A palestra de hoje é um convite a observarmos, nem que seja por breves momentos, o céu. Muitas vezes precisamos de parar um pouco as nossas vidas atribuladas e vividas a grandes velocidades, para olhar à nossa volta, absorvermos o que a vida tem para nós, mas sobretudo observarmos o céu.
“Não acumuleis para vós tesouros na Terra, onde a
ferrugem e as traças os consomem, e onde os ladrões os desenterram e roubam.
Fazei os vossos tesouros no céu, onde nem a ferrugem nem as traças os consomem,
e nem os ladrões os desenterram e roubam.
Porque onde está o vosso tesouro, está o vosso
coração.
Eis porque vos digo: não vos inquieteis para saber
onde achareis do que comer para o sustento da vossa vida, nem onde achareis
vestimentas para cobrir o vosso corpo.
A vida não é mais do que o alimento, e o corpo mais do
que a vestimenta?
Observai os pássaros do céu; eles não semeiam, não
ceifam, não fazem provisões nos celeiros, e, contudo, vosso Pai celeste os
alimenta.
Porventura não sois muito mais do que eles?
E quem é aquele de entre vós que pode, por mais que se
afadigue, aumentar de um côvado (equivalente a uma medida de 66 cm) a sua
altura?
Porque vós vos inquietais também com a vestimenta?
Observai como crescem os lírios do campo; não
trabalham nem fiam, entretanto eu vos declaro que nem Salomão, em toda a sua
glória, jamais se vestiu com um deles. Se Deus tem o cuidado de vestir dessa
maneira uma erva do campo, que hoje existe e que amanhã será lançada ao forno,
quanto mais cuidado terá em vos vestir, homens de pouca fé?
Não vos inquieteis, portanto, dizendo:
Que comeremos?
Que beberemos?
Com que vestiremos?
Assim fazem os pagãos, que procuram todas as coisas.
Vosso Pai sabe que tendes necessidade delas.
Procurai pois, primeiramente o reino de Deus e a sua
justiça e todas essas coisas virão por acréscimo. Eis porque não deveis de vos
inquietar pelo amanhã, visto que o amanhã se ocupará do bem-estar de si mesmo.
A cada dia basta o seu mal.”
Este é um trecho que encontramos no evangelho de S.
Mateus, cujas palavras atribuídas ao nosso irmão Jesus, refletem bem as
inquietações do Homem ao longo dos tempos.
Na verdade, quem não pensa nestas coisas, nem que seja
por breves momentos?
Então, nos tempos tão difíceis que atravessamos
atualmente, quem não pensa no seu íntimo, nas dificuldades do não ter o que faz
falta?
É bem verdade que somos Homens de pouca fé. Por muito
que queiramos acreditar no contrário, acabamos todos, ou pelo menos uma grande
maioria, a questionar as nossas vidas no hoje e no amanhã. Esse amanhã tão
desconhecido aos nossos olhos.
Muitos temem pelo amanhã. Eu penso no meu amanhã.
Acabamos por questionar o nosso modo de viver e a
sorte com que a vida nos tem bafejado ao longo do tempo. Sentimo-nos umas
vítimas…
Deus criou o Homem nu. Um exemplo disso é o momento do
nosso nascimento, acordamos para este mundo completamente nus. E quando os
nossos olhos se abrem, tudo é demasiado grande e estranho para compreendermos.
Somente o calor e o amor das nossas mães nos aquecem, tanto o corpo como a
alma. Somente o Amor das nossas mães nos acalmam. Serão naqueles momentos e em
tantos outros ao longo das nossas vidas. Como alguém dizia um dia: Mãe há só uma.
À medida que crescemos, Deus proporciona-nos tudo o
que vamos precisando para viver. Seja pela inteligência ou pelo Amor, vamos
conseguindo trilhar o nosso caminho evolutivo até um dia voltarmos a fechar os
olhos para este mundo terreno.
Aceitamos a existência de Deus, conhecemo-lo pelas
suas obras, pelo seu amor por nós.
E se sabemos que Deus nos ama e nunca nos desproveria
fosse de Amor ou do que mais necessitamos materialmente, porque tememos nós
tanto?
Porque tememos nós tanto o vazio da pobreza material?
Porque duvidamos tanto do Amor e grandeza do Pai
celeste tem por cada um de nós ao ponto de o renegarmos por vezes?
A reposta é relativamente simples, pois vivemos num
mundo, ou melhor em sociedades completamente viciadas no consumismo
materialista. Valorizamos mais o TER, o possuir, do que o SER. E por isso, como
todos temos uma veia muito especial no que diz respeito ao julgamento rápido
através dos juízos de valor, que fazemos uns dos outros, acabamos por nós
próprios cairmos no mundo do sofrimento e da desgraça interior.
Muitos lutam para serem ricos, não para viverem
verdadeiramente felizes.
O pobre sente-se reduzido perante o rico. Porque o
rico se julga um ser superior, por possuir mais do que o pobre. Mas será mesmo
assim na verdade?
Quando a vida nos corre de feição, agradecemos a Deus
(quando nos lembramos disso!).
E quando as coisas correm mal, porque pensamos que
Deus nos castiga e nos quer mal?
Já numa palestra passada, contei a história de um
homem que agradecia tudo a Deus, fosse o bem ou o mal que lhe aparecia durante
os seus dias.
Este homem acreditava, e tinha boas razões para isso,
que fosse o bem ou o mal, Deus estava sempre a contribuir para o seu
engrandecimento interior e havia sempre um motivo muito proveitoso para ele
atrás de cada acontecimento.
Isto faz-me lembrar uma frase que ouvi que dizia algo
deste género:
“As
coincidências não existem, são somente as diferentes formas que Deus utiliza
para nos ajudar e não ter que dar muitas explicações”
Nunca nada acontece por acaso nas nossas vidas.
O problema é que quando nada nos falta, não nos
lembramos de Deus.
Temos de aprender a valorizar os momentos e as pessoas
que aparecem nas nossas vidas, pois acreditem que nunca ninguém aparece nas
nossas vidas por nada.
Temos sempre algo a aprender com esse encontro.
Convido-os a observarem o céu em pensamento. O que
vêem?
A imensidão do azul celeste. Por detrás estende-se um
horizonte infinito de estrelas, planetas, constelações, etc… Tudo obra do Pai.
Somos realmente pequeninos nisto tudo. Mas Deus
fez-nos seres inteligentes, pensantes e com sentimentos. Deu-nos um coração.
Deus deu-nos um modelo a seguir: o seu filho
primogénito Jesus.
E Jesus deixou-nos profundos ensinamentos.
Quando se sentirem tristes, aborrecidos, arreliados
com a vida: observai o céu.
Pensem que lá estão os nossos irmãos de amor que
também como nós passaram por muitas dificuldades e hoje vivem felizes mais
perto do Pai.
Pensem nos pássaros que cruzam o céu em liberdade,
livres das correntes terrenas criadas pelo materialismo e por todo o conjunto
de defeitos com que nos vamos vestindo ao longo da vida.
Observai os pássaros que não têm nada mais do que a
sua existência e a sua prol, e que Deus alimenta todos os dias. Que Deus ajuda
a aconchegar nos seus ninhos onde quer que sejam construídos.
Acham que os pássaros se preocupam com o dia de
amanhã?
Na minha opinião limitam-se a viver o dia de hoje.
Amanhã será na vontade de Deus.
Nós também deveríamos de aprender a viver assim.
Sofreríamos muito menos.
João na sua 1ª carta, ensina-nos que “Se alguém disser: Eu amo a Deus, mas tiver
ódio ao seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama o seu irmão, a quem vê,
não pode amar a Deus, a quem não vê.”
Com estas palavras, faço uma reflexão própria sobre o
amor que temos uns pelos outros.
Eu posso observar o céu. Desejar ser como o pássaro
livre e feliz, mas como poderei lá chegar se com os pés na terra não consigo
amar o próximo nem a mim mesmo?
Jesus disse um dia que “Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho”
Isto significa que temos de mudar. Mudar de
comportamento, de atitude e sobretudo de renovação da fé em Deus.
Se cada dia mudarmos um pouco, chegaremos lá mais
rapidamente.
Muito importante será relembrar que a nossa missão de
renovação interior passa pela prática da caridade face aos nossos irmãos mais
necessitados.
Caridade não é dar dinheiro, é dar de si mesmo. É dar
amor, compreensão.
É dar um abraço no silêncio das palavras, mas com os
gritos de alegria do coração.
Olhemos para o nosso lado e quando virmos alguém
triste, que façamos algo para lhe alegrar o seu dia.
Eu posso estar mal, mas haverá sempre alguém pior do
que eu e por isso tenho sempre mais uma possibilidade de ser útil e ajudar um
irmão.
A tristeza é sempre um sentimento dividido, mas a
alegria será sempre um sentimento multiplicado. Façamos alguém feliz, pois a
nossa felicidade se seguirá.
Observemos o céu e olhemos para Deus com o coração.
Pois é lá que Ele está e lá estará sempre connosco.
Termino com uma frase proferida pelo espírito Emmanuel:
“Pensa
em Deus, refugia-te em Deus, espera por Deus e confia em Deus, porquanto, ainda
mesmo quando te suponhas a sós, em meio de tribulações incontáveis, Deus está
connosco e com Deus venceremos. “