião, aquelas pessoas desconhecem a leis
básicas de Deus, e sobretudo a Lei fundamental que é a Lei do Amor.
Como já referi, as nossas preces são sempre
ouvidas e quando atendidas, é porque temos o merecimento para tal. E o
merecimento advém da nossa virtude e trabalho renovador.
Pois para Deus, o amor não tem preço. Deveria de
ser o nosso estado de espírito permanente.
E depois, qual é a utilidade de sacrificar o
corpo em troca de uma promessa?
Não será mais útil a si mesmo e aos propósitos de
Deus, que façamos o bem desinteressadamente ao próximo seja qual for a forma?
Quando penso em promessas, gosto sempre de pensar
na frase mais importante que rege a nossa existência:
“Amar a Deus e o próximo como a si mesmo e fazer
aos outros o que quereríamos que nos fosse feito”
Se Deus é TUDO, o que lhe serve as nossas dores
corporais, muitas vezes em troca de bens materiais que não merecemos?
Deus somente quer que evoluamos, que cresçamos
interiormente nos campos da moralidade, da intelectualidade, no fundo da
espiritualidade. Esse é o “pagamento” que espera de nós.
De que serve a Deus velas, dinheiro, sacrifícios
corporais, longos e cansativos quilómetros a pé a um local sagrado, que lhe
ofereçamos bens materiais que nada lhe importam, se no fundo continuamos a
desviar-nos de sermos melhores?
Deus por acaso virá recolhê-los?
É mais importante sermos cristãos de fé e Amor,
do que cristão pagadores materiais em troca de favores divinos, sem trabalho
nenhum.
Termino com uma frase belíssima de Chico Xavier
que nos diz o seguinte:
“O Cristo não pediu muita coisa, não exigiu que
as pessoas escalassem o Everest ou fizessem grandes sacrifícios. Ele somente
pediu que nos amássemos uns aos outros”