sábado, 14 de dezembro de 2013

Jesus nas nossas vidas

“O que fazes, fala tão alto que não consigo ouvir o que dizes…”

Esta frase da autoria do filósofo norte-americano Ralph Emerson, é muito o reflexo do que o ser humano tem vindo a fazer ao longo da sua longa existência no mundo.

O Homem sempre se quis fazer ouvir, sobressair, dominar, quase sempre passando por cima dos outros pelo poder da força.

Dizer que o que fazemos fala tão alto, não é mais do que a expressão das nossas acções em detrimento dos nossos pensamentos. Por outras palavras, as nossas palavras nem sempre correspondem à nossa verdade interior. Dizemos uma coisa, mas fazemos outra.

A palestra de hoje, dei-lhe o nome de: Jesus nas nossas vidas.

Francisco de Assis disse um dia:

“A paz por vós proclamada por palavras, deve de habitar de modo mais abundante nos vossos corações.”

Obviamente que estas sábias palavras de um homem que dedicou a sua vida a Cristo, vivendo na pobreza tentando imitar a vida de Jesus, vem também elucidar-nos do que realmente devemos de ser e parecer nas nossas vidas.

Não deveríamos de parecer uma coisa, sendo outra completamente diferente.

Estamos em Dezembro, o mês do nascimento do nosso irmão maior Jesus Cristo e por isso é bom recordar as bases da doutrina cristã que seguimos, que estudamos, que queremos as nossas vidas.

E quando falamos de Jesus, do que foi a sua vida e dos muitos ensinamentos que nos deixou, somos levados a profundas reflexões sobre afinal quem somos, o que somos e o que estamos aqui a fazer.

E mais do que isso, serão as nossas acções condicentes com os nossos pensamentos?

Aqui nesta casa, estudamos as bases da doutrina espírita, que encontra as suas raízes na doutrina cristã, na obra de Deus e Jesus na Terra. Por isso aqui, é uma casa de Jesus.

E somos uns privilegiados sabem?  

Temos o privilégio de sermos guiados pela luz de Deus, refletida no evangelho e obra de Jesus Cristo. Somos guiados pelos ensinamentos dos espíritos superiores que nas suas manifestações inteligentes, nos transmitem ensinamentos de Amor e bons conselhos para guiarmos as nossas vidas.
Temos o privilégio de sabermos um pouco mais sobre a vida e sobre o que existe depois da vida.
Temos o privilégio de acabar ou reduzir muitas das nossas dúvidas sobre os porquês da nossa existência física. E mesmo que nos seja difícil entender os porquês de muito do que se passa nas nossas vidas, sejam o bom ou o mal, temos conhecimentos e consciência dos porquês desses acontecimentos.

A doutrina ensina-nos os caminhos da nossa salvação, através dos pensamentos e actos de amor a si mesmo e ao próximo. Através da caridade. Através da resignação e aceitação do que somos.

Ensina-nos que todos somos salvos da dor e do sofrimento terrível do inferno ou do umbral, a partir do momento que o queiramos, aceitemos os nossos erros, as nossas faltas, que queiramos trabalhar no sentido da sua rectificação e busca pelo perdão de quem ofendemos e prejudicámos. Sabemos que não existem os castigos eternos. Deus (Ser puro e pleno de Amor) nunca o permitiria e seria contraproducente à sua própria doutrina a nós deixada pelo seu filho primogénito. Deus é amor.

A doutrina ensina-nos a transformar o ódio em Amor e em perdoar de verdade setenta vezes sete, fazer as pazes com o nosso adversário enquanto estamos todos no mesmo caminho evolutivo.

A doutrina ensina-nos a respeitar todos os credos e religiões, pois no fundo sabemos que os credos e religiões, com base cristã, não são mais do que caminhos diferentes que levam ao mesmo fim. E o nosso fim é evoluirmos para a perfeição moral.

A presença de Jesus nas nossas vidas deve de ser uma constante, seja nos nossos pensamentos como nos nossos actos.

A Doutrina espírita é uma benesse que nos foi trazida, fruto de um fabuloso trabalho de Allan Kardec e de tantos outros Homens que nos trazem mensagens do outro lado da vida.
Através dos livros da codificação e de outras centenas de livros psicografados, cada um trás muitas respostas às nossas dúvidas e o mais importante dessas respostas está no facto de terem sido dadas por muitos espíritos superiores, recolhidas por inúmeros médiuns de diferentes partes do mundo.

A doutrina espírita, não pertence a ninguém, não é da imaginação dos Homens, não julga, não condena, não obriga, não trás temor.
A doutrina é somente a continuidade da obra de Jesus na Terra e um roteiro de Paz e de Amor.

Tal como Jesus nos ensinou:

“Amai-vos uns aos outros, tal como Eu vos amei.”

Estudamos e fazemos a continuação da obra de Jesus. E a única coisa a que um espírita é obrigado, é verdadeiramente sê-lo. Isto é, amar a Deus, amar-se a si e amar o próximo. E todo o espírita se vê pela sua força e vontade de se melhorar interiormente para que isso se possa manifestar exteriormente.

Mesmo àqueles que dizem não acreditar em Jesus ou em Deus, temos a obrigação de os aceitar e compreender, mas acima de tudo temos a obrigação de os amar.
Quando a sua hora chegar, eles verão que na verdade existe algo maior do que eles, verão que existe uma inteligência superior que gere todo o universo, que é responsável por tudo o que vai acontecendo no mundo e segundo uma única lógica: a favor da nossa evolução.
A seu tempo perceberão que o mal traz dor e sofrimento e o amor é a salvação da alma.

Poderão agora dizer que onde está a evolução da humanidade nos seus momentos mais terríveis e desastrosos, como guerras, tempestades, desastres naturais, mortes violentas, etc… ?

Pois bem, não nos devemos de esquecer que colhemos o que semeamos e mesmo aquele a quem a desgraça toca em algum momento da sua vida, não sabemos o que foi o seu passado recente ou o seu passado de outras vidas.

Devemos de ter consciência que a natureza do universo é encontrar os seus pontos de equilíbrio e tudo o que acontece, acontece por uma razão lógica e objectiva que só Deus saberá em plenitude. Como sabemos que Deus é Amor, o que acontece só pode acontecer para o próprio bem de cada um e da humanidade. Deus não personifica o mal, muito pelo contrário.

Eu sei que isto é difícil de entender, pois somos avessos à dor e ao sofrimento. Mas quando não aprendemos pelo amor, de que outra forma poderíamos aprender?

Quando ouço Homens que pregam e falam em nome de Deus, obrigam a rituais e a fazer coisas em nome de Deus, defendem as condenações e sofrimentos eternos nos infernos se não forem seguidas as suas ordens e indicações. Sempre em nome de Deus.

Faço-me sempre as mesmas perguntas:

- Quem nos mandatou (Homens) a falar em nome de Deus?

- Porque é que o Deus que advogam, é de uma fé tão restritiva e má que condena eternamente?

Claro que muitas outras questões e reflexões podem ser levantadas, mas eu não consigo conceber Deus desta forma.

Um exemplo disso é o facto de Ele nos ter enviado o seu filho primogénito que nos deixou um verdadeiro “manual de instruções” para chegarmos até Ele.

O Homem fraco deixa-se levar Deuses Homens que se aproveitam das suas fraquezas (morais e intelectuais) bem como dos momentos menos bons das suas vidas.

Jesus, é e tem de ser sempre a Luz que ilumina o nosso caminho. Jesus é amor e é o amor que Ele tem por nós, que nos ajuda a contrariar as dificuldades da vida, as mesmas dificuldades que nós criámos e criamos diariamente, pois só nós somos responsáveis pelo que nos acontece.

Jesus não nos castiga nem tem prazer algum nisso… é nisto que eu acredito.



Quando ouço pessoas dizerem-me que estão fartas e cansadas da vida. Que o desânimo e tristeza são de tal ordem que a vida perdeu sentido. Que nada as agarra à vida e que “desaparecer” seria uma boa solução para resolverem os seus problemas.

É lógico que a minha obrigação é dar-lhes palavras de alento e conforto. Tentar transmitir-lhes amor e que na fé se cultive uma esperança em melhores momentos.
Mas muito mais importante do que as palavras que lhes possa dizer, seria que cada uma dessas pessoas sentisse por si mesma o amor de Deus, o amor do nosso irmão Jesus.

Quando não conseguirmos perceber a razão do nosso sofrimento, só temos que nos virar para Deus, pedindo-lhe paciência e acreditando que se Ele permite que soframos, só pode ser para o nosso próprio melhoramento e nunca porque nos quer castigar ou punir.

Jesus deve de estar sempre presente nas nossas vidas, e para isso não é preciso nada de especial. Basta aproveitarmos cada momento para ajudar alguém, fazermos alguém feliz, dar um abraço e uma palavra de conforto a quem padece de tristeza, aliviar a fome a um faminto, aquecer os corações de quem tem frio e mais tantas outras coisas de Bem e Amor que podemos fazer pelos outros.

Não precisamos de mostrar nada a ninguém. Só temos de o trazer no nosso coração e os outros saberão que Jesus está connosco.

Termino com uma frase de Chico Xavier:

“O Evangelho de Jesus, na Doutrina Espírita, representa uma luz a me mostrar a imensidade do esforço que tenho a fazer para melhorar-me.”


Deus não nos pede mais do que nos melhoremos de dia para dia…


domingo, 1 de dezembro de 2013

As promessas

“Sentia-me abalado, triste, receoso. O mundo desabava dentro de mim e à minha volta. Interiormente, sentia-me desgraçado, de repente sem rumo e sem soluções para resolver tantos problemas. Na verdade, sabia ou pelo menos sentia que muitos problemas tinham a sua causa em mim mesmo; eu era o culpado da sua existência na minha vida, mas só queria ver aqueles problemas resolvidos agora. Na preguiça em tentar encontrar soluções, num desespero último, virei-me para Deus ou uma qualquer entidade divina para que me ajudasse. E eu que não acreditava no divino, percebi que seria a minha última salvação.
Assim, fiz uma promessa. Em troca de um favor, prometi ir a pé a um local sagrado e doar uma quantia de dinheiro.”

Esta pequena história, serve-me para introduzir o tema da palestra de hoje que é: As promessas.

Estou em crer que será raro aquele que nunca fez uma promessa, seja ela de que teor for. Até Jesus Cristo, aquando a sua passagem pela Terra, fez várias promessas. Então porque não somos não as faríamos sendo seres tão fracos e tantas vezes de pouca fé.

Das promessas feitas por Jesus, destaco uma descrita no do Evangelho de S. João:

“Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço. E as fará maiores do que estas, porque eu vou para o Pai. E farei tudo o que pedirdes em meu nome, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.”

Muitos cristãos baseiam a sua necessidade em fazer promessas em algumas passagens bíblicas, tais como esta.

Desde que o Homem cristão quando tomou consciência da sua condição de fraqueza humana e que dificilmente conseguiria atingir muitos dos seus desejos e objectivos, sem uma ajuda extra, entrou numa senda de pedir e prometer.

Se Jesus se ofereceu aos Homens para os ajudar, bastando para isso pedir, então porque não fazê-lo a nosso bom prazer?

E quanto a promessas, fazem-se todo o tipo e género:

            - Que me saia o euromilhões e seja rico
            - Que a minha doença passe
            - Que passe neste ou naquele exame
            - Que o meu inimigo se prejudique de alguma forma
            - Que eu possa comprar este ou aquele bem material que tanto desejo
- Que eu tenha sempre muita saúde (mesmo fumando e bebendo muito, por exemplo)
            - etc etc…

Nós prometemos muito, e oferecemos em troca um sacrifício pessoal ou outra qualquer coisa, tudo para obter alguma coisa em troca. Para muitos, é quase como ir ao supermercado…

Agora pergunto:

- Será isto correcto?

- Será correcto pedir a Deus, a um santo ou qualquer entidade divina que nos conceda isto ou aquilo em troca de um qualquer favor ou sacrifício?

Digo-vos uma coisa; Não deveríamos de pedir coisíssima nenhuma a Jesus ou a Deus. Deveríamos antes de agradecer o que temos.

Quando digo isto, digo-o no sentido em que as únicas coisas que deveríamos de pedir a Deus seria no sentido de nos melhoramos interiormente, de sermos melhores, mais caridosos, mais bondosos, que nos ajudasse a ter e dar mais amor aos nossos irmãos. Deveríamos de pedir ajuda para o nosso melhoramento interior e espiritual.

É errado pedir e prometer em troca de bens ou favores materiais. Pois não deveríamos nunca de nos esquecer que Deus dá-nos tudo o que precisamos em função do nosso estado e adiantamento espiritual e não material.

Nós temos um bom exemplo disso em Francisco Xaviere o que foi a sua vida terrena.

Mais vos digo, que a grande maioria faz promessas porque são preguiçosos.

Porque preferem obter favores sem passarem pela dignidade do trabalho, seja no sentido de se reformarem interiormente, seja pela dignidade do trabalho físico. Preferem obter as coisas como se fosse um serviço que Deus nos tem que prestar, claro em troca de alguma coisa da nossa parte.

É fácil receber sem ter trabalho, sem ser digno do favor prestado. Onde está a virtude?

Outra coisa associada às promessas, é a ignorância e desconhecimento das Leis de Deus, sobretudo da lei maior que é a do Amor.

Na eventualidade de sermos merecedores na concessão de um pedido, este não deve de ser objecto de uma promessa, nem tão pouco ser objecto de uma troca de favores ou pagamento. Pois quem atender ao nosso pedido, a única coisa que desejará receber em troca é o nosso agradecimento.

Os espíritos superiores só querem ser agradecidos em amor, não querem nem pedem nada em troca. Muito menos coisas materiais que nada lhes serviriam.

Amor com amor se paga. E quem pratica o bem não pode nem deve de esperar ou querer nada em troca. A caridade e a bondade devem de ser feitas sem interesse ou pretensão.

E volto a repetir: Os bons espíritos (encarnados e desencarnados) nunca cobram nada do que fazem!

Fazer uma promessa no campo do materialismo, é como estar a fazer chantagem com Deus: Tu dás-me isto e eu dou-te aquilo em troca.

E eu na minha ignorância, penso para mim: Quem sou eu para chantagear Deus?

Isto é um erro.

Nós devemos de pedir, sim.

Pedir não é um erro, muito pelo contrário, até é benéfico para todos nós.

Podemos e devemos de fazer promessas, mas com um teor diferente.

Deveríamos de pedir:

            - Para deixar um vício
            - Para ter mais paciência no dia-a-dia
            - Para aprender a amar aquela pessoa que gostamos muito pouco
            - Para me reconciliar com o meu inimigo
            - Para melhorar interiormente
            - Para nos ajudar a ter paciência, coragem e resignação perante as doenças
            - Para ser mais bondoso e caridoso
- Para nos acompanhar nas lições de aprendizagem dos momentos difícieis da vida
            - etc… etc…

Tenhamos consciência que o Homem não deve esperar que Deus ou qualquer entidade divina lhe conceda todos os seus desejos em troca de nada mais a não ser da sua própria evolução e do seu bem.
E se Deus concede um desejo material a alguém, como por exemplo sair-lhe um prémio monetário, é mais para o por à prova do que para o beneficiar, pois como bem sabemos, é no campo material que o Homem perde a sua espiritualidade.

Em vez de passarmos o tempo a pedinchar a Deus, deveríamos de agradecer, pois se virmos bem, temos tudo o que precisamos mediante o que somos e o que trabalhamos para ter e ser.

Gostaria de citar Chico Xavier com uma bela frase sua:

“Em minhas preces de todo dia, sempre peço coragem e paciência. Coragem para continuar superando as dificuldades do caminho naqueles que não me compreendem. E paciência, para não me entregar ao desânimo diante das minhas fraquezas.”

Sempre gostei muito de ir a Fátima, não vou por nenhuma ocasião particular, vou quando me apetece e quando sinto necessidade de ir beber da energia fabulosa que aquele lugar possui. Não importa no que se acredita, mas sem dúvida que aquele lugar é especial e tem muito Amor para nos carregar as “baterias”.

O que me perturba um pouco quando lá vou, é ver a quantidade de pessoas que ali andam a sacrificar-se para cumprirem promessas. Para mim, e isto é somente a minha opinião, aquelas pessoas desconhecem a leis básicas de Deus, e sobretudo a Lei fundamental que é a Lei do Amor.

Como já referi, as nossas preces são sempre ouvidas e quando atendidas, é porque temos o merecimento para tal. E o merecimento advém da nossa virtude e trabalho renovador.

Pois para Deus, o amor não tem preço. Deveria de ser o nosso estado de espírito permanente.

E depois, qual é a utilidade de sacrificar o corpo em troca de uma promessa?

Não será mais útil a si mesmo e aos propósitos de Deus, que façamos o bem desinteressadamente ao próximo seja qual for a forma?

Quando penso em promessas, gosto sempre de pensar na frase mais importante que rege a nossa existência:

“Amar a Deus e o próximo como a si mesmo e fazer aos outros o que quereríamos que nos fosse feito”

Se Deus é TUDO, o que lhe serve as nossas dores corporais, muitas vezes em troca de bens materiais que não merecemos?

Deus somente quer que evoluamos, que cresçamos interiormente nos campos da moralidade, da intelectualidade, no fundo da espiritualidade. Esse é o “pagamento” que espera de nós.

De que serve a Deus velas, dinheiro, sacrifícios corporais, longos e cansativos quilómetros a pé a um local sagrado, que lhe ofereçamos bens materiais que nada lhe importam, se no fundo continuamos a desviar-nos de sermos melhores?

Deus por acaso virá recolhê-los?

É mais importante sermos cristãos de fé e Amor, do que cristão pagadores materiais em troca de favores divinos, sem trabalho nenhum.

Termino com uma frase belíssima de Chico Xavier que nos diz o seguinte:


“O Cristo não pediu muita coisa, não exigiu que as pessoas escalassem o Everest ou fizessem grandes sacrifícios. Ele somente pediu que nos amássemos uns aos outros”


domingo, 3 de novembro de 2013

Bruxarias e Feitiçarias

O tema que vos trago hoje, é sem dúvida uma breve e simples análise de algo que a alguns irá fascinar e interessar, e a outros temorizar, ou por outras palavras deixá-los mais apreensivos.

Desde os mais remotos tempos ao longo da longa história do Homem, as relações entre encarnados e desencarnados, homens e deuses, homens e santos, e por aí fora, foi sendo escrita de uma forma que sempre nos apaixonou, ou pelo menos sempre teve um efeito de magnificência aos nossos olhos. Todas as histórias que incluam contactos entre vivos e mortos, foram sempre vistas com muito interesse e paixão durante os tempos.
Desde sempre o Homem desejou contactar-se directa e indirectamente com o sobrenatural, com o extrafísico. Com aquilo que muitos hoje, chamariam de paranormal. Desde sempre o Homem quis perpetuar-se no tempo deixando as suas marcas mesmo depois da morte do seu corpo físico. 

E é sobre estas relações, entre o físico e o extrafísico, que me vou debruçar hoje, trazendo-vos o tema das Bruxarias e das Feitiçarias.

Não precisamos de recuar aos longínquos tempos de Nostradamus (o famoso médico alquimista e vidente) na época medieval. A Paracelso, o mago e filósofo do oculto, na época do Renascimento. A Catherine Deshayes, famosa feiticeira famosa, já na época do Iluminismo, no século XIX. Ou a Laurie Cabot, a famosa bruxa americana, isto já no século XX.
Isto foi só para citar alguns, das centenas ou milhares de bruxos e feiticeiros, que proliferaram durante anos e anos da história da humanidade. Estes foram alguns daqueles homens e mulheres, que durantes as suas épocas, fruto do grande desconhecimento das ciências, da filosofia e da religião, foram-nos chamando de bruxos e feiticeiros.

Actualmente, não passariam de cientistas, filósofos ou espiritualistas.

Mas mesmo com muito do conhecimento que pensamos que temos hoje, muitos fenómenos existem por explicar, que aos olhos mais incautos poderão ser considerados de bruxaria ou feitiçaria.

Na verdade são somente fruto do nosso desconhecimento.

Mas a bruxaria e a feitiçaria, sempre fizeram parte das nossas vidas, tal como as relações com o oculto. Fossem para o bem ou para o mal.

Uma simples oração já nos coloca em contacto com o paranormal.

Mas o Homem de hoje, não é o Homem do tempo de Moisés ou do tempo de Jesus Cristo na Terra. O homem tem feito um caminho de evolução a todos os níveis, mas sobretudo ao nível do conhecimento, da intelectualidade, da moralidade e cada vez mais da espiritualidade.

Se Jesus Cristo encarnasse de novo neste planeta, não nos falaria da mesma forma, nem nos mesmos termos que falou aos gentios e a todos os povos por onde passou. Pois hoje, o Homem é mais inteligente e não precisa de histórias nem parábolas para entender as mensagens divinas e de Amor que nos seriam trazidas por Ele. O Homem não precisa de milagres, nem de mares abertos para fugir do Egipto como no tempo de Moisés. Nós somos bem mais inteligentes do que outrora. Os milagres são fruto da Fé e do amor.

Os bruxos e feiticeiros que a história foi fabulando e criando, não são mais do que homens com mediunidades apuradas e ostensivas, que secundados por legiões de espíritos inferiores e moralmente inócuos, ou vazios, se foram aproveitando do desconhecimento das pessoas incultas, iliteradas, da falta de muito conhecimento da filosofia, da ciência e da religião. Neste caso, muitos destes chamados de bruxos, usaram as suas capacidades em proveitos do mal. Mas na verdade, existiram e existem outros tantos, cujos corações cheios de amor se dedicam à prática do bem ao próximo.

E aqui, aproveito desde já para fazer um parêntesis que me parece importante: A doutrina espírita, assenta todas as suas informações nestes três vectores fundamentais: Filosofia, Ciência e Religião. Todos os ensinamentos e mensagens que chegaram até nós e nos vão chegando, todas elas assentam sustentadas na fé cristã, mas todas sempre na lógica e na razão, pois a ciência viaja paralela à religião séria. Tudo se pode provar, menos uma coisa: a existência de Deus. Pois Deus é omnisciente (tem pleno conhecimento de tudo) e é omnipresente (está presente em todo o lado). A existência de Deus, não se prova, sente-se, vive-se e admira-se a todo o momento. Deus é simplesmente tudo.

Muitos de nós poderão acreditar nos poderes dos bruxos e feiticeiros. É normal.

Quando se desconhece alguma coisa, ou se teme ou se aceita como um acto de fé cega. O conhecimento é fundamental à nossa existência e progressão. Não progredimos sem conhecimento e sem moralidade.

As conhecidas, ou ouvidas, conjuras ao diabo e aos demónios. As rezas e mezinhas aos espíritos maus, os rituais Wicca (que é a bruxaria moderna), todo um conjunto de expressões e manifestações para obter benefícios para si ou para prejudicar alguém, são ainda crenças fortes e enraizadas nas mentalidades mal informadas, mal-educadas, desconhecedoras do que é a inteligência universal.

As rezas e conjuras nenhum efeito tem sobre os espíritos, somente o pensamento lhes importa para realizarem acções de bem ou de mal.

É muito verdade que existem pessoas com capacidades que podemos classificar como fora do normal, com energias magnéticas muito fortes que através do pensamento e da acção, podem fazer coisas fabulosas. E a finalidade com o que o fazem, somente depende do coração e do conhecimento de cada um.

Não são diferentes de nenhum de nós, porém. Pois todos nós chegamos a Deus da mesma forma: através da oração e das boas acções. Se alguns direcionam os seus pensamentos e acções para o mal, arrastando consigo outros mais espíritos fracos, muitos outros contrabalançam esta relação de forças praticando o bem e irradiando o Amor divino que Deus nos concede.

Encontramos esta passagem na bíblia:

“Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e vossos velhos sonharão” (Joel 2: 28; e Atos 2: 17-18).

A mediunidade, seja ela de que tipo for, não é exclusiva do espírita. Todos a possuem, seja qual for o seu credo ou religião. E é através da mediunidade, que muitos poderão chamar de bruxaria ou feitiçaria, que se consegue atormentar almas ou por outro lado ajudá-las.

Como já tinha referido, de nada servem as conjuras e rituais simbolizados. Os espíritos afinizam-se com os Homens encarnados pelas mesmas essências de cada um, isto é, os espíritos maus juntam-se aos maus e os bons aos melhores ainda. As rezas e bruxarias para prejudicar os outros, não mais que invocações e chamamentos de espíritos inferiores ávidos de fazer mal. Mas também, não devemos de esquecer que o mal se paga com o mal, e quem pede ajuda aos que praticam o mal, fica por si também devedor e sob o jugo desses espíritos inferiores. Acreditem, que isso só leva os Homens a mais sofrimento e dor e à contração de mais e mais dívidas para com o próximo. Torna-se um devedor do Amor de Deus.

O bem paga-se com o bem, por isso oramos e rogamos a Deus por ajuda, pelo seu Amor, para que a sua Luz nos encaminhe em bem ao longo da vida. Ao orar, ligamo-nos aos espíritos superiores, a todos aqueles cujo coração só é dominado pelo amor ao próximo e a Deus. E são esses irmãos de Amor que nos socorrem contra as legiões de espíritos inferiores que teimam em aceitar nos seus corações o Amor Divino.

O diabo não existe, é uma figura metafórica, que representa todo o mal humano que existe na Terra. É a representação da inferioridade moral do Homem. Deus nunca permitiria a criação de um ser tão poderoso quanto Ele, mas votado para o mal e não para o bem.

Serão os bruxos e feiticeiros diabos?

Sim, de certa forma acabam por sê-lo. São pessoas cujo coração está mais perto das trevas, da dor e do sofrimento do que da paz revestida pelo amor de Deus. São homens e mulheres a quem foi dado um presente fabuloso, na forma de mediunidade, mas que em vez de a usarem no bem para proveito do próximo, para sua própria redenção, usam-na para prejudicarem o próximo e contraírem mais dívidas morais e sofrimento para si mesmos. 

Não quero dizer com nada disto que o mal não existe. Que o “mau-olhado”, o quebranto e todas as outras formas que nos prejudicam física e psicologicamente, não existem. Na verdade existem mesmo, pois quando endereço um bom pensamento a um irmão, isso ajudá-lo-á. O contrário também é verdade.

E assim sendo, como “lutamos” contra esse mal?

Uma resposta a esta pergunta já a referi anteriormente. Também vem descrita no Livro dos Médiuns desta forma: O melhor meio de afastar os maus Espíritos é atrair os bons. Atrai, pois, os bons Espíritos fazendo todo o Bem possível, e, os maus se irão...”

Outra resposta vem pelo poder que a oração confere. Nunca devemos de duvidar do poder da oração, pois estaríamos a duvidar das leis divinas que Deus criou.



Resumidamente, o Homem só tem de proteger-se de si próprio (vigiando os seus pensamentos e acções) e dos outros Homens cujos corações vagueiam nos ideais do mal.
Quando o nosso coração vive amor, estaremos acompanhados por bons irmãos espirituais e o contrário também é verdade. Ter fé, amor-próprio, amor ao próximo, minimizar o egoísmo e o orgulho, são as soluções para curar os males de inveja que tanto mal fazem a uns e outros.

Termino com uma frase de Allan Kardec que diz o seguinte.


" A moral dos Espíritos superiores se resume como a do Cristo, nesta máxima evangélica: Fazer aos outros o que queríamos que os outros nos fizessem, isto é, fazer o bem e não o mal. Neste princípio encontra o homem uma regra universal de proceder, mesmo para as suas menores acções."


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Depressão e Melancolia

Á medida que vamos crescendo, aprendendo e evoluindo, vamos percebendo que a nossa vida acaba por ser muito mais do que julgamos. Uns chegam a essa conclusão mais cedo, outros mais tarde, mas todos nós um dia acabamos por perceber que a dimensão física da nossa vida, é apenas uma pequena parte de todas as dimensões em que nos encontramos e que a felicidade não está muitas vezes onde julgamos.
A cada dia, vamos adquirindo novos conhecimentos e novas experiências. Vamos enriquecendo assim o nosso espírito e evoluindo em dois dos planos mais importantes da nossa existência: no moral e no intelectual.
Deus criou a vida, e é uma benesse para todos nós, pois permite que cada Ser cresça e se desenvolva individualmente segundo a sua própria vontade e instinto, trilhando o seu próprio caminho.

Mas saber viver não é fácil, nem tão pouco simples. E por isso vivemos a maior parte das vezes rodeados de problemas e dificuldades. Se a nossa vida não é fácil, a culpa é somente e exclusivamente nossa, de mais ninguém e muito menos de Deus. Pois muitas vezes esquecemo-nos que colhemos o que semeamos.

E mesmo por causa dos sofrimentos da vida, que o tema da palestra que vos trago hoje, é sobre a Depressão e a Melancolia.

Quantos de nós não experimentaram alguma vez sentimentos de tristeza profunda, de desânimo, de desinteresse por tudo (até pela própria vida), de falta de energia e força anímica, baixa autoestima, de angústia, de melancolia… etc… etc… de tantos e tantos sentimentos que nos colocam em estados de espírito tão complicados e tão redutores face a nossa existência. São tudo parte dos chamados estados depressivos.

As origens das depressões são tão vastas e diferentes, quanto complexos nós somos como seres humanos, tão materialistas ainda. As depressões podem nascer de coisas simples, como de situações mais complexas e difíceis de analisar e por vezes de resolver.

Mas veremos melhor, que no final, tudo está relacionado com a nossa mente e com o nosso espírito.

O médico grego Hipócrates (considerado por muitos o pai da medicina) já no século V (A.C), classificava a melancolia como uma doença, baseando-se em 4 teorias que não interessam muito explorar agora.
No período da Renascença ou Romantismo, a melancolia era vista como uma doença bem-vinda, pois era considerada como uma experiência enriquecedora para a alma.
Durante os tempos de evolução da humanidade, tanto a depressão como a melancolia foram observadas de diferentes formas, mas no fundo, nunca deixaram de ser vistas e analisadas, como algo de negativo e prejudicial para o Homem.

Do ponto de vista clínico, uma depressão é um distúrbio afectivo, sendo a melancolia um dos estados psíquicos a ela associados. Considerada como doença pela OMS (calcula-se que atinga cerca de 20% da população mundial) e é algo que acompanha o Homem desde sempre. Normalmente, a depressão é sinónimo de alterações químicas ao nível do cérebro, principalmente em relação aos neurotransmissores, como a serotonina, a noradrenalina e em menor escala a dopamina. Estas são as substâncias que transmitem impulsos nervosos entre células. Mas isto é a visão científica.

Numa perspectiva de lógica racional, e falando em estados depressivos, alguns dirão que se cura, recorrendo aos métodos clínicos da medicina tradicional. Resolvendo-se o problema com recurso a medicamentos. Mas acontece que os medicamentos, o que irão fazer não será mais que acalmar e anestesiar a mente de quem sofre. E isso, não irá resolver nenhum dos problemas que originaram a depressão. Somente acalmará o corpo e entorpecerá a mente.

Outros poderão dizer que as depressões se resolvem com umas idas a um psiquiatra. O que na prática pode ser verdade, porque as depressões possuem as suas origens na mente. Mas ainda a sua cura ainda está longe da racionalidade médico-científica.

Para outros, as depressões são normalmente associadas ao stress, sendo este a causa para tudo o que de mal vai em nós, mental ou fisicamente. Por isso se aconselharia uma qualquer prática desportiva ou qualquer outra atividade que traga distração mental.

Não digo que nada disto possa não ser verdade, Mas antes de mais, reside uma questão fundamental.

Porque stressamos nós tanto? Porque deprimimos nós?

Por muito que possamos culpar tudo e todos pelos nossos males, a realidade é que tudo na nossa vida passa por um estado de alma, que obviamente tem reflexos no corpo físico. André Luiz, num dos seus livros psicografados por Chico Xavier, referia que as depressões são frutos dos estados da mente que são projectados sobre o corpo, através dos bióforos que são unidades de força psicossomáticas que se localizam nas mitocôndrias (que são células que geram energia no nosso corpo).

A mente, transmite os seus estados felizes ou infelizes a todas as células do organismo. Por outras palavras, a mente funciona como um sol que irradia a sua luz e calor para todo o lado, interferindo com o estado de saúde do nosso organismo, equilibrando-o ou desequilibrando-o.
E o nosso grande problema, está mesmo no controlo da mente, no controlo dos nossos estados de alma e das nossas emoções, sejam estes mais ou menos felizes.

As depressões acabam por ter sempre um fundo espiritual, pois as suas causas estão sempre dentro de nós mesmos. As vidas passadas trazem para o presente um conjunto de débitos que temos de saldar. E muita da nossa infelicidade também está directamente relacionada com esses débitos anteriores impressos no nosso espírito, que são passados para o nosso corpo sensorial.

Uma das condições que levam à depressão, vem citada pelo espírito François Geneve no livro do Evangelho Segundo o Espiritismo, onde este relata que uma das causas da tristeza que se apodera de nossos corações, fazendo com que achemos a vida amarga, é quando o Espírito aspira a liberdade e à felicidade da vida espiritual, mas vendo-se preso ao corpo, fica frustrado, cai no desencorajamento e transmite para o corpo apatia e o abatimento, sentindo-se assim muito infeliz. Para François Geneve a causa inicial da depressão, é esta ânsia frustrada de felicidade e liberdade almejada pelo espírito encarnado, acrescido das atribulações da vida com suas dificuldades de relacionamento interpessoal, intensificada pelas influências negativas de espíritos encarnados e desencarnados.

Também a solidão e o isolamento, são também causas profundas de desespero emocional que nos transportam para as depressões. E isso nos dias de hoje, é um grande mal que assola as nossas sociedades, onde todos vivem só para si mesmos.


A depressão, trata-se, pois é um sintoma que nos diz que não nos estamos a amar como deveríamos. E um dos caminhos para sairmos dela, é preencher este vazio com a recuperação da auto-estima e do amor em todos os sentidos, seja ele próprio e ao próximo. Mais uma vez, devemos de compreender que o Amor é a chave de toda a nossa existência e é dele e nele que devemos de viver. Deus é amor, e vivendo no amor, vivemos em Deus e com Deus.
A espiritualidade, também exerce um papel fundamental no equilíbrio mental e emocional das pessoas. Uma mente fixa no materialismo da vida, acaba rapidamente por cair nas malhas das tristezas, do sofrimento e de todo um conjunto de sentimentos interiores que a levam a estados depressivos. Pois sem nada mais para se agarrar na vida do que aos bens materiais fúteis, rapidamente o espírito cai sobre si mesmo em drama de tristezas, pois vê que a felicidade que tanto deseja, não a encontra onde julgava.

As melhores curas para a depressão passam por falar. Sim, falar. E quando digo falar, falo de conversar com um amigo, desabafar. Libertar as ânsias do espírito que deseja liberdade, pois as prisões mentais a que está sujeito, não lhe permitem evoluir e ser mais feliz.

A oração é fundamental. Orar é virar-se para Deus, é falar com Deus. Rogar-lhe ajuda para que nos liberte dos pensamentos inferiores que nos inundam e atraem até nós tanto e tantos espíritos sofredores que se afinizam com o nosso estado de alma.

O Passe, é também outra boa forma de canalização de boas energias vindas do alto, vindas do universo de paz e amor.

Resumindo, as depressões tratam-se com as terapias do espírito e não, somente do corpo, pois é no espírito e na nossa mente que residem os nossos problemas, as nossas desilusões, frustrações e tudo o mais que nos transporta para estados depressivos.

Termino com uma frase maravilhosa de Chico Xavier:

"Na vida, não vale tanto o que temos, nem tanto importa o que somos.  Vale o que realizamos com aquilo que possuímos e, acima de tudo, importa o que fazemos de nós!"


Obrigado

quinta-feira, 25 de julho de 2013

A fé do Homem

Que este seja um momento de paz interior, para que nos seja possível reflectir um pouco, sobre tudo aquilo que é importante para todos nós.

Hoje, vou falar-vos de alguns aspectos relativos à Fé.

Começaria então, deixando no ar duas questões:

Acham-se pessoas de fé?
Acham a vossa fé grande o suficiente?

Creio que muitos irão responder que sim, pois sobre a fé podemos fazer alguns raciocínios rápidos e muito simples.
A fé significa tomar como verdade, uma convicção própria, sem qualquer critério objectivo ou que seja possível comprovar-se. Na prática, a fé é por si um acto de confiança isolado. Por outras palavras, acreditamos em algo porque o queremos.
Na condição de cristãos, acreditamos em Deus, logo temos fé. Acreditamos em Jesus, logo temos fé. Acreditamos na vida depois da morte, logo temos fé. Acreditamos na felicidade, logo temos fé. Acreditamos naquilo que não se vê, logo temos fé. Isto só para citar alguns exemplos. Mas atenção que este tipo de fé cujos exemplos apresentei anteriormente, são designados por fé divina. Porque também existe outro tipo de fé, chamada de fé humana. Mas quanto a isso, já lá vamos.

E volto às minhas questões iniciais:

Mas será que temos mesmo realmente fé?
E mesmo sabendo que é difícil poder medir-se, qual será o tamanho da nossa fé?
Já agora, qual é o tipo de fé que temos?

É isso mesmo que vamos tentar descobrir hoje…

Posso desde já adiantar-vos que talvez uma grande parte dos que estão nesta sala e até lá fora, não fazem a mínima ideia sobre a fé que possuem. É possível que julguem injustas as minhas palavras, pois afinal, quem sou eu para dizer que alguém tem ou não fé?! É verdade, mas eu não vou, nem estou para julgar ninguém, isso não me cabe a mim. Será cada um por si a fazê-lo.

Muitas são as vezes, em que depositamos mais a nossa fé naquilo que nos afasta mais da felicidade do que aproxima.
No evangelho segundo o espiritismo, encontramos mais uma explicação sobre a fé:

“ A fé é humana ou divina, segundo a aplicação que o homem der às suas faculdades, em relação às necessidades terrenas ou às suas aspirações celestes e futuras. “

Esta frase, é a explicação dos dois tipos de fé que vos falava há pouco; a fé divina e a fé humana. Por outras palavras, cada um de nós vive e exercita-se moralmente nestes dois tipos de fé completamente diferentes. A fé divina, é o tipo de fé que eleva o Homem aos patamares da espiritualidade, em que todas as suas acções são de Amor a si mesmo e ao próximo, almejando com isso atingir a felicidade.
Por outro lado, todo o Homem que vive desejando valores e conquistas materiais, somente exercita a sua fé humana. Este tipo de fé vai-se revelando efémera à medida que o Homem descobre a verdadeira essência da sua vida e vai percebendo que tudo o que é material à sua volta, não está mais do que ao seu dispor por algum tempo. Tanto tempo quanto Deus lho permita.

Nós aqui, tentamos caminhar e evoluir no plano divino e espiritual. Por esse facto, necessitamos por vezes de nos colocar à prova no que respeita a nossa fé.
Assim sendo, apresento-vos agora uma passagem do Evangelho de S. Mateus, onde Jesus disse um dia aos seus discípulos, “Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele há-de passar, e nada vos será impossível.“

E nós, será que conseguimos mover os nossos “montes”?
Teremos nós fé suficiente para isso?

Agora e tal como Jesus se referia naquela época, os montes não são mais do que as dificuldades da nossa vida, os problemas e contratempos que vamos enfrentando. E é mesmo perante as nossas dificuldades que conseguimos medir a nossa fé.

Pessoalmente, cresci no Cristianismo, acredito em Deus, mas nunca o vi em pessoa, tão pouco Jesus Cristo. Acredito nas palavras e mensagens de Jesus Cristo, nos seus ensinamentos. Acredito naquilo que não vejo, mas sinto. Acredito naquilo que os meus olhos não veem mas o meu coração vê e sente. Isto e muito mais, faz de mim um homem de fé. Sem dúvida.

Mas vamos ver agora uma realidade um pouco diferente, mesmo para quem se diz portador de muita fé…

Dou-vos alguns exemplos…

Imaginem que de uma hora para a outra, ficam desempregados e sem fontes de rendimento.
Será que temos fé suficiente para acreditar que irão encontrar outro emprego e estabilizar de novo as vossas vidas?

Imaginem que o médico nos diz que possuímos uma doença muito grave.
Será que possuímos fé suficiente para acreditar que iremos dar a volta à situação e conseguirmos curar-nos?

Imaginem que perdem um membro importante do corpo.
Será que temos fé suficiente para ultrapassar esse problema e continuar a viver o mais normalmente possível como se aquele membro ainda lá estivesse?

Ou então, dentro do mais simples, quando estamos com problemas ou a atravessar um momento menos bom na vida, a nossa fé é suficiente para nos dar força para acreditar que tudo se irá resolver e os problemas serão ultrapassados.

Sabemos que existem muitas pessoas com níveis de fé muito fortes, que conseguem ultrapassar grandes contrariedades e problemas graves. Muitos chamam a isso milagres, mas bem sabemos que os milagres não existem. Tudo na vida tem um propósito, nada acontece por acaso e sem o consentimento de Deus. Um dos nossos grandes problemas de compreensão, é que não somos capazes de perceber que do problema ou contratempo, nasce sempre um grande bem, uma grande lição. Uma lição que precisamos de aprender para atingir um bem maior, para nos ajudar a evoluir. E relembro agora o facto que de quando não aprendemos pelo amor, aprendemos pela dor.
Mas é lógico que a nossa condição demasiado humana e pouco espiritual, não consegue perceber isso e vemos as contrariedades da nossa vida como castigos, penitências e não lições úteis. Sem dúvida, que não é simples para nós aceitar as contrariedades que surgem nas nossas vidas.

Mas porque é que perante os problemas fraquejamos tanto e, por vezes, de uma forma tão súbita?


Porque à luz das palavras de Jesus, a nossa fé nem sequer é do tamanho de um minúsculo grão de mostarda. Muitas pessoas que se dizem portadores de grande fé, na verdade só a têm quando a vida lhes corre bem. Mas quando as circunstâncias da vida mudam, normalmente para pior, aí já perdem rapidamente toda a fé que tinham e não fazem mais do que vitimizarem-se e procurar a piedade dos outros. A fé, fugiu-lhes muito rapidamente.

Para nós, é fácil dizermos que temos fé, que acreditamos que Deus está sempre presente, que nos ama e nos ajuda sempre que precisamos. Disto não podemos nem devemos de duvidar, pois mesmo quando nos achamos sós, na verdade nunca estamos. Mesmo quando as coisas não nos correm como desejaríamos, nunca deixamos de ter Deus ao nosso lado.

Por muito que nos custe, e posso dizer-vos que não é fácil fazer isso, devemos de ter fé, alimentar diariamente a nossa fé, como se de uma planta se tratasse que deve de ser alimentada, cuidada e regada. O alimento da nossa fé, passa pelo Amor. O amor a nós próprios e ao próximo. Passa pela prática do bem e da caridade. Passa pela leitura do evangelho e das mensagens de Bem que Jesus Cristo nos deixou. O alimento da nossa fé, passa pela mudança e reforma interior que em cada um de nós deve de ser feita.

No fundo, a nossa realidade é que muito daquilo que acreditamos ser a nossa fé, acaba muito mais baseada numa fé humana do que divina, apesar de muitas vezes, confundirmos ambas as coisas.
Quem é possuidor de fé divina, dificilmente vacila perante as dificuldades da vida, sejam elas de que tipo for, pois munidos de fé, nada tem a importância que materialmente se atribui às coisas. A fé divina mune o Homem de forças que ultrapassam muito a sua esfera corpórea, isto é, as suas limitadas capacidades humanas. É uma fé alimentada pelo amor divino.

Há pouco falei-vos em milagres, pois bem, se vos disse que os milagres não existem, a explicação para isso é somente uma: os chamados milagres não são mais que o “trabalho” realizado pela fé divina. Não são mais do que a crença em Deus como ser omnipotente capaz de fazer tudo o que está para lá do nossa alcance e por isso mesmo, muitos acontecimentos que julgamos serem obra do divino, não são mais do que o resultado do poder da nossa fé. Chamem-lhe milagres se quiserem…

A fé material não vence doenças nem adversidades morais, somente se centra nos desejos materialistas mais imediatos.

A fé humana só serve para alimentar as aspirações materialistas da nossa existência, fazendo-nos acreditar que as conquistas materiais desejadas e atingidas a seu tempo, são bons frutos para nós.
Com o tempo, vamos descobrindo que essa realidade mental que fomos construindo e idealizando, não por culpa nossa, mas sim por culpa das sociedades em que vivemos, não é mais do que a construção de uma vida irreal e que só se traduz em provas nem sempre fáceis de superar.

Alimentemos a nossa fé, cuidemos dela… só assim conseguiremos chegar à felicidade que tanto ambicionamos.


Obrigado,