“O que fazes,
fala tão alto que não consigo ouvir o que dizes…”
Esta frase da autoria do filósofo norte-americano
Ralph Emerson, é muito o reflexo do que o ser humano tem vindo a fazer ao longo
da sua longa existência no mundo.
O Homem sempre se quis fazer ouvir, sobressair, dominar,
quase sempre passando por cima dos outros pelo poder da força.
Dizer que o que fazemos fala tão alto, não é mais do
que a expressão das nossas acções em detrimento dos nossos pensamentos. Por
outras palavras, as nossas palavras nem sempre correspondem à nossa verdade
interior. Dizemos uma coisa, mas fazemos outra.
A palestra de hoje, dei-lhe o nome de: Jesus nas nossas vidas.
Francisco de Assis disse um dia:
“A paz por
vós proclamada por palavras, deve de habitar de modo mais abundante nos vossos
corações.”
Obviamente que estas sábias palavras de um homem que
dedicou a sua vida a Cristo, vivendo na pobreza tentando imitar a vida de
Jesus, vem também elucidar-nos do que realmente devemos de ser e parecer nas
nossas vidas.
Não deveríamos de parecer uma coisa, sendo outra
completamente diferente.
Estamos em Dezembro, o mês do nascimento do nosso irmão
maior Jesus Cristo e por isso é bom recordar as bases da doutrina cristã que
seguimos, que estudamos, que queremos as nossas vidas.
E quando falamos de Jesus, do que foi a sua vida e dos
muitos ensinamentos que nos deixou, somos levados a profundas reflexões sobre
afinal quem somos, o que somos e o que estamos aqui a fazer.
E mais do que isso, serão as nossas acções condicentes
com os nossos pensamentos?
Aqui nesta casa, estudamos as bases da doutrina
espírita, que encontra as suas raízes na doutrina cristã, na obra de Deus e
Jesus na Terra. Por isso aqui, é uma casa de Jesus.
E somos uns privilegiados sabem?
Temos o privilégio de sermos guiados pela luz de Deus,
refletida no evangelho e obra de Jesus Cristo. Somos guiados pelos ensinamentos
dos espíritos superiores que nas suas manifestações inteligentes, nos
transmitem ensinamentos de Amor e bons conselhos para guiarmos as nossas vidas.
Temos o privilégio de sabermos um pouco mais sobre a
vida e sobre o que existe depois da vida.
Temos o privilégio de acabar ou reduzir muitas das
nossas dúvidas sobre os porquês da nossa existência física. E mesmo que nos
seja difícil entender os porquês de muito do que se passa nas nossas vidas,
sejam o bom ou o mal, temos conhecimentos e consciência dos porquês desses
acontecimentos.
A doutrina ensina-nos os caminhos da nossa salvação,
através dos pensamentos e actos de amor a si mesmo e ao próximo. Através da
caridade. Através da resignação e aceitação do que somos.
Ensina-nos que todos somos salvos da dor e do
sofrimento terrível do inferno ou do umbral, a partir do momento que o
queiramos, aceitemos os nossos erros, as nossas faltas, que queiramos trabalhar
no sentido da sua rectificação e busca pelo perdão de quem ofendemos e
prejudicámos. Sabemos que não existem os castigos eternos. Deus (Ser puro e
pleno de Amor) nunca o permitiria e seria contraproducente à sua própria
doutrina a nós deixada pelo seu filho primogénito. Deus é amor.
A doutrina ensina-nos a transformar o ódio em Amor e
em perdoar de verdade setenta vezes sete, fazer as pazes com o nosso adversário
enquanto estamos todos no mesmo caminho evolutivo.
A doutrina ensina-nos a respeitar todos os credos e
religiões, pois no fundo sabemos que os credos e religiões, com base cristã,
não são mais do que caminhos diferentes que levam ao mesmo fim. E o nosso fim é
evoluirmos para a perfeição moral.
A presença de Jesus nas nossas vidas deve de ser uma
constante, seja nos nossos pensamentos como nos nossos actos.
A Doutrina espírita é uma benesse que nos foi trazida,
fruto de um fabuloso trabalho de Allan Kardec e de tantos outros Homens que nos
trazem mensagens do outro lado da vida.
Através dos livros da codificação e de outras centenas
de livros psicografados, cada um trás muitas respostas às nossas dúvidas e o
mais importante dessas respostas está no facto de terem sido dadas por muitos
espíritos superiores, recolhidas por inúmeros médiuns de diferentes partes do
mundo.
A doutrina espírita, não pertence a ninguém, não é da
imaginação dos Homens, não julga, não condena, não obriga, não trás temor.
A doutrina é somente a continuidade da obra de Jesus
na Terra e um roteiro de Paz e de Amor.
Tal como Jesus nos ensinou:
“Amai-vos uns
aos outros, tal como Eu vos amei.”
Estudamos e fazemos a continuação da obra de Jesus. E
a única coisa a que um espírita é obrigado, é verdadeiramente sê-lo. Isto é,
amar a Deus, amar-se a si e amar o próximo. E todo o espírita se vê pela sua
força e vontade de se melhorar interiormente para que isso se possa manifestar
exteriormente.
Mesmo àqueles que dizem não acreditar em Jesus ou em
Deus, temos a obrigação de os aceitar e compreender, mas acima de tudo temos a
obrigação de os amar.
Quando a sua hora chegar, eles verão que na verdade
existe algo maior do que eles, verão que existe uma inteligência superior que
gere todo o universo, que é responsável por tudo o que vai acontecendo no mundo
e segundo uma única lógica: a favor da nossa evolução.
A seu tempo perceberão que o mal traz dor e sofrimento
e o amor é a salvação da alma.
Poderão agora dizer que onde está a evolução da
humanidade nos seus momentos mais terríveis e desastrosos, como guerras,
tempestades, desastres naturais, mortes violentas, etc… ?
Pois bem, não nos devemos de esquecer que colhemos o
que semeamos e mesmo aquele a quem a desgraça toca em algum momento da sua
vida, não sabemos o que foi o seu passado recente ou o seu passado de outras
vidas.
Devemos de ter consciência que a natureza do universo
é encontrar os seus pontos de equilíbrio e tudo o que acontece, acontece por
uma razão lógica e objectiva que só Deus saberá em plenitude. Como sabemos que
Deus é Amor, o que acontece só pode acontecer para o próprio bem de cada um e
da humanidade. Deus não personifica o mal, muito pelo contrário.
Eu sei que isto é difícil de entender, pois somos avessos
à dor e ao sofrimento. Mas quando não aprendemos pelo amor, de que outra forma
poderíamos aprender?
Quando ouço Homens que pregam e falam em nome de Deus,
obrigam a rituais e a fazer coisas em nome de Deus, defendem as condenações e
sofrimentos eternos nos infernos se não forem seguidas as suas ordens e
indicações. Sempre em nome de Deus.
Faço-me sempre as mesmas perguntas:
- Quem nos mandatou (Homens)
a falar em nome de Deus?
- Porque é que o Deus que
advogam, é de uma fé tão restritiva e má que condena eternamente?
Claro que muitas outras questões e reflexões podem ser
levantadas, mas eu não consigo conceber Deus desta forma.
Um exemplo disso é o facto de Ele nos ter enviado o
seu filho primogénito que nos deixou um verdadeiro “manual de instruções” para
chegarmos até Ele.
O Homem fraco deixa-se levar Deuses Homens que se
aproveitam das suas fraquezas (morais e intelectuais) bem como dos momentos
menos bons das suas vidas.
Jesus, é e tem de ser sempre a Luz que ilumina o nosso
caminho. Jesus é amor e é o amor que Ele tem por nós, que nos ajuda a
contrariar as dificuldades da vida, as mesmas dificuldades que nós criámos e
criamos diariamente, pois só nós somos responsáveis pelo que nos acontece.
Jesus não nos castiga nem tem prazer algum nisso… é
nisto que eu acredito.
Quando ouço pessoas dizerem-me que estão fartas e
cansadas da vida. Que o desânimo e tristeza são de tal ordem que a vida perdeu
sentido. Que nada as agarra à vida e que “desaparecer” seria uma boa solução
para resolverem os seus problemas.
É lógico que a minha obrigação é dar-lhes palavras de
alento e conforto. Tentar transmitir-lhes amor e que na fé se cultive uma
esperança em melhores momentos.
Mas muito mais importante do que as palavras que lhes
possa dizer, seria que cada uma dessas pessoas sentisse por si mesma o amor de
Deus, o amor do nosso irmão Jesus.
Quando não conseguirmos perceber a razão do nosso
sofrimento, só temos que nos virar para Deus, pedindo-lhe paciência e
acreditando que se Ele permite que soframos, só pode ser para o nosso próprio
melhoramento e nunca porque nos quer castigar ou punir.
Jesus deve de estar sempre presente nas nossas vidas, e
para isso não é preciso nada de especial. Basta aproveitarmos cada momento para
ajudar alguém, fazermos alguém feliz, dar um abraço e uma palavra de conforto a
quem padece de tristeza, aliviar a fome a um faminto, aquecer os corações de
quem tem frio e mais tantas outras coisas de Bem e Amor que podemos fazer pelos
outros.
Não precisamos de mostrar nada a ninguém. Só temos de
o trazer no nosso coração e os outros saberão que Jesus está connosco.
Termino com uma frase de Chico Xavier:
“O Evangelho de Jesus, na Doutrina
Espírita, representa uma luz a me mostrar a imensidade do esforço que tenho a
fazer para melhorar-me.”
Deus não nos
pede mais do que nos melhoremos de dia para dia…