Na palestra de hoje, vou debruçar-me um pouco sobre as
comunicações mediúnicas e a sua utilidade.
O acto de comunicar, nas suas diferentes formas, é
desde sempre a única forma que existe no universo para que as espécies se
consigam relacionar e entender. As diferentes espécies de seres vivos, que
existem ao nosso conhecimento, possuem tão diferentes meios e formas de
comunicar quanto poderíamos imaginar. Comunicar é uma ciência muito mais
complexa do que se poderia julgar.
Nós humanos, comunicamos de várias formas, pois a
nossa inteligência foi-nos permitindo desenvolver os processos comunicativos ao
longo da nossa evolução, mas começámos a relacionarmo-nos com sons e grunhidos,
gestos e olhares, sinais de fumos e desenhos, até um dia chegarmos à fala conjugada
com a junção de letras e palavras, permitindo construir frases.
Actualmente, conseguimos comunicar sons e imagens, a
longas distâncias (intercontinentais) graças aos avanços tecnológicos.
Os animais, ainda hoje comunicam de forma primitiva,
em função do seu desenvolvimento genético e instintos básicos. Ressalve-se que
a grande aproximação que algumas espécies animais foram tendo à espécie humana,
foram-lhes permitindo desenvolver mecanismos de compreensão mais apurados
(muito ainda na base dos hábitos) e hoje falamos e conversamos com eles como se
de humanos se tratassem. Refiro-me por exemplo a cães, gatos, cavalos e
golfinhos, só para dar alguns exemplos.
Comunicar faz parte de nós, pois sem os processos de
comunicação, acabamos por tornar-nos seres vivos autónomos sem possibilidade de
relacionamentos interpessoais com outros seres. Seríamos do género dos
vegetais, viveríamos praticamente sós no mundo. Seríamos uns ignorantes
ermitas.
Sabemos que comunicar nos faz falta. Precisamos de o
fazer. Pois precisamos de nos fazermos ouvir. Muitas vezes comunicamos sem o
saber…
Seja pelas nossas palavras, pelos nossos actos, pela
nossa postura corporal ou pelos nossos pensamentos. Estamos constantemente a
transmitir aquilo que somos e pensamos uns aos outros.
Não precisamos de falar para transmitir algumas ideias
e sentimentos. O nosso corpo falará por si. O nosso olhar, o semblante, a nossa
disposição acabará sempre por manifestar o que nos vai na alma, como se costuma
dizer.
Mas o que me interessa explorar um pouco hoje, não são
os processos de comunicação entre espécies, nem as diferentes formas que o ser
humano e os animais utilizam para comunicarem entre si. O que me interessa
explorar hoje, são os processos de comunicação entre os Homens encarnados e os
desencarnados e o propósito para a existência dessas comunicações.
Aqui, já assistimos muitas vezes a comunicações
psicofónicas (faladas) e psicográficas (escritas), mas no fundo reside a
questão de, como é que isto se processa?
Como saber se são reais ou imaginárias?
Quem é ditou ou intuiu as mensagens que são
posteriormente transmitidas?
Haverá aqui algum lado místico ou um propósito
estranho?
E mais importante, qual a sua utilidade para nós?
Vou tentar responder a estas e eventualmente outras
questões que poderão ser levantadas a este respeito.
Para começar, é preciso que fique muito claro que as
comunicações mediúnicas não são shows,
nem teatros, nem exposições de manias de médiuns ou de pessoas que se julgam
médiuns. Não estamos num circo ou num espectáculo à borla.
As comunicações mediúnicas têm propósitos bem
definidos, claros e em momento algum servem (ou deveriam de servir!) para obtenção
de benefícios materiais ou servir propósitos que não sejam de utilidade e amor
ao próximo.
As comunicações mediúnicas servem para mostrar aos
incrédulos que a vida realmente não acaba com a morte do corpo físico.
Servem para através do contacto com espíritos
bem-intencionados, de recebermos mensagens e conselhos úteis para a nossa
evolução moral e espiritual.
Servem para termos contacto com entes queridos que já
partiram do plano físico e sabermos um pouco mais sobre o seu estado e por
vezes ouvirmos conselhos e recomendações benéficas.
As comunicações mediúnicas não devem de ser mais do
que chamamentos à realidade espiritual de cada um de nós. Não podem, nem devem
de ser feitas fora das leis básicas do Amor próprio e ao próximo.
Como sabemos, todos nós somos médiuns. Todos temos a
capacidade inata de comunicar e receber informações do além. De interagir com o
outro lado da vida. Aquele lado que muitos olhares não vêem e só com os olhos
do coração se enxerga.
A diferença entre as pessoas, é que umas estão mais
receptíveis ao plano espiritual e outras menos, talvez porque são muito mais
viradas às questões menos nobres do plano material, logo longe de viverem uma
existência mais plena e espiritualmente mais construtiva. Ou simplesmente,
ainda não chegou o seu momento de se ligarem de forma mais activa ao plano
espiritual.
Quando rezamos ou oramos, estamos a desenvolver um
contacto mediúnico. Estamos a invocar os bons espíritos, estamos a conversar
com Deus, pedindo-lhe o que nos faz falta ou desejaríamos, para nós ou para os
outros.
Quando somos intuídos a fazer isto ou aquilo, quando
recebemos ideias do nada, ou quando nos apercebemos que sabemos coisas que até
aquele momento não sabíamos, estamos a estabelecer um contacto mediúnico.
Quando sonhamos com coisas que desconhecemos e falamos
com pessoas que já partiram e elas nos dizem coisas que, por exemplo, irão
acontecer a breve trecho ou nos relatam coisas do plano espiritual onde se encontram,
é um contacto mediúnico.
Quando conversamos com alguém que nunca conhecemos
antes e nos diz coisas a nosso respeito que só nós sabíamos. Como poderia
aquela pessoa saber aquilo?
Estes exemplos servem para demonstrar a capacidade de
cada um no que diz respeito às suas capacidades de estabelecer comunicações
mediúnicas sem o saber ou ter consciência plena disso.
É importante, diria mesmo fundamental, entendermos que
todos aqueles que são médiuns mais ostensivos, isto é, manifestam sinais de
mediunidade mais evidentes, não são mais do que os outros. Não são
super-heróis. Não possuem capacidades fora do normal e sobretudo, não são especiais
ou diferentes. Também não são doentes, nem uns maluquinhos quaisquer.
Somente desenvolveram as suas capacidades de percepção
do plano espiritual e com isso são e têm obrigação de ser, instrumentos úteis
aos desígnios de Bem. São somente ferramentas, que devem de ser utilizadas para
o Bem e nada mais.
Um exemplo que me parece importante transmitir-vos, é
o facto de todo o ser humano ter um desejo íntimo de saber um pouco mais sobre
o seu futuro, sobre o que será o seu amanhã.
Por isso recorrem a videntes, cartomantes, bruxos,
etc… a todo um conjunto de médiuns, pseudo-médiuns, outros que se julgam
médiuns e acham que são donos do conhecimento do mundo e se permitem dizer aos
outros tudo o que lhes vêm à cabeça.
É um erro, meus amigos. Um grande erro.
Pois é preciso ter consciência sobre o que para nós,
representa futuro. É que o futuro é mutável, é sempre alterável a qualquer
momento por cada um de nós. Cada um de nós, por aquilo que pensa e faz no seu
presente, muda e altera o seu futuro. Qualquer coisa que alguém nos possa dizer
sobre o nosso futuro mais ou menos próximo, possui uma margem de erro muito
grande, pois a qualquer momento podemos modifica-lo pelo nosso momento
presente.
É verdade que existem coisas que já foram definidas nas
nossas vidas quando nascemos para uma nova existência, já sabemos
inconscientemente o que seremos, que doenças teremos e como iremos morrer, só
para dar alguns exemplos. Mas tudo o resto só depende de nós, só depende de
cada um de nós. A nossa vida é um livro com páginas em branco, nas quais
escrevemos todos os dias mais um capítulo da nossa existência.
Mas tal como os livros, a nossa vida tem um princípio
e tem um fim, mas o que lá escrevemos só depende de nós próprios.
Por isso é importante perceberem que ao médium, é dada
a responsabilidade de transmitir às pessoas conselhos ou mensagens que lhes
sejam úteis e sempre com boas intenções, com amor e vontade de auxiliar.
Ao médium só chega as informações que os espíritos lhes
querem transmitir, tudo o resto é invenção e imaginação.
Não se julgue que os médiuns são oráculos e funcionam
como bolas de cristal. É mentira. Se assim fosse, haveria muitos deuses
encarnados…
Cada um só sabe o que pode, deve e precisa de saber. Nada
mais.
Aos médiuns, é preciso terem consciência que a razão
da sua felicidade está directamente proporcional ao bem que fizerem ao próximo
e a si mesmos. E essa será sempre função da Lei da Causa-Efeito.
É por isso que mesmo que aconteça um médium saber algo
íntimo sobre alguém, nem sempre isso deve de ser transmitido à pessoa. Só o
deverá de ser, se isso lhe for realmente útil e se nenhum prejuízo lhe trouxer.
De outra forma, estar-se á a prejudicar o próximo e isso de certeza não faz
parte daquilo que Deus quer de nós todos.
Seja-se médium ostensivo ou não, nunca podemos
esquecer o poder que as palavras exercem sobre as pessoas. As palavras tanto
podem ajudar, como podem destruir. Muitas vezes as palavras são mais mortíferas
do que as armas.
Por isso, sendo o médium um instrumento que transmite
mensagens do plano espiritual, usando as palavras, exige-se-lhe muito cuidado e
responsabilidade no seu uso. E se alguém souber algo mais sobre o outro que não
deva ou consiga dizer-lhe directamente, é importante que seja suficientemente
inteligente e arranje outras formas de transmitir as mensagens sem trazer
prejuízo, porque se teve acesso a essa informação, é porque ela será útil a
quem se destina.
Gosto muito de relembrar-me do filme feito sobre a
vida de Chico Xavier, em que manifestamente se consegue aprender muito sobre a
vida de um homem muito simples, com uma mediunidade ostensiva bem desenvolvida
e que fazia um uso muito cuidado das palavras que transmitia.
Chico Xavier, auxiliando por bons espíritos, sabia
muita coisa a respeito da vida das pessoas que a ele se socorriam. Mas Chico
sempre usou de muita responsabilidade e nunca trouxe prejuízo a quem lhe pediu
ajuda, nem tão pouco se aproveitou o que quer que fosse da benesse que Deus lhe
concedeu em ser o porta-voz na Terra das mensagens de Deus, que lhe eram
transmitidas através dos espíritos benfeitores.
Ser médium, é ouvir-se a si próprio. É conhecer-se
melhor e ter consciência de si mesmo primeiro e só depois dos outros.
É ouvir as palavras transmitidas pelo coração e pela
vontade de fazer o bem, para ajudar o próximo e também a si mesmo.
E nunca nos
podemos esquecer que cada um colherá aquilo que semeou, seja ele médium mais ou
menos ostensivo.
Que cada um plante as melhores sementes possíveis na
sementeira da sua vida, para que todos os dias se possa ir colhendo bons
frutos.